Venda de salgados cresce 10% ao ano no Brasil, segundo a indústria, e relatos de quem faz coxinha confirmam a tendência. Ela passou de salgado popular a estrela de cafés e reuniões de trabalho, traduzindo o comportamento de consumo que busca por experiências simples, com sabor de identidade brasileira.
A percepção de salgadeiras e dados da indústria revelam um movimento que chegou até os cafés chiques de São Paulo: a coxinha vem substituindo o pão de queijo. Ela deixou de ser apenas um salgado popular e passou a ocupar espaço de destaque em cafeterias gourmet, eventos corporativos e reuniões de negócios, simbolizando uma certa sofisticação do simples.
“Eu trabalho com salgados por encomenda tem muitos anos, e nos eventos corporativos, pedem muitos salgados: pedem pão de queijo também, mas salgados andam pedindo muito, e a coxinha é o que mais tem pedido”, conta Maria do Carmo de Almeida, 72 anos, salgadeira há 35 anos na Vila Ema, zona leste de São Paulo.
Ela tem a ajuda da filha mais velha, confeiteira, que recebe pedidos e repassa à mãe. A filha mais nova ajuda a empanar as coxinhas. Dona Maria do Carmo cobra R$ 90,00 o cento do salgado e relata que “no final do ano, as empresas costumam pedir mais, os pedidos chegam a ser mais de 500 salgados, e a coxinha é o que tem a maior quantidade”.
Dados da indústria mostram crescimento na venda de coxinhas
Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA), o mercado de salgados registrou crescimento de 10% no último ano, enquanto o segmento de snacks (os populares “salgadinhos”) deve manter alta anual de 6,49%.
“A coxinha sempre teve um poder emocional muito forte, porque representa memória e aconchego. O que muda é o cenário: ela migrou da vitrine da padaria de bairro para espaços antes ocupados por produtos mais tradicionais, como o pão de queijo”, explica Pablo Farias, CEO da rede Loucos por Coxinha.
O fenômeno reflete uma tendência mais ampla da microeconomia brasileira: a valorização de negócios que apostam na nostalgia, simplicidade e identidade cultural. Em um mercado que movimenta mais de R$ 100 bilhões por ano, segundo o Sebrae, produtos com apelo emocional têm conquistado espaço mesmo em períodos de instabilidade.
Coxinha foi inventada em cidade com nome de fruta
As fontes sobre a história da coxinha reconhecem a origem nobre do salgado, que se tornou popular e agora volta a enobrecer. Coxinha se tornou até sinônimo pejorativo de “policial”, em alusão aos agentes acostumados a comerem o salgado em bares e padarias, o que desconsidera um aspecto insalubre do trabalho policial, a má alimentação.
A coxinha teria sido inventada no final do século 19 na cozinha real da Fazenda Morro Azul, em Limeira, interior paulista. Hospedada na propriedade, a Princesa Isabel queria servir ao filho Pedro de Alcântara uma comida parecida com as coxas de frango que adorava. Provavelmente criada por uma cozinheira negra, a coxinha caiu no gosto popular.
A família de Dom Pedro II ficou hospedada duas vezes na Fazenda Morro Azul. Aproveitando a tradição gastronômica, a prefeitura da cidade de Limeira promove a tradicional Festa da Coxinha. Em 2022, reuniu 50 mil pessoas em quatro dias de evento, vendendo exatas 256.802 coxinhas.