Para homens e mulheres acima de 50 anos vivendo com HIV, a busca por uma vida mais saudável e equilibrada é uma prioridade. Novas pesquisas brasileiras apontam que, em certos casos, a redução do uso de medicamentos pode trazer benefícios consideráveis.
Até pouco tempo, a norma era aumentar a medicação para controlar a doença. No entanto, estudos recentes indicam que uma abordagem mais personalizada, com uso mais racional dos medicamentos, pode ser mais eficaz e vantajosa para a saúde.
Neste artigo, vamos explorar os benefícios dessa estratégia, apoiada por estudos nacionais, e entender por que menos medicamentos podem ser a chave para uma melhor qualidade de vida nesta faixa etária.
HIV após os 50: estudo brasileiro revela que usar menos medicamentos traz melhores resultados
Uma pesquisa da Unesp, em parceria com a Georgetown University, aponta que adultos com 50 anos ou mais vivendo com HIV têm melhores resultados clínicos e mais qualidade de vida quando tratados com regimes simplificados de terapia antirretroviral (TARV). O estudo analisou 1.018 pacientes do SUS e os resultados serão publicados no Brazilian Journal of Medical and Biological Research.
Menos medicamentos, mais saúde: o que a pesquisa descobriu
O uso de tratamentos simplificados para HIV foi a variável que mais influenciou os resultados positivos entre as pessoas com 50 anos ou mais.
Quase 90% dos pacientes 50+ alcançaram carga viral indetectável, proporção superior à observada no grupo mais jovem (83,3%).
Outro ponto importante foi a falha virológica: enquanto apenas 2,5% dos mais velhos apresentaram retorno da replicação viral, entre os jovens essa taxa chegou a 10,1%.
A resposta imunológica também se mostrou mais consistente. Apenas 7% dos adultos com 50 anos ou mais tinham contagem de CD4 abaixo de 350 células/mm³, o que é quase metade do registrado entre os mais jovens (13,3%).
Em conjunto, esses achados reforçam uma tendência observada internacionalmente: simplificar o tratamento pode significar mais qualidade de vida, especialmente para quem convive com o HIV há muitos anos.
Por que o envelhecimento pode ser acelerado em pessoas vivendo com HIV?
Mesmo quando controlado, o HIV mantém o organismo em estado de inflamação crônica, acelerando o envelhecimento celular. Por isso, especialistas classificam pessoas vivendo com HIV como "adultos mais velhos" a partir dos 50 anos — um critério aceito mundialmente.
Esse processo aumenta o risco de desenvolver, mais cedo, doenças como:
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hipertensão
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diabetes
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problemas cardiovasculares
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complicações renais e ósseas
O estudo reforça a importância de protocolos de saúde adaptados ao envelhecimento com HIV.
Tratamento simplificado: como funcionam as combinações mais eficazes
O estudo analisou dois regimes simplificados de terapia antirretroviral:
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lamivudina + dolutegravir (3TC + DTG)
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lamivudina + darunavir/ritonavir (3TC + DRV/r)
Ambas as combinações mostraram forte associação com supressão viral sustentada, especialmente em pessoas que estão em tratamento há mais de 11 anos.
Como esses medicamentos agem no corpo
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Lamivudina (3TC): impede o HIV de copiar seu material genético.
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Dolutegravir (DTG): bloqueia a integração do vírus às células humanas.
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Darunavir/ritonavir: dificulta a replicação viral em etapas finais.
A principal mudança está na retirada gradual do tenofovir (TDF), usado há décadas, mas que pode afetar rins e ossos, algo que é especialmente sensível para pacientes mais velhos.
HIV após os 50 exige novos cuidados
Para o infectologista Alexandre Naime Barbosa, da Unesp, o novo cenário da saúde das pessoas vivendo com HIV pede um olhar diferenciado:
"A infecção pelo HIV se tornou uma condição crônica que exige um cuidado mais próximo do geriátrico", explica o infectologista Alexandre Naime Barbosa.
O especialista ainda destaca que, com o avanço da idade, aumentam também as condições associadas ao envelhecimento acelerado causado pela inflamação crônica, mesmo quando a carga viral está controlada.
Portanto, o envelhecimento das pessoas com HIV já repercute nos serviços de saúde e reforça a necessidade de protocolos individualizados. Desse modo, com o crescimento da população de adultos 50+ vivendo com HIV, entender como garantir envelhecimento saudável torna-se essencial para orientar políticas públicas e práticas clínicas.