Polônia e Israel fazem as pazes em anúncio

5 jul 2018 - 11h48

Em texto publicado em jornal da Alemanha, líderes dos dois países sinalizam disposição de deixar para trás a controvérsia sobre a lei do Holocausto polonesa."Por 30 anos, as relações entre nossos países e povos foram baseadas em fundamentos sólidos de confiança e entendimento". É assim que começa um anúncio incomum publicado nesta quarta-feira (04/07) num dos maiores jornais da Alemanha, o Frankfurter Allgemeine Zeitung. Trata-se de um comunicado conjunto assinado pelos primeiros-ministros de Israel, Benjamin Netanyahu, e da Polônia, Mateusz Morawiecki.

Referências incorretas ao campo nazista de Auschwitz-Birkenau como "campo de extermínio polonês" costumam enfurecer governo do país europeu
Referências incorretas ao campo nazista de Auschwitz-Birkenau como "campo de extermínio polonês" costumam enfurecer governo do país europeu
Foto: DW / Deutsche Welle

O anúncio sinaliza que os dois governos parecem ter finalmente feito as pazes em relação à controversa lei do Holocausto polonesa. Ambos apontaram que seus países mantêm uma profunda e duradoura amizade e um "respeito mútuo pela identidade e sensibilidade histórica em relação aos episódios do nosso trágico passado".

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Controvérsia

Há poucos meses, em meio à disputa por causa da lei, o linguajar usado pelos dois países não poderia ser mais diferente. Aprovada no início de 2018, a legislação provocou críticas ferozes de Israel, dos EUA e da Ucrânia.

Os críticos temiam que a lei poderia impedir que sobreviventes do Holocausto e pesquisadores relembrassem ou apontassem a participação de poloneses no genocídio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Netanyahu chegou a acusar os poloneses de tentar reescrever a história e até mesmo de negar o Holocausto.

O texto original da lei previa a imposição de multas e penas de até três anos de prisão para quem "publicamente e de forma contrária aos fatos" atribuísse ao povo ou Estado polonês responsabilidade ou corresponsabilidade por crimes cometidos pela Alemanha nazista. Dessa forma, poderia se tornar crime falar publicamente de episódios como o massacre de Jedwabne, no qual poloneses, sem assistência de nazistas, assassinaram centenas de judeus de um vilarejo do leste do país, em 1941.

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Após as fortes críticas, os poloneses atenuaram a lei seis meses após a sua aprovação. O Parlamento polonês revisou a legislação e retirou qualquer referência a eventuais penas de prisão. A mudança foi feita a pedido do próprio Morawiecki.

Por que num jornal da Alemanha?

A iniciativa de publicar o anúncio na imprensa alemã pode parecer estranha, mas a Alemanha desempenha um papel importante nessa disputa. "Um bom relacionamento entre a Polônia e Israel é especialmente importante para a Alemanha", diz Manuel Sarrazin, presidente do grupo parlamentar Polônia-Alemanha.

"Na Alemanha, precisamos levar em conta que o debate sobre o Holocausto que é travado na Polônia ocorre em parte por causa da mídia alemã, que não soube evitar o uso de algumas expressões historicamente falsas", diz Sarrazin. Ele lembra que a mídia alemã ocasionalmente erra ao se referir aos campos de extermínio nazistas que ficavam na Polônia ocupada como "campos de extermínio poloneses".

O anúncio conjunto afirma ainda que está claro "que o Holocausto representa um crime sem precedente cometido pela Alemanha nazista contra judeus e poloneses de ascendência judaica" e que "a Polônia sempre demonstrou que compreende inteiramente o significado do Holocausto". Mas o texto também faz algumas concessões a Israel: "Nós reconhecemos que ocorreram atos horrorosos por parte de poloneses contra judeus durante a Segunda Guerra Mundial, e nós condenamos cada um deles". Ao mesmo tempo, o anúncio destaca "os atos heroicos de muitos poloneses" que arriscaram suas vidas para salvar judeus.

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