Assistir a vídeos acelerados traz impactos para o cérebro, diz estudo

A moda de assistir vídeos e ouvir podcasts em velocidade acelerada pode parecer eficiente, mas estudos mostram que o cérebro nem sempre acompanha o ritmo

11 nov 2025 - 16h09

A pressa virou parte do cotidiano - e até o aprendizado entrou nesse ritmo acelerado. Hoje, é comum ver pessoas ouvindo podcasts, assistindo videoaulas e consumindo conteúdo em vídeos em velocidades maiores, como 1,5x ou até 2x. Para muitos jovens, inclusive, esse é o novo normal.

Assistir vídeos no modo rápido virou hábito entre jovens, mas pesquisas revelam que a prática pode causar sobrecarga cognitiva
Assistir vídeos no modo rápido virou hábito entre jovens, mas pesquisas revelam que a prática pode causar sobrecarga cognitiva
Foto: Reprodução: Karola G/Pexels / Bons Fluidos

Uma pesquisa feita com estudantes da Califórnia revelou que 89% ajustam a velocidade de reprodução das aulas online. A justificativa parece lógica: aprender mais em menos tempo, revisar o conteúdo com rapidez e manter a concentração. Mas será que o cérebro acompanha esse ritmo?

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A mente também tem limites

De acordo com estudos sobre a memória e o processamento cognitivo, nosso cérebro precisa de tempo para decodificar e compreender as informações recebidas. Quando escutamos alguém falando, o processo mental envolve três etapas principais: codificação, armazenamento e recuperação.

A fase de codificação, quando entendemos e damos sentido às palavras, é especialmente sensível à velocidade. O cérebro humano entende bem cerca de 150 palavras por minuto, e até o dobro disso (300 palavras) ainda é aceitável. Mas, a partir daí, o excesso de estímulos pode gerar sobrecarga cognitiva: a mente recebe mais informações do que consegue processar e acaba perdendo parte delas.

Isso acontece porque a memória de trabalho, responsável por organizar o que ouvimos antes de armazenar o conhecimento de forma duradoura, tem uma capacidade limitada. Quando bombardeada por dados muito rapidamente, ela não consegue transformar tudo em aprendizado real.

O que a ciência descobriu sobre o "modo rápido"

Uma grande revisão científica que reuniu 24 estudos sobre aprendizado com vídeos mostrou que aumentar a velocidade de reprodução prejudica o desempenho em testes. Nos experimentos, um grupo assistia ao vídeo na velocidade normal e outro em versões aceleradas (1,25x, 1,5x, 2x ou 2,5x). Depois, ambos faziam as mesmas provas. O resultado foi claro: até 1,5x, o impacto era pequeno. Mas, acima disso, o desempenho caía de forma considerável. Em termos práticos: se um estudante tirava 75% na velocidade normal, ver o mesmo vídeo a 2,5x poderia reduzir sua nota média em até 17 pontos percentuais.

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E os mais velhos?

Os efeitos da aceleração parecem ainda mais fortes em adultos acima dos 60 anos. Pesquisas mostram que, com o envelhecimento, a memória de trabalho e o tempo de processamento diminuem naturalmente. Isso faz com que assistir a conteúdos muito rápidos seja mais desafiador e reduza a retenção de informações. Nesses casos, especialistas recomendam que os vídeos sejam vistos em velocidade normal ou até mais lenta, para garantir que o aprendizado realmente se consolide.

O cérebro pode se adaptar?

Ainda não há consenso. É possível que pessoas acostumadas a consumir vídeos acelerados desenvolvam certa tolerância à carga cognitiva, conseguindo lidar melhor com o excesso de informações. Por outro lado, também há hipóteses de que o hábito possa gerar cansaço mental a longo prazo, reduzindo a motivação e o prazer de aprender. Curiosamente, alguns estudos mostram que, mesmo quando a velocidade 1,5x não prejudica a memória, ela torna a experiência menos prazerosa. Ou seja, aprender rápido pode funcionar, mas talvez não seja tão agradável.

Em um mundo que valoriza produtividade e multitarefa, é natural querer fazer tudo mais rápido. Mas o cérebro humano continua precisando de pausas, atenção e repetição para transformar informação em conhecimento. Assistir aulas ou ouvir podcasts acelerados pode ser útil em algumas situações, mas o equilíbrio é essencial. Afinal, aprender bem não é apenas acumular dados - é dar tempo para o cérebro respirar e compreender.

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