Noruega e Indonésia preveem R$ 4 bi para fundo de florestas de Lula; Reino Unido nega verba

Mecanismo de financiamento da preservação ambiental é uma das principais apostas do governo brasileiro na COP de Belém

6 nov 2025 - 15h59
(atualizado às 19h45)

ENVIADOS ESPECIAIS A BELÉM - O governo da Noruega anunciou nesta quinta-feira, 6, investimento de US$ 3 bilhões (R$ 16 bilhões) no Fundo Florestas Tropicais Para Sempre (TFFF), iniciativa para preservação de florestas proposta pela gestão Luiz Inácio Lula da Silva. Essa é uma das principais apostas do governo federal para a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-30) em Belém.

Publicidade

O investimento da Noruega superou as expectativas do governo brasileiro. Segundo fontes, o Brasil estava otimista com o que poderia vir do país escandinavo, mas o montante foi superior. A leitura é de que o fato de Brasil e Indonésia terem aportado US$ 2 bilhões deu confiança para que a Noruega elevasse a ambição.

Até o momento, 53 países endossaram declaração de apoio ao fundo, mas poucos abriram os cofres. A Indonésia confirmou aporte (de US$ 1 bilhão), prometido no mês passado, mesmo valor que o Brasil havia colocado inicialmente. Portugal fez um investimento pequeno, de € 1 milhão (cerca de R$ 6,2 milhões).

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, citou sinalização da França em investir € 500 milhões e há expectativas sobre recursos por parte da Alemanha, mas ainda não houve anúncios oficiais dos dois países. Nesta tarde, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de uma bilateral com o presidente francês Emmanuel Macron. Em relação à Alemanha, a expectativa é que o país faça o anúncio nesta sexta-feira, 7.

A Holanda fará uma doação de seis milhões de euros para o funcionamento do fundo - nesse caso, não se trata de investimento.

Publicidade

Reino Unido e Finlândia, por outro lado, já indicaram não aderir à proposta. A ausência do Reino Unido na lista de investidores desagradou o Brasil. Nos bastidores, fontes comentam que ficou "chato" para os britânicos não aportarem recursos, sobretudo após a visita do príncipe ao Brasil.

A expectativa do Brasil é que Canadá e Reino Unido possam anunciar aportes até março. Isso porque, até lá, esses países devem negociar seus Orçamentos anuais. Também há possibilidade de, nos próximos meses, a China sinalizar um investimento.

Apesar de Reino Unido e Finlândia terem indicado que não investirão, o governo brasileiro contabiliza esses países na lista de potenciais investidores. Isso porque são nações que endossaram a carta a favor do Fundo, mas não possuem florestas tropicais, ou seja, não seriam beneficiados diretamente, de modo que o apoio foi interpretado como uma possibilidade de investimento futuro.

COP-30 em Belém é a primeira edição da conferência na Amazônia; Lula foi o primeiro chefe de Estado a discursar
COP-30 em Belém é a primeira edição da conferência na Amazônia; Lula foi o primeiro chefe de Estado a discursar
Foto: Wilton Junior/Estadão / Estadão

O objetivo é levantar ao menos US$ 25 bilhões com governos e entidades filantrópicas. De acordo com o subsecretário de Assuntos Econômicos e Fiscais do Ministério da Fazenda, João Resende, esse é o valor mínimo para o mecanismo funcionar.

Publicidade

"Não estabelecemos um prazo para isso. Sempre falamos que precisávamos chegar a um valor significativo até a COP para mostrar que há interesse dos países no mecanismo."

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comemorou que já foram levantados 50% dos US$ 10 bilhões que espera conseguir até o fim de 2026, quando termina a presidência brasileira na COP.

Lula disse que prevê, em breve, engajamento de bancos regionais e multilaterais, como o Banco dos Brics, presidido pela ex-presidente Dilma Rousseff.

A alavancagem esperada é que cada dólar público signifique US$ 4 dentro do fundo. "Nós imaginamos que vamos ter antes de chegar alguma coisa entre US$ 20 milhões e US$ 25 milhões, recursos públicos para alavancar para cada US$ 1, uns US$ 4 aproximadamente de recursos privados", afirmou Haddad em coletiva de imprensa.

Recurso norueguês

O valor investido pela Noruega será aportado ao longo de 10 anos, com condicionantes, como o fundo estar capitalizado. O premiê norueguês Jonas Gahr Støre teve posição de destaque, com a maior promessa de investimento, durante almoço com Lula e demais líderes. Ele disse que a nação europeia destinará até US$ 3 bilhões em empréstimos, ao longo de dez anos, para o novo mecanismo.

Publicidade

"A interrupção do desmatamento é essencial para reduzir impactos das mudanças climáticas e conter a perda de biodiversidade. Não temos tempo a perder se quisermos salvar as florestas tropicais do mundo", afirmou o primeiro-ministro do país nórdico, que também foi o principal doador do Fundo Amazônia, iniciativa criada em 2008 para bancar projetos de preservação ambiental na região.

Em discurso na Cúpula dos Líderes, o príncipe britânico William reconheceu a importância do TFFF, medida que chamou de "passo visionário para valorizar a natureza e ajudar na estabilidade climática". William disse apoiar a preservação das florestas e a demarcação de terras indígenas, mas avisou que não haveria dinheiro britânico para a proposta em um primeiro momento.

"Esta é uma inovação muito importante no financiamento florestal e estamos confiantes de que ela pode funcionar. No momento o crescimento interno e a elevação do padrão de vida são o foco principal deste governo", informa o Reino Unido, que prometeu mobilizar o setor financeiro privado para contribuições.

O presidente Lula com o príncipe William e o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer
Foto: Wilton Junior/Estadão / Estadão

O presidente da Finlândia, Alexander Stubb, afirmou ao Estadão que não deve colaborar financeiramente - ao menos por ora. "Achamos que o TFFF é uma ótima ideia, mas, se você perguntar se o governo investirá dinheiro agora, temo que a resposta seja infelizmente não."

Publicidade

Há expectativa sobre a Alemanha. O governo alemão anunciou em Berlim, no Parlamento local, que vai participar do fundo, mas sem citar valores. "Vamos participar do Fundo TFFF do presidente brasileiro, porque especialmente a floresta tropical precisa ser protegida como o pulmão do planeta, e todos os conceitos para mobilizar capital privado também serão implementados e utilizados por nós", disse o ministro do Meio Ambiente, Carsten Schneider.

Quem já investiu

  • Noruega - US$ 3 bilhões
  • Indonésia - US$ 1 bilhão
  • Brasil - US$ 1 bilhão
  • França - € 500 milhões

Quem o governo considera 'potencial' investidor

  • Alemanha - mencionou interesse no Parlamento, mas ainda não oficializou a proposta
  • Armênia, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, China, Dinamarca, Finlândia, Emirados Árabes Unidos, França, Irlanda, Japão, Mônaco, Noruega, Países Baixos, Portugal, Reino Unido Suécia e União Europeia

Quem já negou verba

  • Reino Unido - prometeu mobilizar a iniciativa privada, mas sem prometer verba
  • Finlândia - apoia a iniciativa, mas não promete verba
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se