Teólogo da Libertação Gutiérrez aplaude abertura do papa Francisco

12 mai 2015 - 12h39

A beatificação iminente do arcebispo salvadorenho Óscar Romero significa a queda de um muro, afirmou nesta terça-feira o teólogo da libertação peruano Gustavo Gutiérrez.

Em uma coletiva de imprensa, o sacerdote peruano comemorou a inflexão operada pelo papa argentino Francisco, simbolizada, em particular, pela beatificação em 23 de maio do bispo de San Salvador Óscar Romero, assassinado em 1980 por um comando de ultradireita.

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"Sem que tenha ocorrido uma mudança radical, o testemunho de Francisco é muito mais claro", declarou Gutiérrez.

Por outro lado, o Vaticano relançou os casos de um bispo argentino, Enrique Angelelli, assassinado em 1976, e do "bispo dos pobres", o brasileiro Dom Hélder Câmara, morto em 1999 e considerado um "bispo vermelho" pelos mais conservadores.

Ao ser perguntado se com estas iniciativas caiu um muro entre o Vaticano e os teólogos da libertação, Gustavo Gutiérrez respondeu: "Sim, caiu um certo muro. E o que mudou é o sentido que se dá ao martírio. O martírio era reconhecido antes quando a morte ocorria por ódio à fé. Mas não foi o caso de Romero nem de Angelelli, assassinados por pessoas batizadas", comentou Gutiérrez, considerado um dos pais da teologia da libertação.

Gutiérrez comemorou uma "extensão do que significa o martírio", que agora é reconhecido para as pessoas "assassinadas por Deus, pela Igreja e pelo povo".

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O teólogo afirmou que "nunca houve uma condenação da Teologia da Libertação" sob os pontificados do polonês João Paulo II e do alemão Bento XVI, mas reconheceu que ocorreram "momentos difíceis e um diálogo muito crítico".

"A opção preferencial pelos pobres, que constitui 90% desta teologia, nunca foi questionada em Roma", disse.

Os problemas do Vaticano com a Teologia da Libertação remontam ao início do pontificado de João Paulo II, que via com muito receio as tendências marxistas desta concepção da Igreja católica nascida na América Latina nos anos 1970.

O papa polonês, um anticomunista notório, disse em 1979 que "uma concepção de Cristo como político, como revolucionário, como o subversivo de Nazaré, não corresponde à catequese da Igreja".

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