Fim de ano e ansiedade: por que o Natal pesa emocionalmente

Especialista explica como o encerramento do ano ativa cobranças internas, sensação de urgência e sofrimento emocional em muitas pessoas

17 dez 2025 - 16h25

O Natal e as festas de final de ano, tradicionalmente associados à celebração, aos encontros familiares e à renovação de esperanças, nem sempre são vividos com leveza. Para muitas pessoas, esse período vem acompanhado de ansiedade, angústia e uma sensação persistente de urgência — como se o tempo estivesse se esgotando e tudo precisasse ser resolvido antes do dia 31 de dezembro.

Fim de ano e ansiedade
Fim de ano e ansiedade
Foto: Shutterstock / Saúde em Dia

Essa percepção não surge por acaso. De acordo com a psicóloga e psicanalista Araceli Albino, presidente do SINPESP (Sindicato dos Psicanalistas do Estado de São Paulo), o fim do ano funciona como um poderoso marcador psíquico. "O calendário convoca o sujeito a fazer balanços, revisitar perdas, fracassos, desejos não realizados e expectativas que não se cumpriram. É como se houvesse uma contagem regressiva interna", explica.

Publicidade

O peso simbólico do encerramento de ciclos

Segundo a especialista, a sensação de "fim de mundo" que muitas pessoas relatam nesse período não está necessariamente ligada a acontecimentos concretos. Trata-se, na maioria das vezes, de vivências inconscientes. "O encerramento de um ciclo desperta fantasias de finitude. Para alguns, isso aparece como ansiedade; para outros, como melancolia, irritação ou um vazio difícil de nomear", afirma Araceli Albino.

Além disso, as festas de fim de ano intensificam comparações sociais e idealizações de felicidade. Há uma expectativa cultural de que todos estejam realizados emocional, familiar e profissionalmente. Quando a realidade não corresponde a esse ideal, o sofrimento psíquico tende a se aprofundar. "O discurso social sugere que todos deveriam estar felizes. Quem não está, sente-se inadequado", pontua a psicanalista.

Pressa externa e urgência psíquica

Outro fator relevante é o excesso de compromissos, estímulos e consumo característicos do período. Confraternizações, viagens, metas não cumpridas e cobranças financeiras se acumulam, contribuindo para o esgotamento emocional. "A pressa não é apenas externa. Ela é psíquica. Existe uma urgência em 'dar conta da vida' antes que o ano termine", observa Araceli.

Esse cenário pode intensificar quadros de ansiedade, insônia, irritabilidade e tristeza, especialmente em pessoas que já enfrentam fragilidades emocionais ao longo do ano.

Publicidade

Como atravessar o fim de ano com mais cuidado emocional

Para lidar melhor com esse período, a especialista reforça a importância de acolher os próprios sentimentos e abandonar expectativas irreais. "Nem todo Natal precisa ser feliz. Às vezes, ele é apenas possível", afirma. Reconhecer limites, respeitar o próprio ritmo e buscar apoio profissional quando necessário são atitudes fundamentais de cuidado com a saúde mental.

Em tempos de tantas exigências simbólicas e emocionais, compreender que o fim do ano não precisa ser um acerto de contas com a própria vida pode ser um primeiro passo para atravessar esse período com mais consciência e menos sofrimento.

Fique por dentro das principais notícias
Ativar notificações