Uma das várias questões levantadas no longa Conclave (2024) e estrelado por Ralph Fiennes e dirigido por Edward Berger, é a existência de "cardeais secretos". O filme, indicado ao Oscar na categoria de Melhor Filme, é o mais visto no streaming desde a morte do papa Francisco, na última segunda-feira, 21.
No longa, o cardeal Vincent Benitez, interpretado pelo ator mexicano Carlos Diehz, foi nomeado in pectore (do peito, em tradução literal do latim), chega de última hora no conclave e mexe com as estruturas de um dos pleitos mais secretos da humanidade.
Apesar de bastante emocionante, esse acontecimento teria pouco lastro na realidade. No próximo conclave, que vai eleger o sucessor do papa Francisco, não há vez para "cardeais secretos".
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Cardeais in pectore existem no mundo real desde o século XVI. Esse tipo de nomeação foi uma maneira encontrada por diferentes pontífices para evitar riscos de perseguições a lideranças religiosas em contextos sensíveis, como, por exemplo, aquelas originárias de países que promoviam intolerância e violência física contra cristãos.
Segundo o Frei Ricardo Farias O.F.M., doutor em Liturgia pelo Pontifício Ateneu Santo Anselmo, em Roma, um cardeal nomeado dessa maneira não pode ser ordenado o posto oficial, até que seu nome se torne público. Dessa forma, o religioso também não faz parte do colégio de cardeais e não pode votar durante o conclave.
“O papa pode anunciar que nomeou um cardeal in pectore, e, ainda em vida, precisa revelar seu nome. Se isso não acontecer, essa nomeação deixa de existir”, explica o frei.
As nomeações de novos cardeais acontecem em consistórios, que são uma espécie de reunião de cardeais na qual o papa costuma apontar novos integrantes deste grupo. Existe um tempo entre a nomeação de um cardeal e a sua ordenação, realizada pelo próprio pontífice.
Atualmente, existe um caso de um cardeal nomeado "em segredo": Janis Pujats, arcebispo emérito de Riga, na Letônia. Pujats foi nomeado in pectore pelo Papa João Paulo II, em 1998. A nomeação foi divulgada em 2001, durante o consistório daquele ano.
O religioso sofreu perseguições ao longo de sua vida do governo da União Soviética, que fechou em 1951 o Seminário Teológico de Riga, onde ele estudava. Posteriormente, na década de 1980, ele foi declarado persona non grata pela KGB, a polícia secreta soviética.
“O filme se permite certas liberdades poéticas, e pode se permitir a isso, porque é uma ficção. Mas, na realidade, isso nem aconteceria, porque talvez nem mesmo aquele que foi escolhido in pectore tivesse ciência da sua nomeação”, afirma Farias.
Na ficção, que ganhou o Oscar de melhor roteiro adaptado em 2025, Benitez é eleito depois de um turbulento conclave, no qual o cardeal inglês Lawrence (Ralph Fiennes) se esforça para o trono ir para a mão do melhor candidato. Após o anúncio de Benitez como papa, Lawrence descobre que o novo líder da Igreja é uma pessoa intersexo, carregando tanto características masculinas quanto femininas desde o nascimento. A revelação chocante acaba se tornando uma oportunidade para o inglês reconsiderar sua própria fé e os rumos da Igreja.
Morte do papa
Francisco morreu na segunda-feira, 21, aos 88 anos. Ele sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e teve insuficiência cardíaca. De acordo com o relatório médico, o papa tinha histórico de insuficiência respiratória aguda causada por pneumonia bilateral multimicrobiana, bronquiectasias múltiplas, hipertensão arterial e diabetes tipo II.
Nesta quarta-feira, 23, às 6h, horário do Brasil, foi aberto ao público o velório do corpo do papa Francisco na Basílica de São Pedro, no Vaticano.
A visitação poderá ser feita até às 19h, horário de Brasília. Na quinta-feira, 24, e na sexta-feira, 25, a visitação será permitida das 2h às 19h, também de acordo com a hora do Brasil.
O funeral --com a presença de chefes de Estado-- foi marcado para sábado, dia 26, às 5h, horário de Brasília.
Até o enterro, serão três dias de velório, com visitação pública ao corpo. Antes da liberação para entrada na basílica, uma fila quilômétrica já se formava nos arredores.