Anvisa aprova Wegovy para tratamento de gordura no fígado com inflamação

A semaglutida deve ser usada em associação com alimentação saudável e prática de exercícios físicos

15 dez 2025 - 11h44

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou nesta segunda-feira, 15, a indicação do Wegovy (semaglutida 2,4 mg) para tratar gordura no fígado com inflamação (esteatohepatite associada à disfunção metabólica, ou MASH, na sigla em inglês) em adultos com fibrose moderada a avançada, sem cirrose hepática. O medicamento já foi aprovado pelo FDA (agência regulatória americana) para essa finalidade.

A gordura no fígado, ou esteatose metabólica, acomete pelo menos 30% da população global e está diretamente ligada ao sobrepeso e à obesidade: oito em cada dez pessoas com excesso de peso convivem com o problema, segundo estudos. A MASH é a forma inflamatória e mais grave da doença.

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A esteatose hepática é diagnosticada quando o acúmulo de gordura na região ultrapassa 5%. Acima disso, o órgão já está sobrecarregado e pode evoluir com inflamação, fibrose e, nos casos mais graves, cirrose e câncer hepático. O quadro ainda pode levar a outras complicações, como doenças cardiovasculares, entre elas infarto e AVC.

A aprovação da Anvisa baseia-se nos resultados do estudo de fase 3 ESSENCE, feito pela Novo Nordisk, farmacêutica que produz o Wegovy. A análise avaliou, durante 240 semanas, o efeito da semaglutida 2,4 mg subcutânea semanal em adultos com esteatohepatite associada à disfunção metabólica e fibrose hepática moderada a avançada (estágio 2 ou 3).

O estudo demonstrou que o medicamento foi superior ao placebo na reversão da inflamação e na melhora da fibrose hepática. Os dados clínicos mostraram que, após 72 semanas:

  • 63% dos pacientes tratados alcançaram a resolução de MASH (desaparecimento da inflamação), em comparação com 34,3% no grupo placebo.
  • 37% dos pacientes tratados apresentaram melhora no estágio da fibrose hepática, contra 22,4% no grupo placebo.
  • 33% dos pacientes alcançaram os dois benefícios ao mesmo tempo: reverteram a inflamação e melhoraram o grau de fibrose.

"Até agora, os pacientes tinham poucas opções para frear a progressão da doença, que pode levar à cirrose e à necessidade de um transplante de fígado. Ter uma terapia que demonstrou não apenas reverter a inflamação em mais de 60% dos pacientes, mas também melhorar a fibrose hepática, é um avanço que pode mudar o curso da doença", afirma Priscilla Mattar, endocrinologista e vice-presidente da área médica da Novo Nordisk no Brasil, em comunicado à imprensa.

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O Wegovy é indicado como complemento a uma dieta com redução calórica e aumento da atividade física para controle de peso em adultos com obesidade (IMC igual ou superior a 30 kg/m²) ou em adultos com sobrepeso (IMC igual ou superior a 27 kg/m² ) na presença de pelo menos uma comorbidade relacionada ao excesso de peso.

A atividade física ajuda o fígado a melhorar antes mesmo da perda de peso visível, já que o exercício reduz inflamação, melhora o metabolismo da glicose e a função hepática. Por isso, o ideal é combinar treinos aeróbicos e de força, dizem os especialistas.

Quanto à alimentação, ao contrário do que muita gente imagina, não é preciso cortar toda a gordura da dieta para reduzir a quantidade de gordura no fígado. As gorduras boas, como aquelas presentes no azeite de oliva, nas castanhas e nos peixes, podem até proteger o órgão. O problema está nas gorduras saturadas e trans, presentes sobretudo nos alimentos ultraprocessados, nas frituras e nos embutidos.

Refrigerantes, doces e fast-foods devem ser evitados, alertam especialistas. O recado também vale para o álcool, mesmo em pequenas quantidades, porque potencializa o dano hepático.

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Já verduras, frutas, cereais integrais e proteínas magras são aliados da recuperação, juntamente com o café sem açúcar, que possui efeito protetor comprovado.

O que é MASH?

A esteatohepatite associada à disfunção metabólica (MASH) é uma doença metabólica grave e progressiva caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura no fígado e por um processo inflamatório que danifica as células hepáticas.

Esse acúmulo de gordura, frequentemente resultado de alterações metabólicas associadas ao sobrepeso, à obesidade, à resistência à insulina e a outros fatores cardiometabólicos, desencadeia estresse celular, inflamação e, ao longo do tempo, fibrose. Sem diagnóstico e manejo adequados, essa combinação pode evoluir para cirrose hepática e até se tornar fatal.

Mais de 250 milhões de pessoas no mundo vivem com MASH, e o número de pessoas em estágios avançados da doença deve dobrar até 2030.

Pacientes com gordura no fígado com inflamação frequentemente apresentam poucos ou nenhum sintoma específico nos estágios iniciais da doença, o que geralmente culmina em diagnóstico tardio.

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O risco de progressão para doenças hepáticas avançadas, incluindo câncer de fígado, e de complicações como infarto e AVC é maior em pessoas com MASH do que na população em geral.

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