Mãe de 1ª viagem: o que não me contaram sobre a maternidade

Carga mental, isolamento social e as descobertas que só a prática da maternidade podem proporcionar para a mulher

8 mai 2020 - 09h00
(atualizado às 11h24)

São nove meses de preparação e de muita antecipação. Ainda assim, nem toda pesquisa, leitura e cursos te preparam para o que só a prática pode te ensinar. Em meio à uma pandemia, as comemorações do Dia das Mães deste ano serão um pouco diferente. Neste período, quando estudos revelam que as mulheres são as mais propensas a sofrerem de ansiedade e estresse, que tal olhar para a maternidade de uma forma diferente?

“Nenhuma leitura realmente nos prepara para o que vem, principalmente nas primeiras semanas de vida do bebê, o puerpério envolve sentimentos e emoções muito intensas e é naquele momento que você conhece seu filho e que ele te conhece, são muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo”, conta Daniela Moraes Brum, 25. Produtora de conteúdo e mãe do Benício, Daniela fala sobre feminismo e maternidade pelo perfil @feminiismo no Instagram  e conta que o estudo foi fundamental para que pudesse ter um parto normal e uma amamentação bem sucedida. Apesar disso, só a vivência fez com que ela pudesse entender o que era a maternidade. 

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Para a professora de inglês Aline Fevereiro, 35, pesquisar sobre parto fez igualmente toda a diferença para a sua gestação. Mãe do Miguel, do Mariano, do Matias e da Miriam, ela vê no entanto, que não são muitas mães que se preparam da mesma forma. “Eu vejo que tem muitas mães que se preparam muito externamente, com enxoval. E para amamentação, normalmente, zero”. 

“Você fica achando que isso é o fundamental”, diz a servidora pública Luma Cecchinato, 31, mãe do Paulinho. Para a chegada do seu primogênito, Luma fez cursos de amamentação, leu livros, virou especialista do sono e priorizou também a montagem do enxoval. “Comprei todos os livros, eu achava que bastaria a minha forma de estudar, fazer os cursos. Hoje eu vejo que é muito mais a minha intuição, a sua observação, o seu bebê, e não comparar com as outras mães, e eu não tinha esse perfil que eu tenho agora, e eu não queria ter”. A prática, em todos os casos, geraram as mães e, com isso, as consequências da maternidade. 

Luma Cecchinato e Paulinho. Para servidora pública, seguir a própria intuição faz toda diferença na maternidade
Luma Cecchinato e Paulinho. Para servidora pública, seguir a própria intuição faz toda diferença na maternidade
Foto: Arquivo pessoal

“Eu sempre falo que quando nasce uma mãe, nasce um amigo obstetra, um parente vira pedagogo e um outro amigo se torna pediatra”, diz Brum, ”parece que todas as pessoas, até as que não tem filho, se sentem no direito de dizer que você está errada ou te assustar de alguma forma’. Para a produtora de conteúdo, a maternidade veio acompanhada de alguns comentários inacreditáveis. “Sei que muitos são bem intencionados,acho que a maioria das mães não gostam de pitacos, mas uma grande parte já foi a pessoa que deu o pitaco, precisamos aprender a ajudar sem duvidar da capacidade de mulheres que se tornaram mães recentemente”.

A ajuda, no entanto, é sempre bem-vinda. “A maternidade é muito solitária. Uma coisa que eu aprendi é: peça ajuda. Delegue as atividades, não queira tomar tudo para si. E é uma coisa que eu luto para fazer até hoje. Talvez se eu tivesse feito isso antes, eu teria tido mais rede de apoio. Acho que se a ajuda não é contra os princípios da mãe, por que não aceitar? Depois você acaba sobrecarregada e não sabe o porquê”, diz Aline.

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Com o desejo de ser mãe desde criança, a professora conta que mesmo assim, não foi fácil para ela. “Não é só um trabalho físico, é um trabalho mental, porque a gente está o tempo inteiro em estado de alerta. Por isso que às vezes a gente não consegue dar conta das coisas, de sair, de ligar para a amiga. Porque a gente está o tempo inteiro com nosso cérebro ali focado na criança, e é difícil mesmo”. “Nem o pai sente como a mãe, nem a avó, é a carga mental”, concorda Luma. “Eu posso deixar o meu filho sob os cuidados de outra pessoa, eu posso deitar aqui e dormir, eu posso trabalhar, eu posso ir ao shopping, mas a mãe fica preocupada 24 horas, mesmo que você tenha alguém para executar”, diz. 

Aline com os filhos Miguel, Mariano, do Matias e Miriam
Foto: Arquivo pessoal

“É uma questão de política pública”, diz Cecchinato, “antes de ter filho, eu fazia home office todos os dias. Eu amava. Só que tinham três crianças. E elas me incomodavam e eu tinha raiva da mãe. E hoje eu vejo isso, a gente quer empatia. Se você é a mãe, você pensa: o que eu posso fazer? Vou tapar a boca da criança? Eu hoje acho isso, eu acho que a sociedade tem que mudar os seus olhos, as crianças têm que ocupar todos os lugares”, finaliza. Luma descreve ainda  uma opressão pela estereotipização das mães pela categorização em dois tipos. A primeira, que larga a carreira e é menosprezada e desvalorizada pela sociedade, e a segunda que é a Mulher Maravilha e que acaba por oprimir as demais, que não conseguem fazer tudo. 

Para Brum, entender a realidade da maternidade diminuiria as frustrações. “Eu queria que todas as mulheres soubessem a realidade do que é ser mãe e entendessem que a responsabilidade de criar um filho não é somente dela”, diz. “Eu entendo que existe um grande número de mulheres que são mães solo, mas muitas mulheres têm um companheiro dentro de suas casas e eles não sabem nada sobre seus filhos, não trocam a fralda, não alimentam, não contribuem com a criação e nem com a educação daquela criança”. 

Já para a mãe do Paulinho, o segredo está em amar as suas escolhas. “Não interessa se você vai dar a mamadeira mesmo lendo que o aleitamento materno é melhor até os 2 anos porque você sabe que na sua realidade, é melhor. É preciso voltar esse olhar, quem cuida dessa mãe? Essa mãe que cuida de tudo, faz tudo, tem essa carga mental, quem cuida dela? Porque ela pode estar esgotada. E para você criar filhos felizes, é preciso  ter uma mãe feliz. Um ambiente saudável emocionalmente”.

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Fonte: Redação Terra
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