O Mercosul suspendeu a participação do Paraguai na Reunião de Cúpula de presidentes programada para a próxima semana, na cidade argentina de Mendoza, anunciou neste domingo a chancelaria argentina. O bloco decidiu "suspender o Paraguai, de forma imediata e por este ato, do direito de participar da XLIII Reunião do Conselho do Mercado Comum e Reunião de Cúpula de Presidentes do Mercosul, bem como das reuniões preparatórias", diz o comunicado argentino.
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Horas antes, o chanceler do novo governo paraguaio, José Félix Fernández, havia confirmado presença na reunião, apesar de o ex-presidente Fernando Lugo, destituído na última sexta-feira, também ter dito que iria ao encontro. O comunicado da chancelaria argentina expressa a "mais enérgia condenação à ruptura da ordem democrática ocorrida no Paraguai, por não ter sido respeitado o devido processo".
A "Declaração dos Estados-Membros do Mercosul e Estados Associados sobre a Ruptura da Ordem Democrática no Paraguai" foi assinada por Brasil, Argentina, Uruguai, Venezuela, Chile, Bolívia, Colômbia, Equador e Peru. Os nove signatários assinalam que, na reunião de Mendoza, serão discutidas "medidas a serem aprovadas" contra o novo governo paraguaio.
A suspensão da participação paraguaia se baseia no Protocolo de Ushuaia sobre Compromisso Democrático do Mercosul, assinado em 24 de julho de 1998, o qual estabelece que "a plena vigência das instituições democráticas é condição essencial para o desenvolvimento do processo de integração", lembra o comunicado.
Processo relâmpago destitui Lugo da presidência
No dia 15 de junho, um confronto entre policiais e sem-terra em uma área rural de Curaguaty, ligada a opositores, terminou com 17 mortes. O episódio desencadeou uma crise no Paraguai, na qual o presidente Fernando Lugo, acusado pelo ocorrido, foi sendo isolado no xadrez político. Seis dias depois, a Câmara dos Deputados aprovou de modo quase unânime (73 votos a 1) o pedido de impeachment do presidente. No dia 22, pouco mais de 24 horas depois, o Senado julgou o processo e, por 39 votos a 4, destituiu o presidente.
A rapidez do processo, a falta de concretude das acusações e a quase inexistente chance de defesa do acusado provocaram uma onda de críticas entre as lideranças latino-americanas. Lugo, por sua vez, não esboçou resistência e se despediu do poder com um discurso emotivo. Em poucos instantes, Federico Franco, seu vice, foi ovacionado e empossado. Ele discursou a um Congresso lotado, pedindo união ao povo paraguaio - enquanto nas ruas manifestantes entravam em confronto com a polícia -, e compreensão aos vizinhos latinos, que questionam a legitimidade do ocorrido em Assunção.