Jovem da periferia do Recife vence Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger

Mulher negra celebra o segundo prêmio nacional com série de 19 fotos que homenageia os Pretos Velhos da Jurema Sagrada

10 dez 2025 - 09h19
Resumo
A jovem fotógrafa Uenni, da periferia do Recife, conquistou o Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger com sua série sobre os Pretos Velhos da Jurema Sagrada, destacando a preservação das tradições e memórias culturais.
Uenni se interessa pela documentação das tradições, das pessoas e do tempo dentro desses espaços sagrados.
Uenni se interessa pela documentação das tradições, das pessoas e do tempo dentro desses espaços sagrados.
Foto: Rebeca Andrade

Da periferia de Santo Amaro, no Recife, a fotógrafa Uenni, 27 anos, segue rompendo barreiras. Mulher negra, sem formação acadêmica formal, neta e filha de trabalhadoras domésticas, ela conquistou o Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger, um dos mais prestigiosos do país – em janeiro, ela venceu o Prêmio Mário de Andrade de Fotografias Etnográficas.

Wenny Mirielle Batista Misael, que usa o codinome artístico de Uenni, foi premiada na categoria Ancestralidades e Representações com a série Canjerê dos Pretos Velhos na Jurema Sagrada, que reúne 19 fotografias produzidas entre 2022 e 2025.

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Dessas, dez foram premiadas anteriormente no Mário de Andrade, e outras nove imagens, inéditas – feitas em 2022, 2023 e 2025 – foram incorporadas para ampliar o retrato sensível e profundo de suas vivências no Terreiro Ilê Axé Oxalá Talabi, localizado no território afro-indígena de Paratibe, em Paulista (PE).

As fotos foram feitas no Terreiro Ilê Axé Oxalá Talabi, localizado no território afro-indígena de Paratibe, em Paulista (PE).
Foto: Uenni

Fotógrafa foi inspirada pelas fotos da avó

A paixão de Uenni pela fotografia nasce da memória da avó, uma mulher que, mesmo com poucos recursos, sempre registrou a história da família. Com o tempo, ela percebeu que esses registros estavam se perdendo, seja pela dificuldade da avó em migrar para tecnologias digitais, seja pela fragilidade dos DVDs onde muitas fotos ficaram guardadas.

Esse desejo de preservar a memória familiar, especialmente diante da falta de imagens de antepassados, fez a fotografia se tornar para ela uma forma de continuidade e resgate. O impulso para fotografar terreiros surgiu quando encontrou fotos antigas feitas por sua avó em um terreiro de Jurema, na década de 1990.

A partir desse reencontro, Uenni percebeu que seu caminho artístico estava ali, na documentação das tradições, das pessoas e do tempo dentro desses espaços sagrados. Inicialmente fotografou de forma profissional, mas logo entendeu que seu trabalho precisava ser construído com calma, sem pressa e sem depender de pagamento, com um acompanhamento verdadeiro das transformações, das histórias e das relações dentro do terreiro.

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Para Uenni, trabalho precisa ser construído com um acompanhamento das transformações, das histórias e das relações do terreiro.
Foto: Uenni

Prêmios dão visibilidade ao trabalho de Uenni

“Este trabalho acompanha a história de um terreiro, de um culto, de uma tradição, sem pressa. É assim que gosto de trabalhar, construindo trabalhos mais sólidos ao longo do tempo, sem determinar um fim. Desde 2022, percebo o crescimento do espaço e das pessoas, crianças que eram crianças e hoje são pré-adolescentes. É isso que considero mais interessante no meu trabalho”, afirma.

Com o prêmio, Uenni passa a integrar a Exposição Coletiva e o Catálogo da 10ª edição do Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger. No último ano, a fotógrafa também ampliou a circulação de seu trabalho: foi convidada a participar da Exposição Coletiva do Prêmio Mário de Andrade, no Rio de Janeiro.

E não parou por aí. Ela também expôs sua obra em uma mostra no Brejo da Madre de Deus, no Agreste pernambucano, e ministrou uma formação audiovisual em terras indígenas no Acre. Lá, conviveu e trocou saberes com povos originários, uma experiência que atravessa e fortalece sua produção e sua pesquisa de caráter antropológico.

Fonte: Visão do Corre
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