A primeira-dama do Brasil, Janja Lula da Silva, participou nesta quarta-feira, 19, do evento “Mulheres: Vozes que guiam o futuro”, promovido pelas Nações Unidas, e que abriu a programação do dia voltado para as discussões sobre gênero na COP30, em Belém. Em uma de suas falas, Janja criticou a busca de consensos e defendeu o sistema de voto nos espaços diplomáticos da conferência. “Enquanto a gente continuar tendo que trabalhar buscando o consenso, o avanço vai ser muito demorado”, opinou a primeira-dama, que também atua como enviada especial para as Mulheres no evento.
A fala de Janja ocorreu após uma pergunta do público, que pediu às painelistas para comentarem as tentativas de entrave nos debates de gênero dentro das negociações da COP. Países como Argentina, Irã e Vaticano têm liderado uma campanha para barrar, entre outros temas, a inclusão da comunidade LGBTQIA+ no conceito de gênero, e adotar apenas a perspectiva do sexo biológico no texto final da conferência.
Momentos antes, a enviada especial da COP30 para a América Latina e ex-secretária-executiva da UNFCCC, Patrícia Espinosa, falou sobre as dificuldades em negociar espaços para tratar das questões de minorias, como as mulheres negras, em textos e determinações da organização. “Infelizmente, nós chegamos muitas vezes a posições que não são maximalistas, mas que realmente precisam englobar a todos”, disse ela. Patrícia afirmou ainda que há uma dificuldade em atender demandas de uma minoria específica, pois logo surgem outras que também precisam ser atendidas.
A afirmação da ex-secretária logo foi respondida pela primeira-dama, que seguiu sua crítica à busca de consensos com a sugestão de que se adote um sistema de voto da maioria para determinar decisões entre os negociadores.
“Vamos votar, quem ganhou, ganhou, e quem perdeu, perdeu. Porque não é possível mais a gente trabalhar por consenso. A gente vivenciou isso no G20, um país queria bloquear toda a declaração no último dia. Não é possível isso”, criticou Janja.
“Democracia é isso, a gente precisa avançar. Essa é uma visão que eu tenho como leiga. Sei que no mundo da diplomacia é muito mais complexo, mas como nesse momento estou num lugar onde estou muito perto do mundo da diplomacia, eu tenho percebido isso. E eu consigo entender, quando eu não fazia parte desse mundo, porque as coisas não avançavam”, completou.
“Não podemos repetir sistema do Conselho de Segurança da ONU”
Também presente no painel, Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional e enviada especial da COP para Igualdade racial e periferias, fez coro à crítica de Janja. “Nosso esforço é para tentar fazer com que a experiência do Conselho de Segurança da ONU, onde há uma única voz, uma única nação autorizando a realização de genocídios ou autorizando a não tomada de ação para frear tragédias, a nossa luta é para que o sistema do Clima não se transforme em um Conselho de Segurança da ONU”, afirmou a médica e ativista.
Jurema disse ainda que o mundo denuncia há muito tempo a falência do atual Conselho de Segurança, onde um único país entre os membros permanentes é capaz de vetar decisões, ainda que vá de encontro à maioria.
“Eu entendo que no mundo da diplomacia existem complexidades, mas a complexidade não pode ser maior do que a existência complexa da própria humanidade. Nós somos a complexidade e nós existimos entre todo tipo de mulheres, de todas as raças, de todas as etnicidades, todas as identidades de gênero, gerações e territórios”, finalizou Jurema Werneck.