Prêmio Nobel da Paz: primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, é premiado por acordo que encerrou 20 anos de guerra civil

Abiy Ahmed recebeu o prêmio por seus esforços para 'alcançar a paz e a cooperação internacional'.

11 out 2019 - 10h46
(atualizado às 11h05)
Abiy Ahmed é premiado por acordo que encerrou 20 anos de guerra civil
Abiy Ahmed é premiado por acordo que encerrou 20 anos de guerra civil
Foto: Reuters / BBC News Brasil

O vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2019 foi o primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed, responsável por um acordo de paz da Etiópia com a Eritreia. O acordo encerrou um impasse militar de 20 anos, que vinha desde uma guerra na fronteira que durou de 1998 a 2000.

Abiy Ahmed recebeu o prêmio por seus esforços para "alcançar a paz e a cooperação internacional". Ele foi nomeado como vencedor do 100º Nobel da Paz em Oslo, onde receberá em dezembro o prêmio no valor de 9 milhões de coroas suecas, ou US$ 900 mil (o equivalente a R$ 3,7 milhões).

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Foram indicados 301 candidatos para o prestigiado prêmio, incluindo 223 indivíduos e 78 organizações. Entre os favoritos, estava o cacique brasileiro Raoni, líder do povo caiapó e reconhecido como um dos maiores ativistas da causa indígena no mundo.

Depois de se tornar primeiro-ministro, em abril de 2018, Abiy Ahmed promoveu grandes reformas liberalizantes na Etiópia, que era um país fortemente controlado.

Ele libertou milhares de ativistas da oposição da prisão e permitiu que dissidentes exilados voltassem para casa. Mais importante ainda, ele assinou o acordo de paz com a Eritreia.

No entanto, suas reformas também reforçaram as tensões étnicas da Etiópia e a violência resultante forçou cerca de 2,5 milhões de pessoas a abandonarem suas casas.

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Abiy Ahmed nasceu no sul da Etiópia, em 1976, filho de mãe cristã e de pai muçulmano. Hoje ele é o mais jovem chefe de governo da África.

Conflito com a Eritreia

Abiy foi premiado por sua "iniciativa decisiva para resolver o conflito de fronteira com a vizinha Eritreia", segundo o comitê responsável pelo prêmio.

"O prêmio também deve reconhecer todas as partes interessadas que trabalham pela paz e reconciliação na Etiópia e nas regiões leste e nordeste da África", disse o comitê.

"A paz não surge apenas das ações de uma parte. Quando o primeiro-ministro Abiy estendeu a mão, o presidente (eritreu Isaias) Afwerki aceitou e ajudou a formalizar o processo de paz entre os dois países. O Comitê Nobel da Noruega espera que o acordo de paz ajude a trazer mudanças positivas para toda a população da Etiópia e da Eritreia."

O gabinete de Abiy disse que o prêmio é um reconhecimento "dos ideais de unidade, cooperação e convivência mútua que o primeiro-ministro defende".

O primeiro-ministro etíope (esquerda) com o presidente da Eritreia, Isaias Afwerki
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A guerra de fronteira

Duas décadas se passaram desde que dois dos países mais pobres da África começaram a guerra de fronteira mais mortífera da história recente do continente.

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O conflito entre a Eritreia e a Etiópia deixou dezenas de milhares de mortos ou feridos em apenas dois anos. Apesar de um armistício assinado em dezembro de 2000, os dois lados continuaram em pé de guerra por muitos anos.

A guerra começou em 6 de maio de 1998, iniciada por uma batalha pelo controle da cidade fronteiriça de Badme. A cidade não tinha petróleo nem diamantes, mas, mesmo assim, a Eritreia e a Etiópia a disputavam.

Na época, a guerra era descrita como "dois homens carecas brigando por um pente".

À medida que a guerra cresceu, também aumentou o deslocamento em massa das comunidades, o que destruiu famílias dos dois lados. Além disso, o impacto econômico também foi significativo.

A guerra terminou em junho de 2000 e depois foi assinado um acordo de paz, estabelecendo a Comissão de Fronteira Eritreia-Etiópia. No entanto, a decisão final, 18 meses depois, de conceder Badme à Eritreia não foi aceita pela Etiópia sem as condições prévias ou novas negociações. E a Eritreia, por sua vez, se recusava a conversar com Etiópia.

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População celebra a reabertura da fronteira terrestre entre Etiópia e Eritreia
Foto: AFP / BBC News Brasil

Em 2018, o então recém-eleito primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, pediu uma resolução pacífica do impasse.

Ele suspendeu o estado de emergência e desbloqueou centenas de sites e canais de TV que estavam sob censura.

Abiy Ahmed também colocou fim ao estado de guerra com a Eritreia, concordando em desistir da disputa pelo território fronteiriço, durante o processo de normalizar as relações com o inimigo de longa data.

Mas há oposição em relação ao ritmo da mudança. Em junho de 2018, Abiy foi alvo de um ataque, com duas pessoas mortas em uma explosão em um comício de apoio a ele. Também há oposição a ele na Província de Tigray, que costumava dominar o país.

Abiy Ahmed se tornou primeiro-ministro em 2 de abril de 2018, após a inesperada renúncia de Hailemariam Desalegn. Em maio, liberou milhares de detidos políticos, incluindo o líder da oposição Andargachew Tsege. Em junho, ele concordou em aceitar a decisão que concede território de fronteira à Eritreia.

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Ao lado do presidente da Eritreia, ele declarou o fim da guerra entre os dois países em 9 de julho. Em setembro, reabriu a fronteira terrestre com a Eritreia. Já em outubro, nomeou mulheres para metade dos cargos ministeriais.

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