Povoada: Projeto de moradora da Rocinha une educação e arte

Projeto leva arte como forma de educação para crianças em favelas da zona sul do Rio de Janeiro

8 nov 2022 - 05h00
Crianças participando de oficina
Crianças participando de oficina
Foto: Arquivo pessoal

A artista visual Bianca Sartes, de 33 anos, moradora da Rocinha, idealizou o projeto Povoada, que acontece em comunidades da zona sul do Rio de Janeiro como Rocinha, Tabajara e Morro dos Cabritos, em espaços cedidos.

O projeto se dá através de oficinas de artes visuais, que recebem por volta de 35 crianças e tem duração de 6 meses cada ciclo. Ao final, há uma exposição com as obras realizadas. Através da sua história de vida e do trabalho pela conscientização das crianças nas favelas, por meio da arte, Bianca foi premiada com a medalha Dandara na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, neste ano.

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Segundo Bianca, o público alvo das oficinas são crianças que estão ociosas nas vielas das favelas, e o propósito do projeto não é tirá-las da favela, mas conscientizá-las de onde moram, de quem são e das mudanças que podem fazer dentro da sua comunidade, “porque estimular que o jovem favelado saia da favela só vai deixar ela mais carente”, diz. “Agora, estimular que o jovem favelado cresça, se conscientize, saiba seus deveres, seus direitos, seu poder, que mude a favela, isso muda história, muda todo um sistema”.

A artista conta que teve uma infância e adolescência muito difíceis, saindo de casa aos 15 anos, após sofrer com assédio e racismo de sua família. Ela foi acolhida por pessoas da Rocinha, que abriam as portas e davam comida, e por projetos sociais que faziam a ensinaram a ler e escrever.

Crianças em uma oficina de pintura facial
Foto: Arquivo pessoal

Para Bianca, o Povoada é uma forma de retribuir toda ajuda que recebeu de outros projetos quando era mais jovem. “A minha inspiração foi isso: poder ajudar crianças que estejam passando pelas coisas que passei quando também era criança, e apresentar a arte e a conscientização como forma de escape, como forma de solução, de esperança. Aqui na minha turma, na Rocinha, já presenciei crianças que vieram falar de casos que já vivi e isso me trouxe espanto, mas fiquei feliz por estar lá e poder ajudar”.

A idealizadora conta que o projeto enfrenta dificuldades e que é difícil tocar um projeto social nas periferias por não ter verba. Para que ocorram as oficinas, além de espaço, já que não tem uma sede, é primordial que tenha lanche e o material para a arte, que geralmente são doações de amigos das redes sociais e pessoas que apadrinham o projeto.

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“É um trabalho de formiguinha, de verdade. Mas acho que é um trabalho necessário, porque a gente tem que começar a fazer onde a gente tá. Não adianta querer mudar o mundo pensando na multidão, temos que contribuir com a mudança de indivíduos, mudança de vidas. Acredito, verdadeiramente, que quem cuida de crianças muda vidas, então, é difícil mas vale a pena”.

Crianças acolhidas pelo projeto produzindo obras de arte
Foto: Arquivo pessoal

Apesar das adversidades, o projeto possui grandes planos para o futuro. A meta é também oferecer reforço escolar e abrir espaço para as crianças surdas, levando educação em língua de sinais, tanto para as crianças surdas quanto para as ouvintes.

Para acompanhar e apoiar o projeto povoada, siga no Instagram @povoada.art.

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