As chuvas de inverno pioraram a vida precária de pessoas como Khamil al Sharafi, que está entre as centenas de milhares de deslocados pela guerra no território palestino, muitos dos quais sobrevivem agora graças à ajuda proporcionada por organizações humanitárias.
"Meus filhos tremem de frio e medo (...) A nossa tenda inundou completamente em questão de minutos", lamentou Sharafi, de 47 anos, neste domingo (28).
Ele teve sua moradia, situada no sul de Gaza, inundada após uma forte chuva noturna, molhando sua comida e suas mantas. Assim como Sharafi, a maioria das pessoas que foram obrigadas a abandonar suas casas por conta do conflito perdeu quase tudo.
"Perdemos nossas mantas e toda a comida está ensopada", acrescentou o homem, pai de seis filhos, que mora com eles em um refúgio improvisado na zona costeira de Al Mawasi.
As famílias se amontoam em acampamentos de barracas feitas com lonas, que frequentemente ficam cercadas de barro e água empoçada quando chove.
"Como mulher idosa, não posso viver em tendas de campanha. Viver assim significa morrer de frio quando chove e de calor no verão", explicou Umm Rami Bulbul. "Não queremos reconstrução imediata, só que deem a nós e a nossos filhos casas móveis", acrescentou.
"Vejam o estado em que se encontram meus filhos e a tenda. Durmo no frio e a água inunda e molha as nossas roupas. Não tenho roupa para vesti-los. Estão gelados. O que as pessoas de Gaza e seus filhos fizeram para merecer isto?", questiona Samia Abu Jabba, outra moradora da região afetada pelas chuvas.
Ajuda humanitária insuficiente
Dados da ONU apontam que quase 80% dos prédios na Faixa de Gaza foram destruídos ou danificados pela guerra. E cerca de 1,5 milhão dos 2,2 milhões de habitantes da região perderam suas casas, segundo Amjad Al Shawa, diretor da Rede de ONG Palestinas (PNGO) em Gaza.
Das mais de 300 mil tendas de campanha solicitadas para abrigar os deslocados, "só recebemos 60 mil", declarou Shawa à AFP, apontando para as restrições impostas por Israel à entrega de ajuda humanitária no território.
A agência da ONU para os refugiados palestinos, a Unrwa, afirmou que as duras condições meteorológicas agravaram o sofrimento dos habitantes do enclave. Nos últimos dias, por exemplo, as temperaturas noturnas oscilaram entre 8º C e 12º C.
"A população de Gaza sobrevive em tendas de campanha frágeis e inundadas, em meio a ruínas. Isto não é inevitável. Não se está permitindo a entrada de ajuda humanitária no nível necessário", alertou o diretor da Unrwa, Philippe Lazzarini, no X.
O COGAT, organismo do Ministério da Defesa israelense responsável por assuntos civis palestinos, afirmou em meados de dezembro que "quase 310 mil tendas de campanha e lonas entraram recentemente na Faixa de Gaza" como parte do aumento da ajuda em virtude do cessar-fogo.
No início do mês, Gaza sofreu um episódio similar de fortes chuvas e frio que deixou ao menos 18 mortos devido ao desabamento de edifícios danificados pela guerra ou à exposição às baixas temperaturas, segundo a Defesa Civil do território, que opera sob a autoridade do Hamas.
Com AFP