Liderança indígena cobra acesso dos povos originários aos fundos climáticos: 'Não precisamos de intermediários'

Isabel Gakran é cofundadora e diretora ambiental do Instituto Zág, que tem como foco o reflorestamento de araucária, árvore em extinção

10 nov 2025 - 16h53
Isabel Gakran cobra acesso dos povos originários aos fundos climáticos
Isabel Gakran cobra acesso dos povos originários aos fundos climáticos
Foto: Adrielle Farias/Terra

Os povos indígenas estão entre os protagonistas da Conferência das Partes (COP30), em Belém (PA), principalmente no que se refere ao combate ao desmatamento, às queimadas e aos fundos de financiamento climático. Isabel Gakran, de 39 anos, é uma das lideranças presentes no evento com o objetivo de alertar autoridades mundiais sobre os riscos que esses problemas apresentam para as populações indígenas e para cobrar o acesso dos povos originários aos fundos destinados à proteção das florestas.

"Estou aqui para representar a Mata Atlântica e para dizer que no Sul do Brasil também há uma grande floresta e uma grande biodiversidade que pede socorro. Estamos aqui para pedir que esses órgãos, que as indústrias, parem com a destruição já, porque não há mais tempo. A floresta precisa estar de pé para manter a vida no planeta, não somente a nossa vida, mas a vida da nossa sociedade", explicou ao Terra.

Publicidade

Isabel integra a terra indígena Laklãnõ Xokleng, localizada no interior de Santa Catarina. Ela é cofundadora e diretora ambiental do Instituto Zág, liderado por jovens indígenas e que tem como foco questões ambientais. O principal projeto do instituto consiste no reflorestamento da araucária, uma árvore que corre risco extremo de extinção. 

"A ONU afirmou que os povos indígenas protegem 80% das florestas do planeta. Se fala muito de transição justa hoje, mas nós que estamos lá dentro do nosso território sofremos violência. Nossos corpos são violados, nossos territórios também e a nossa floresta está sendo devastada. Onde está a transição justa nesse momento?", questionou.

De acordo com a ativista, a COP30 é uma oportunidade de cobrar os líderes mundiais para que ocorram ações na prática, especialmente em relação aos fundos climáticos que, segundo ela, não chegam às populações da floresta que realmente precisam.

"Nós somos capazes de gerenciar dinheiro, de gerenciar de como esse dinheiro vai ser investido. Porque nós não precisamos mais ser tutelados. E o que eu vejo é que está chegando investimento sim para as florestas, mas que não é distribuído para nossos povos. Nós não precisamos de intermediários, esses recursos precisam chegar diretamente nas organizações de base indígenas, porque nós somos capazes de liderar. Se nós, sem recurso nenhum, já garantimos 80% das florestas do mundo, imagina o que poderíamos fazer com recursos?", afirma.

Publicidade

Durante a COP28 em Dubai, em 2023, a ativista foi a primeira mulher a falar aos líderes mundiais durante a Cúpula dos Líderes. Na época, o protagonismo da indígena teve bastante repercussão pelo mundo.

"Na COP28, eu falei para as autoridades que a culpa de tudo que estava acontecendo no mundo era deles, mas que a solução também está nas mãos deles. Por que nada está sendo feito? O planeta está aquecendo pela ação humana. Eu não estava lá sorrindo para eles, eu não estava lá orgulhosa por estar ao lado deles, eu estava lá em guerra, porque meu povo está em guerra com a cultura não indígena e com a destruição", enfatizou.

A ativista reforçou que os povos originários são independentes o suficiente para ter acesso a recursos financeiros que possam proporcionar uma vida mais digna dentro das florestas. "Nós somos a natureza, eu sou a natureza tentando se defender. Isso precisa ser valorizado, enxergado, para que o mundo pare de destruir. Eu acredito que nós, povos indígenas, já provamos que somos capazes o suficiente de liderar ações relacionadas à biodiversidade", concluiu.

*Essa reportagem foi produzida como parte da Climate Change Media Partnership 2025, uma bolsa de jornalismo organizada pela Earth Journalism Network, da Internews, e pelo Stanley Center for Peace and Security.

Publicidade
Fonte: Portal Terra
TAGS
Fique por dentro das principais notícias
Ativar notificações