O Brasil registrou queda de 37% no número de transplantes de órgãos realizados entre janeiro e julho deste ano. Em 2019, foram realizados 15.827 transplantes e, no mesmo período em 2020, o número de procedimentos foi de 9.952. As doações de órgãos também tiveram queda de 8,4% em relação aos dados de 2019. Até 31 de julho, existiam 46.181 pacientes aguardando por transplante.
A redução foi consequência da pandemia do coronavírus, de acordo com nota divulgada pelo Ministério da Saúde nesta quinta-feira, 24. Os transplantes de medula óssea, pelo alto impacto imunológico, tiveram redução em 25,82%, passando de 2.130 em 2019 para 1.580, em 2020. Os transplantes de coração caíram 25,10%, passando de 231, em 2019, para 173 neste ano, impactado pela dificuldade de logística, redução no número de doadores e estrutura de UTI livre de covid-19.
O médico explica que o paciente que irá receber um órgão recebe imunossupressores para evitar rejeição, deixando-o mais suscetível a infecções. Como forma de evitar o risco de infecção pela forma mais grave do coronavírus, os hospitais e ambulatórios tiveram que suspender os transplantes.
Atualmente, os procedimentos retomaram com reforço de segurança, como a radiografia dos pulmões do paciente recebedor e doador. Contudo, não na frequência anterior à pandemia. Não há relatos, até o momento, de pacientes infectados durante a realização do transplante.
Aspectos como logística de transporte de equipes, órgãos e tecidos entre Estados foi fortemente impactada pela redução no número de voos comerciais. "O Brasil é um país continental e, por isso, é imprescindível o transporte aéreo do órgão de um paciente do Nordeste para o Sul em tempo hábil", explica Paulo.
O Ministério da Saúde possui parceria firmada com companhias aéreas comerciais e com a Força Aérea Brasileira (FAB). Juntas, elas transportaram 608 órgãos no primeiro semestre de 2020, sendo 497 por voos comerciais e 111 pela FAB. Já no primeiro semestre do ano passado foram transportados 696 órgãos, sendo 626 por voos comerciais e 70 pela FAB.
O ministro da saúde, general Eduardo Pazuello, disse que a retomada dos procedimentos será subsidiada por protocolos rigorosos para garantir a segurança de todos. O Sistema Nacional de Transplantes (SNT) incentivou as equipes de transplantes a acompanhar seus pacientes por meio de consultas em plataforma digital.
A medida visa a minimizar a circulação de pacientes portadores de doenças crônicas graves em unidades hospitalares. Com a instituição deste novo protocolo, pacientes assintomáticos que testaram positivo na chegada ao hospital não puderam realizar o procedimento, o que obrigou as equipes a selecionar outro paciente para o transplante.
Campanha para doação de órgãos
Todos os anos no Dia Nacional de Incentivo à Doação de Órgãos, em 27 de setembro, o Ministério da Saúde lança uma nova campanha de conscientização sobre a importância da doação de órgãos. Este ano, de acordo com a nota divulgada "a campanha se tornou ainda mais necessária, tendo em vista o fato de que o Brasil contabilizava um número crescente de transplantes nos últimos anos". As peças mostram a relação entre a espera da volta da vida ao normal que vivemos antes da pandemia, com a espera de alguém que aguarda pela doação de um órgão ou tecido.
No primeiro semestre de 2020, houve um aumento na taxa de autorização de doação de órgãos de 68,2%. "É fruto de uma sociedade mais consciente do seu papel e da importância do gesto de doar. Por isso, é importante que os parentes e pessoas próximas saibam da vontade do seu familiar em ser doador", ressalta Pazuello em nota.
O médico Paulo Fernandes reforça que o transplante começa pelo doador e por isso é importante conscientizar as famílias. "Temos estrutura e equipes, mas se não houver doação, não tem transplante. E o brasileiro tem uma receptividade muito boa para a doação", destaca.
Programa é garantido por meio do SUS
O Brasil possui o maior programa público de transplante de órgãos, tecidos e células do mundo, que é garantido a toda a população por meio do SUS, responsável pelo financiamento de cerca de 95% dos transplantes no país.
O Sistema Nacional de Transplantes (SNT) é formado pelas 27 Centrais Estaduais de Transplantes; 13 Câmaras Técnicas Nacionais; 594 estabelecimentos de saúde; 1.420 equipes de transplantes; 574 Comissões Intra-hospitalares de Doações e Transplantes; e 68 Organizações de Procura de Órgãos e Tecidos (OPOs).
O Ministério da Saúde repassa recursos para Estados e municípios apoiando a qualificação dos profissionais de saúde envolvidos nos processos de doação e transplante. O orçamento federal para essa área mais que dobrou em 11 anos (2008-2019), passando de R$ 458,4 milhões para R$ R$ 1,089 bilhão.
Os recursos transferidos para o Plano Nacional de Implantação de Organizações de Procura de Órgãos e Tecidos (OPO), no período de 2011 a setembro 2020, foram de R$ 148,1 milhões. O repasse para o custeio do Plano Nacional de Apoio às Centrais de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (PNA-CNCDO), no período de 2014 a setembro 2020, foi de R$ 67,5 milhões.