Tratado global sobre plásticos: por que países produtores de petróleo bloqueiam as negociações

A nova rodada de negociações para a elaboração do primeiro tratado global contra a poluição plástica, iniciada nesta terça-feira (5), em Genebra, ainda não apresentou resultados concretos. Países produtores de petróleo têm dificultado os avanços e se opõem à redução da produção mundial de plástico. Neste sábado (9), o diplomata equatoriano Luis Vayas Valdivieso, embaixador do país no Reino Unido que preside os debates, incentivou os países a acelerarem o processo.

9 ago 2025 - 13h48

A nova rodada de negociações para a elaboração do primeiro tratado global contra a poluição plástica, iniciada nesta terça-feira (5), em Genebra, ainda não apresentou resultados concretos. Países produtores de petróleo têm dificultado os avanços e se opõem à redução da produção mundial de plástico. Neste sábado (9), o diplomata equatoriano Luis Vayas Valdivieso, embaixador do país no Reino Unido que preside os debates, incentivou os países a acelerarem o processo.

Objetos de plástico ao lado de uma obra de arte criada especialmente para as negociações do Tratado sobre Plásticos, na Praça das Nações, em frente à sede europeia das Nações Unidas, em Genebra, Suíça, na segunda-feira (4).
Objetos de plástico ao lado de uma obra de arte criada especialmente para as negociações do Tratado sobre Plásticos, na Praça das Nações, em frente à sede europeia das Nações Unidas, em Genebra, Suíça, na segunda-feira (4).
Foto: © Salvatore di Nolfi / AP / RFI

Léo Roussel, da RFI em Paris, com agências

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"Muitas questões continuam sem resposta", afirmou. "Chegamos a uma etapa crucial em que precisamos de um avanço real para alcançar nosso objetivo comum dentro do prazo estipulado, ou seja, até 14 de agosto", disse durante a sessão de negociações das Nações Unidas. 

"O dia 14 de agosto não é apenas um prazo final para as negociações, é a data em que devemos entregar um texto comum", lembrou Valdivieso, defensor do multilateralismo. "Tivemos dois anos e meio de oportunidades para apresentar propostas." 

Ele incentivou as delegações dos 184 países participantes a realizarem contatos informais neste domingo (10), único dia sem reuniões programadas até agora, para tentar desbloquear o impasse.

Na madrugada de sexta para sábado, os países participantes entregaram um rascunho do texto que resume os trabalhos dos grupos técnicos. O documento passou de 22 para 35 páginas, e o número de trechos entre parênteses, que indicam pontos sem consenso, aumentou de 371 para cerca de 1.500. 

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Um grupo formado por países produtores de petróleo continua rejeitando metas de redução da produção de plástico previstas no tratado. 

Arábia Saudita, Rússia, Irã: o "bloco petroquímico" 

Durante as discussões realizadas em novembro de 2024, em Busan, na Coreia do Sul, Arábia Saudita, Rússia e Irã, três dos maiores produtores de petróleo do mundo, rejeitaram qualquer proposta de redução da produção de plásticos. Na ocasião, contaram com o apoio do que Delphine Lévi Alvarès, coordenadora de campanhas internacionais do Centro pelo Direito Ambiental (Ciel), chamou de "bloco petroquímico". 

Esse grupo inclui Rússia, Arábia Saudita, Irã, Iraque e Kuwait, além de países do Norte da África, como o Egito, e nações menos atuantes, como Cazaquistão e Azerbaijão. Os Estados Unidos, maior produtor de petróleo do mundo, também adotam posições semelhantes, segundo Lévi Alvarès. Apesar das diferenças de tamanho e influência, todos esses países têm em comum a produção de petróleo e o investimento na fabricação de plástico, seja em seus próprios territórios ou no exterior. 

"Esses países produtores de petróleo e gás também são grandes fabricantes de produtos petroquímicos, incluindo plásticos", explica Francis Perrin, diretor de pesquisa do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (Iris). "Por isso, não têm interesse em limitar as possibilidades de expansão nesse setor." 

Plástico: mercado alternativo para o petróleo 

Para esses países, o crescimento da produção global de plástico nas próximas décadas, como prevê a OCDE, caso nenhuma mudança seja feita, representa uma oportunidade. Com o avanço de políticas em países ricos para reduzir o uso de combustíveis fósseis na geração de energia e nos transportes, os principais produtores de petróleo buscam novos destinos para seu "ouro negro". 

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O plástico, que depende fortemente da extração de matérias-primas fósseis como petróleo, carvão e gás natural, surge como alternativa. Em 2022, segundo estudo da Universidade Tsinghua, na China, 98% do plástico produzido tinha origem fóssil. "Nos próximos anos, é muito provável que a demanda por petróleo no setor de transportes se estabilize. A petroquímica e o plástico serão os principais motores do crescimento do consumo global de petróleo", prevê Perrin. 

Na Arábia Saudita, o plástico como estratégia de futuro 

A redução da produção mundial de plástico não interessa a esses países nem às suas grandes petroleiras, que já investem no setor. "Há um desafio real para esses Estados: justificar a continuidade da extração de combustíveis fósseis e encontrar novos mercados", afirma Lévi Alvarès. 

Alguns países, como a Arábia Saudita, já colocam o plástico como prioridade estratégica. O setor petroquímico está no centro do plano de desenvolvimento e modernização Vision 2030. "A petroquímica é vista como um setor-chave para diversificar a economia saudita", diz Perrin. "Para o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, essa diversificação é essencial para o futuro econômico e social do reino." 

Países produtores e lobbies em ação em Genebra 

Por trás da resistência às negociações do tratado internacional contra a poluição plástica existe um argumento financeiro. Mas os países que lideram a oposição à redução da produção alegam o "direito de definir por conta própria sua trajetória de desenvolvimento industrial", explica Lévi Alvarès. 

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Em vez de reduzir a produção de plástico, esses Estados querem que o tratado se concentre na gestão de resíduos, que segundo eles só se tornam um problema no fim da vida útil dos produtos. A especialista denuncia essa abordagem como uma "tática de distração", especialmente considerando que apenas 9% dos resíduos plásticos no mundo são reciclados atualmente. 

Acompanhados por diversos grupos de lobby em Genebra, os países produtores de petróleo e plástico tentam pressionar para enfraquecer as ambições do tratado — mesmo que isso contrarie as recomendações científicas, que apontam a necessidade urgente de reduzir a produção global de plástico. 

O tratado, que deverá ter força legal, busca regular globalmente a produção, o consumo e o descarte do plástico. Todos os anos, cerca de 22 milhões de toneladas de resíduos plásticos são despejadas no meio ambiente, contaminando solos, oceanos, a biodiversidade e ameaçando a saúde humana. 

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