Coxinha é o novo pão de queijo? Salgado ganha espaço onde reinava o quitute mineiro

Salgado migrou das estufas dos bares e padarias de bairro para espaços antes ocupados por produtos tidos como mais nobres

26 nov 2025 - 07h24
Resumo
Venda de salgados cresce 10% ao ano no Brasil, segundo a indústria, e relatos de quem faz coxinha confirmam a tendência. Ela passou de salgado popular a estrela de cafés e reuniões de trabalho, traduzindo o comportamento de consumo que busca por experiências simples, com sabor de identidade brasileira.
Coxinha do Bar Esperança, na Favela Parque União, Complexo da Maré, zona norte do Rio de Janeiro. Salgado concorre em premiações.
Coxinha do Bar Esperança, na Favela Parque União, Complexo da Maré, zona norte do Rio de Janeiro. Salgado concorre em premiações.
Foto: Tânia Rego/AB

A percepção de salgadeiras e dados da indústria revelam um movimento que chegou até os cafés chiques de São Paulo: a coxinha vem substituindo o pão de queijo. Ela deixou de ser apenas um salgado popular e passou a ocupar espaço de destaque em cafeterias gourmet, eventos corporativos e reuniões de negócios, simbolizando uma certa sofisticação do simples.

“Eu trabalho com salgados por encomenda tem muitos anos, e nos eventos corporativos, pedem muitos salgados: pedem pão de queijo também, mas salgados andam pedindo muito, e a coxinha é o que mais tem pedido”, conta Maria do Carmo de Almeida, 72 anos, salgadeira há 35 anos na Vila Ema, zona leste de São Paulo.

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Ela tem a ajuda da filha mais velha, confeiteira, que recebe pedidos e repassa à mãe. A filha mais nova ajuda a empanar as coxinhas. Dona Maria do Carmo cobra R$ 90,00 o cento do salgado e relata que “no final do ano, as empresas costumam pedir mais, os pedidos chegam a ser mais de 500 salgados, e a coxinha é o que tem a maior quantidade”.

Salgadeira Maria do Carmo de Almeida, 72 anos, há 35 faz coxinhas e outros salgados na Vila Ema, zona leste de São Paulo.
Foto: Arquivo pessoal

Dados da indústria mostram crescimento na venda de coxinhas

Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA), o mercado de salgados registrou crescimento de 10% no último ano, enquanto o segmento de snacks (os populares “salgadinhos”) deve manter alta anual de 6,49%.

“A coxinha sempre teve um poder emocional muito forte, porque representa memória e aconchego. O que muda é o cenário: ela migrou da vitrine da padaria de bairro para espaços antes ocupados por produtos mais tradicionais, como o pão de queijo”, explica Pablo Farias, CEO da rede Loucos por Coxinha.

O fenômeno reflete uma tendência mais ampla da microeconomia brasileira: a valorização de negócios que apostam na nostalgia, simplicidade e identidade cultural. Em um mercado que movimenta mais de R$ 100 bilhões por ano, segundo o Sebrae, produtos com apelo emocional têm conquistado espaço mesmo em períodos de instabilidade.

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Festa da Coxinha, em Limeira, interior paulista, onde a coxinha teria sido inventada para agradar o filho da Princesa Isabel.
Foto: Prefeitura de Limeira

Coxinha foi inventada em cidade com nome de fruta

As fontes sobre a história da coxinha reconhecem a origem nobre do salgado, que se tornou popular e agora volta a enobrecer. Coxinha se tornou até sinônimo pejorativo de “policial”, em alusão aos agentes acostumados a comerem o salgado em bares e padarias, o que desconsidera um aspecto insalubre do trabalho policial, a má alimentação.

A coxinha teria sido inventada no final do século 19 na cozinha real da Fazenda Morro Azul, em Limeira, interior paulista. Hospedada na propriedade, a Princesa Isabel queria servir ao filho Pedro de Alcântara uma comida parecida com as coxas de frango que adorava. Provavelmente criada por uma cozinheira negra, a coxinha caiu no gosto popular.

A família de Dom Pedro II ficou hospedada duas vezes na Fazenda Morro Azul. Aproveitando a tradição gastronômica, a prefeitura da cidade de Limeira promove a tradicional Festa da Coxinha. Em 2022, reuniu 50 mil pessoas em quatro dias de evento, vendendo exatas 256.802 coxinhas.

Fonte: Visão do Corre
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