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Pondé: 'IA fará parte do nosso círculo de afetos em breve'

Filosofo fez palestra na Rio Innovation Week e lembrou que, desde a Grécia Antiga, não existe uma única verdade

13 ago 2025 - 21h48
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O filósofo Luiz Felipe Pondé acredita que a Inteligência Artificial deve aprofundar ainda mais a chamada disputa de narrativas, ampliando as incertezas e impactando a saúde mental da população. Na mesa "Ética e Filosofia", na Rio Innovation Week, Pondé afirmou que há pelo menos 2.500 anos, desde a Grécia Antiga, os filósofos sabem que não existe uma única verdade (ou narrativa). Entretanto, as redes sociais e, agora a IA, amplificaram exponencialmente a questão.

"Meus alunos e também os jornalistas me perguntam muito sobre como vamos viver num mundo em que, cada vez mais, não existe uma verdade, mas sim múltiplas narrativas", contou o filósofo.

O filósofo Luiz Felipe Pondé participou da mesa "Ética e Filosofia", na Rio Innovation Week: "Desde a Grécia antiga sabemos que não há uma única verdade".
O filósofo Luiz Felipe Pondé participou da mesa "Ética e Filosofia", na Rio Innovation Week: "Desde a Grécia antiga sabemos que não há uma única verdade".
Foto: Pedro Kirilos/Estadão / Estadão

"Mas na filosofia já se sabe, desde a Grécia Antiga, que a verdade depende do ponto de vista, da posição social, do viés político, do tempo em que se vive. E, se alguém acha que sabe qual é a verdade, é porque essa pessoa leu pouco. A convicção é um luxo de quem não se aprofunda em coisa nenhuma. Quanto mais uma pessoa amplia o seu repertório, mais ela percebe as contradições, variações, teorias em conflito, narrativas completamente distintas."

Na análise de Pondé, a IA deve ajudar a resolver vários problemas, mas, certamente, vai ampliar a desorientação em relação ao conteúdo e a insegurança em relação às fontes. Entretanto, ele lembrou, citando um levantamento feito pelo jornal The Washington Post, os dois maiores usos da IA atualmente são, nesta ordem, fazer terapia e namorar.

"A IA vai fazer parte do nosso círculo de afetos logo, logo", disse.

Pondé citou Sócrates ("quanto mais sei, mais sei que nada sei") e também Protágoras ("o homem é a medida de todas as coisas"), mostrando que são os seres humanos que determinam o que entendem como "verdade". Dando um salto temporal, o filósofo citou Michel Foucault, segundo o qual, aquilo em que se acredita como verdade absoluta é, em geral, uma convergência de hipóteses, teorias e crenças vinculadas a estruturas de poder.

"O problema é que esse tipo de consciência epistemológica do problema do conhecimento (tudo depende de quem conta, de como conta, de quem fala melhor ou pior etc) geralmente ficava restrita ali entre aquelas cinco pessoas que estudavam aquele negócio, um povo estranho, que sai pouco", brincou Pondé.

"E, mesmo depois, com a imprensa, quantas pessoas liam jornal, viam notícias na televisão? Milhares? Mas aí vieram as redes sociais e as pessoas comuns, digamos assim, começaram a ser expostas sistematicamente a isso, múltiplas narrativas, pontos de vista, fake news, e, tudo indica que, com a IA, isso vai dar um salto quântico."

Para Pondé, um dos grandes desafios dos tempos atuais, que alguns chamam de era da incerteza, é como garantir a saúde mental da população diante do fato de que "não é possível ter certeza de nada" e de que "é difícil saber se o que você sabe é verdade ou não".

"O fato de não se poder ter certeza de coisa nenhuma gera desconfiança, desconforto, desorientação e isso não faz bem para a saúde, inclusive mental", afirmou. "A saúde mental é a grande fronteira do século XXI, uma commodity gigantesca."

Estadão
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