Congelar comida ou se adaptar? Como é ser vegano fora de casa

Dizem que a maior dificuldade encontrar ao abandonar produtos de origem animal é estar fora de casa, será real?

4 out 2022 - 15h16
(atualizado às 22h16)
Foto: CanvaPro

Era final de 2015 e eu estava há 6 meses sem consumir nada de origem animal, em meio a uma transição, um momento que eu estava entendendo o que era isso, não fazia a mínima ideia do que fazer em diversos casos e não tinha absolutamente ninguém falando de veganismo através da ótica da classe trabalhadora ou periférica. Tava descobrindo um mundo ali.

Eu trabalhava como vendedor de tênis em uma loja de shopping e a maior dificuldade que achei que teria era na hora de almoçar. Nas primeiras semanas, como ainda não tinha informação e dinheiro, a única ideia que tive foi ir até um mercado no shopping e comprar 12 bananas para almoçar, gastei R$ 3,00 na época e até fiquei satisfeito, mas não era isso que queria.

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Vindo da de onde eu venho, nunca imaginei que um dia estaria almoçando uma penca de banana porque eu não queria consumir alimentos de origem animal. Naquele momento, qualquer coisa era melhor que carne, leite, ovos e derivados. 

Com o passar do tempo descobri uma cozinha coletiva no shopping que tinha micro-ondas e comecei a levar marmitas, esquentava a marmita e almoçava, tranquilo, comia o que eu fazia, não tinha problema nenhum.

Em vários momentos tive que trabalhar 12 horas seguidas na loja para bater meta, e isso me impossibilitava de fazer comida para levar. Como não tinha ninguém para cozinhar para mim e eu não tinha como comprar marmita congelada, o tempo era precioso e em diversas situações me via sem nada para comer. 

Num país como o Brasil que as periferias viajam pelo menos 50 minutos para ir trabalhar nos centros com jornadas trabalhistas exaustivas, o tempo é o recurso mais escasso que temos. Chegamos em casa após passar horas dentro do transporte público e não temos forças para preparar comidas, congelar ou organizar a semana por um estilo de vida mais saudável como é amplamente divulgado nas redes. Além do emprego que já drena nossa energia, temos as responsabilidades com as tarefas do lar, e em muitos casos filhos, estudos e ainda ficamos entre descansar ou fazê-las. 

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Cresci me alimentando com arroz, feijão, salada e legumes, então quando eu não levava marmita comecei a andar na praça de alimentação e buscar alternativas sem nada de origem animal, trocava ideia com as pessoas que trabalhavam nos restaurantes, fui principalmente em ''self-service'' e descobri que era possível comer dezenas de preparos sem nada de origem animal, muita comida mesmo e com um preço mais acessível, muito mais barato. Até porque eu não tinha condições de pagar mais de R $20 em um prato.

Esse foi um dos momentos em que descobri que ao tirar a carne e demais produtos de origem animal, o prato fica mais saudável e mais barato. É claro que em alguns lugares o feijão tinha bacon e não tinha outra opção (era raro), mas opção de restaurante não faltava, e sempre tinha alternativas (e nem era em restaurante específico não), era self-service popular mesmo e que servia PF. 

Poderíamos encontrar um monte de desculpas para continuar comendo alimentos de origem animal, mas definitivamente não queremos e não podemos continuar colaborando com essa indústria que explora e usa animais inocentes e indefesos.

Se liga:

Tem algumas regiões no país que apesar de raro, realmente não tem absolutamente nada para comer em lugar nenhum, tudo vai carne, leite, ovos e derivados. Nessas regiões a pessoa tem que se adaptar a essa realidade e tentar entender como evitar produtos e alimentos de origem animal estando fora de casa ou até mesmo na própria casa. 

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Como já comentamos antes, moramos e estivemos em diversas partes do Brasil, de interior com 6 mil habitantes até capital com mais de 10 milhões, e nunca tive problemas para se alimentar ou conseguir encontrar produtos não testados em animais, inclusive em Juazeiro do Norte, no interior do Ceará foi onde me alimentei melhor e a cidade tinha mais variedade e preço acessível.

Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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