A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) emitiram uma nota conjunta reforçando que não existe indicação para dosar testosterona em mulheres e alertando para os riscos do uso inadequado do hormônio.
As entidades esclarecem que a única indicação de uso terapêutico de testosterona em mulheres é no tratamento do transtorno do desejo sexual hipoativo (TDSH) pós-menopausa, após diagnóstico clínico e exclusão de outras causas. O grupo reforça que a chamada "deficiência de testosterona" não é reconhecida como causa de baixa libido feminina.
"Antes de qualquer consideração terapêutica, devem ser avaliadas e tratadas as causas frequentes de diminuição da libido, como hipoestrogenismo (baixo nível de estrogênio), síndrome urogenital da menopausa, depressão e outros transtornos psiquiátricos, efeitos de medicamentos (especialmente antidepressivos), obesidade e fatores psicossociais ou de relacionamento conjugal", alerta a nota, que reforça o posicionamento publicado pelas entidades em maio deste ano.
O comunicado também reforça que a menopausa não causa uma queda abrupta de testosterona — a redução ocorre de forma gradual ao longo da vida adulta. Além disso, afirma que "não há valores de referência validados que definam deficiência androgênica feminina passível de tratamento clínico".
Em relação à dosagem de testosterona, ela só é indicada na investigação de quadros de hiperandrogenismo, condição em que há excesso do hormônio, como na síndrome dos ovários policísticos, em tumores ovarianos ou adrenais, na hiperplasia adrenal congênita e na síndrome de Cushing.
Em coluna publicada no Estadão, o educador físico e pesquisador Guilherme Artioli disse que a indicação do hormônio para mulheres beira o charlatanismo. "A justificativa para a prescrição dessas potentes e perigosas drogas é frequentemente feita com base no pedido injustificável de exames. Nesse ponto, destaco a solicitação para a dosagem de testosterona em mulheres - que, naturalmente, será baixa mesmo, já que estamos falando de um hormônio masculino", afirmou.
Riscos
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não aprovou nenhuma formulação de testosterona para mulheres. As sociedades também não recomendam implantes subcutâneos manipulados, devido à falta de garantia sobre a regularidade dos componentes e à ausência de evidências robustas de eficácia e segurança.
As entidades alertam que o uso inadequado de testosterona pode elevar o risco de eventos adversos, como aparecimento de acne, queda de cabelo, crescimento de pelos, aumento do clitóris, engrossamento irreversível da voz, tumores hepáticos, alterações psicológicas, infertilidade e possíveis efeitos cardiovasculares como hipertensão, infarto e acidente vascular cerebral.
O Conselho Federal de Medicina (CFM), inclusive, proíbe o uso do hormônio para fins estéticos, considerando a prática potencialmente danosa quando realizada sem indicação clínica, com base em dosagens isoladas ou para objetivos não terapêuticos.