Cientistas definem 60% do genoma do homem de Neandertal
Ligia Hougland
Direto de Washington
O Instituto Max Plank para Antropologia Evolucionária, em Leipzig, na Alemanha, e a 454 Life Sciences Corporation, uma empresa da Roche, localizada em Branford, Connecticut, anunciaram nesta quinta-feira, na inauguração da conferência anual da Associação Americana para a Promoção da Ciência (AAAS), realizada em Chicago, que completaram a primeira versão do seqüenciamento do genoma do homem de Neandertal. Segundo os cientistas, esta versão compõem mais de 60% do total de informação hereditária da espécie.
O projeto foi financiado pela Sociedade Max Planck, encabeçada pelo professor Svante Pääblo, diretor do Departamento de Antropologia Genética Evolucionária do instituto.
O professor e seus colegas seqüenciaram mais de um bilhão de fragmentos de DNA extraídos de três fósseis do homem de Neandertal croata usando métodos inovadores desenvolvidos especificamente para o projeto.
A seqüência do genoma do homem de Neandertal esclarecerá o relacionamento evolucionário entre humanos e neandertais, bem como ajudará a identificar as mudanças genéticas que possibilitaram que, há 100 mil anos, os humanos modernos saíssem da África e rapidamente se espalhassem pelo mundo.
Os homens de Neandertal são os parentes mais próximos dos humanos atuais. Eles viveram na Europa e em partes da Ásia, até que, há cerca de 30 mil anos, se tornaram extintos.
Há mais de um século, paleontólogos e antropólogos têm se empenhado em descobrir o relacionamento evolucionário do homem de Neandertal com os humanos modernos.
Pääbo, um pioneiro no campo de pesquisa de DNA antigo, fez a primeira contribuição ao entendimento do nosso relacionamento genético com o homem de Neandertal quando, em 1997, fez o seqüenciamento do DNA mitocondrial da espécie.
Agora, Pääbo e a 454 Life Sciences anunciam um novo marco da pesquisa sobre o homem de Neandertal. A parceria fez o seqüenciamento de mais de três bilhões de bases de DNA do homem de Neandertal, gerando a primeira versão da seqüência do genoma completo da espécie. Combinados, esses fragmentos compõem mais de 60% do genoma total do homem de Neandertal.
A partir de agora, as seqüências de DNA serão comparadas aos seqüenciamentos anteriormente realizados dos genomas de humanos e de chimpanzés a fim de chegar a conclusões iniciais de como o genoma dessa espécie extinta é diferente daquele dos humanos modernos.
Hoje, Pääbo e outros cientistas do instituto, Dr. Michael Egholm, vice-presidente de pesquisa e tecnologia da 454 Life Sciences, além de paleontólogos e antropólogos da Croácia, Espanha e Alemanha que contribuíram com o projeto, apresentaram detalhes desta conquista e responderam a perguntas sobre suas descobertasem em uma coletiva com a imprensa realizada simultaneamente na conferência da AAAS, em Chicago, e em Leipzig.
O fórum anual da AAAS é considerado o mais importante evento mundial no campo de pesquisa evolucionária e de questões científicas e da sociedade. O evento atrairá de 6 mil a 8 mil participantes de mais de 50 países.