Viciado em ópio aos 9 anos de idade

'Tive uma dor de dente e a minha tia me mandou fumar', conta menino afegão; país asiático vê vício crescer entre crianças enquanto produção de papoula bate recorde.

17 nov 2017 - 10h15
(atualizado às 10h26)
Menino afegão (à dir) de nove anos conversa com equipe da BBC
Menino afegão (à dir) de nove anos conversa com equipe da BBC
Foto: BBC News Brasil

Em meio a um aumento recorde na produção de opiáceos no Afeganistão, o país vê o vício em ópio e heroína avançar entre crianças pequenas, que entram em contato com a droga dentro de suas próprias casas.

"Vivia com a minha tia, que era viciada em drogas", conta à BBC um menino afegão de nove anos que inala ópio há três meses. "Certo dia, eu tive uma dor de dente e ela me disse: 'Fume isto que você vai se sentir melhor'. Depois disso, eu me viciei. Meus pais também."

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Hoje, o menino está sendo tratado em um centro de reabilitação de heroína e ópio em Cabul, onde cresce a procura para o tratamento médico e psicológico para pacientes infantis. Estima-se atualmente que haja hoje 100 mil crianças usuárias de drogas no país, de 34 milhões de habitantes.

O tratamento inclui as mães, que muitas vezes também são dependentes químicas.

"Sou muito grato ao centro, que nos dá comida e atendimento", diz o menino.

Recaídas

No entanto, a retomada do vício costuma ser frequente assim que as crianças deixam o centro.

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"Quando elas saem daqui, voltam para suas casas, justamente onde seu vício começou", diz à BBC a médica Farima Nikhat, representante do centro. "Então muitas vezes elas têm recaídas e precisam voltar para cá. Algumas voltam três ou quatro vezes."

Plantação de papoula
Foto: BBC News Brasil

De governo ainda frágil, o Afeganistão é o maior produtor global de papoula, matéria-prima da heroína e do ópio, cuja fabricação bateu recordes em 2017, segundo a ONU.

Apesar de medidas oficiais para erradicar o cultivo, ela tem aumentado, principalmente em áreas de insurgência talebã. E as milhares de famílias que plantam o produto resistem a mudar de atividade.

Relatório recém-publicado aponta que a produção de ópio aumentou 87% em relação ao ano passado, totalizando 9 mil toneladas - avaliadas em US$ 1,4 bilhão.

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"(Isso) cria desafios múltiplos ao país, a seus vizinhos e aos muitos outros países que são entrepostos ou destinos dos opiáceos afegãos", afirma o relatório.

"A crescente insurgência e o financiamento a grupos terroristas são prováveis (consequências) dentro do Afeganistão, ao mesmo tempo em que mais heroína de alta qualidade e baixo preço alcançará mercados consumidores ao redor do mundo, levando ao aumento no consumo e a desdobramentos danosos."

Hoje, de acordo com a ONU, poucas são as províncias afegãs onde não há cultivo de papoula, à medida que há cada vez mais áreas dedicadas ao cultivo da planta.

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