O arquiteto chinês Kongjian Yu, criador do conceito de "cidade-esponja" para manejo sustentável da água, faleceu em acidente aéreo no Pantanal, sendo reconhecido mundialmente por sua contribuição ao urbanismo ecológico.
O arquiteto chinês Kongjian Yu, que morreu em um acidente aéreo na terça-feira, 23, no Pantanal de Mato Grosso do Sul, foi reconhecido mundialmente pelo conceito de "cidade-esponja". Conforme o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), Yu foi um dos principais estudiosos e profissionais de arquitetura da paisagem e planejamento urbano. Criado em uma comunidade rural agrícola, ele desenvolveu um compromisso vitalício com a sustentabilidade ecológica.
Doutor pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e graduado pela Universidade Florestal de Pequim, desde 1997 ele atuava como reitor fundador da Faculdade de Arquitetura e Paisagismo da Universidade de Pequim, onde promoveu o urbanismo ecológico e reformulava a educação em design sustentável.
Em 1998, ele fundou o Turenscape, escritório com sede em Pequim que já realizou mais de mil projetos em 250 cidades ao redor do mundo. Conforme o CAU, obras emblemáticas como o Parque Florestal Benjakitti (Bangkok), o Rio Meishe (Haikou) e o Pântano de Dong'an (Sanya) exemplificam seu modelo de "cidade-esponja", que promove o manejo de enchentes urbanas, a resiliência climática e a restauração ecológica.
Também era editor-chefe da Landscape Architecture Frontiers e tinha doutorados honorários de universidades na Itália e na Noruega.
'Cidade-esponja'
De acordo com o CAU/BR, o conceito "cidade-esponja", que foi adotado como política nacional na China em 2013, defende soluções verdes baseadas na natureza para a gestão sustentável da água e tem alcançado influência global.
"Sua pesquisa sobre padrões de segurança ecológica e planejamento negativo contribuiu para políticas ambientais chinesas", disse o instituto.
A proposta explica como é possível ajudar a combater as enchentes. "Conviver com a água em vez de combatê-la. Em seus projetos, parques e áreas verdes funcionam como esponjas, absorvendo o excesso de chuva e reduzindo enchentes", conforme destacou ainda o instituto.
Yu afirmava que era preciso parar de "lutar contra a água". Foi assim que ele se expressou por meio de videoconferência em evento sobre segurança hídrica da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) no ano passado. O princípio é o mesmo de uma esponja doméstica: absorver as águas a partir de três grandes estratégias.
- A primeira é a contenção da água assim que ela toca o solo por meio de grandes áreas permeáveis, porosas, não pavimentadas. A cidade deve conter a chuva com lagos artificiais e açudes alimentados naturalmente ou por canos que ajudam a escoar a água de rios e represas. Telhados e fachadas verdes também ajudam.
- O segundo ponto é desacelerar o fluxo d'água. Em vez da canalização dos rios, que acelera a velocidade da água, com maior tendência a transbordar, a ideia é renaturalizar o curso d'água. Isso significa restituir a área de planície de inundação, com parques ou margens não ocupadas. Isso não é fácil de fazer, reconhece Guimarães. Como alternativa, ele sugere o uso de pisos mais permeáveis para "fazer com que mais água permaneça por mais tempo na planície de inundação".
- A terceira estratégia é adaptar as cidades para que elas tenham áreas alagáveis, para onde a água possa escorrer sem causar destruição, com soluções baseadas na natureza.
De acordo com publicação da Fapesp, em seus premiados projetos em cidades na China e em outros países, o renomado arquiteto "adotava a natureza e a metodologia conhecida como soluções baseadas na natureza para absorver, limpar e usar as águas fluviais e pluviais - em vez de expulsá-las com pressa das áreas urbanas com canalizações."
Ampliação do conceito
O conceito de "cidade-esponja", criação chinesa que aumenta a capacidade de absorção da água das chuvas a partir de soluções baseadas na natureza, deve ser ampliado, englobando as zonas rurais, as encostas e nascentes dos rios.
Analisar toda a bacia hidrográfica, não só o centro urbano, aumenta o potencial do projeto de minimizar os efeitos dos eventos climáticos extremos. É o que aborda a publicação "De Cidades Esponja para Bacias Hidrográficas Esponja" feita na revista científica Water. Em entrevistas dadas recentemente, Yu vinha, inclusive, utilizando o termo "planeta-esponja". /GONÇALO JUNIOR