Uso prolongado do anticoncepcional não causa infertilidade

Se não há mais o uso e a mulher não consegue engravidar, a causa deve ser identificada por um especialista

19 ago 2025 - 05h59
Resumo
O uso prolongado do anticoncepcional não causa infertilidade, mas pode mascarar condições pré-existentes; se a gravidez não ocorrer após um ano sem uso, recomenda-se procurar um especialista.
Foto: Freepik

Apesar da crença popular, o uso prolongado do anticoncepcional não causa infertilidade. “A pílula bloqueia a ovulação de forma temporária. Após encerrar o uso, a ovulação é retomada, mas pode levar algumas semanas ou meses para se regularizar. Algumas mulheres que têm dificuldade para engravidar após suspender o anticoncepcional, em geral, já apresentavam alguma condição anterior, que poderiam levar à infertilidade como endometriose ou baixa reserva ovariana”, explica Nélio Veiga Júnior, ginecologista e obstetra Mestre e Doutor em Tocoginecologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM/UNICAMP). 

“A informação de que a pílula anticoncepcional causa infertilidade é um grande mito, não havendo nenhuma comprovação de que esse medicamento possa reduzir as chances de a mulher engravidar mesmo após a interrupção do uso. A taxa hormonal da pílula é baixa, o que permite ao organismo retornar ao seu estado normal quando a mulher decide interromper o tratamento contraceptivo para engravidar, ainda que tenha usado o medicamento por muitos anos. Tanto é que, quando a pílula não é tomada apenas por alguns dias, a eficácia do método na prevenção da gravidez já diminui significativamente”, afirma Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo.

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De acordo com Nélio, antes de iniciar o anticoncepcional, é essencial uma avaliação clínica, avaliando histórico de saúde pessoal e familiar e alinhar as expectativas da mulher quanto ao tipo de sangramento, possíveis efeitos adversos e desejo da paciente. “O ideal é individualizar o cuidado e reforçar o acompanhamento regular com o ginecologista”, diz o ginecologista e obstetra. “Para o exame clínico, é necessário avaliar pressão arterial e risco cardiovascular (que incluem idade, tabagismo, histórico de trombose), estilo de vida. Exames laboratoriais podem ser necessários a depender das comorbidades da mulher”, comenta Nélio.

E, assim que a pílula deixa de ser tomada, a mulher já tem chances de engravidar. “No entanto, se após um ano da interrupção do uso da pílula você ainda não conseguiu engravidar, o ideal é consultar um ginecologista especialista para avaliar diagnósticos envolvidos com a infertilidade. Ainda que métodos contraceptivos não causem infertilidade, a pílula anticoncepcional pode mascarar os sintomas de doenças que dificultam que a mulher engravide, como a endometriose e a síndrome do ovário policístico. Além disso, outros fatores que podem estar relacionados à infertilidade em mulheres incluem a idade, devido a interrupção da produção de óvulos que ocorre na menopausa, e condições como infecções, malformação uterina e a presença de miomas e pólipos no útero”, destaca Rodrigo. 

“Vale lembrar ainda que o motivo da dificuldade de um casal para engravidar pode não ser a fertilidade da mulher, já que homens também sofrem com problemas nesse quesito. Nos homens, a dificuldade de fecundação está geralmente associada a fatores genéticos, alterações hormonais, exposição a toxinas e condições como hipogonadismo, varicocele, obstrução dos dutos de transporte dos espermatozoides e infecções”, aponta o médico.

A boa notícia é que, para a maioria desses problemas ligados à infertilidade, existem tratamentos que podem fazer com que os casais voltem a ter chances de engravidar. No entanto, cabe ao médico especialista indicar a melhor terapêutica para cada caso, que vai variar de acordo com a causa da infertilidade e pode incluir cirurgias, terapias de reposição hormonal ou simplesmente a programação das relações sexuais. 

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“E, mesmo que não seja possível reverter a causa da infertilidade, o médico poderá recomendar opções de reprodução assistida para os casais que, ainda assim, desejam engravidar, como a fertilização in vitro e a inseminação artificial”, finaliza Rodrigo Rosa.

(*) Homework inspira transformação no mundo do trabalho, nos negócios, na sociedade. É criação da Compasso, agência de conteúdo e conexão.

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