A mudança, que faz parte da proposta de orçamento para 2026, contou com apoio majoritário do Partido Socialista (PS - esquerda), dos Verdes e do Reunião Nacional (RN - extrema direita), além de abstenções do partido centrista Renascença. Já a França Insubmissa (LFI - esquerda radical) e os Comunistas votaram contra, denunciando o projeto como um mero "atraso" na implementação da principal reforma do segundo mandato do presidente Emmanuel Macron.
"Votar pelo adiamento da reforma da Previdência é votar pela aposentadoria aos 64 anos. Jamais validaremos os dois anos de vida roubados do povo francês", declarou a líder dos deputados da LFI, Mathilde Panot, no plenário.
Por razões opostas, a suspensão também enfrentou resistência na direita: o grupo de deputados do partido Os Republicanos (LR) votou contra. De acordo com o presidente da legenda, Bruno Retailleau, essa foi "uma vitória temporária para o Partido Socialista e uma decisão irresponsável". Ele descreveu a suspensão como uma "capitulação", acusando o governo de "covardia" e de ter cedido à "ditadura" do PS.
"Estou consternado com a covardia do governo, que acaba de sacrificar o futuro das novas gerações por sua sobrevivência política", declarou Retailleau, acrescentando que a medida "custará bilhões à França".
Aliado próximo do presidente Emmanuel Macron, o primeiro-ministro Sébastien Lecornu havia prometido suspender a reforma, que eleva gradualmente a idade legal de aposentadoria para 64 anos, a fim de levar os socialistas à mesa de negociações.
Os deputados do campo presidencial decidiram se abster e, assim, não impedir uma votação favorável. "Não queremos atrapalhar o compromisso" alcançado entre o primeiro-ministro Sébastien Lecornu e os socialistas, explicou o deputado e ex-premiê Gabriel Attal, presidente do grupo Juntos pela República (EPR) na Assembleia Nacional.
O partido Reunião Nacional, liderado por Marine Le Pen, que possui o maior número de deputados na Assembleia, é contra a reforma e votou a favor da suspensão.
O texto suspende até janeiro de 2028 o aumento gradual da idade de aposentadoria para 64 anos, bem como o aumento do número de trimestres de contribuições exigidos.
Essa é uma importante concessão do governo de Sébastien Lecornu ao Partido Socialista para evitar ser censurado no Parlamento e garantir sua sobrevivência. A reforma, adotada com grande dificuldade há dois anos, foi um ponto crucial nas discussões orçamentárias.
Vitória temporária
O primeiro-secretário do Partido Socialista, Olivier Faure, saudou "uma vitória importante", afirmando que a questão das pensões será "um dos principais debates da eleição presidencial de 2027". Dizendo-se "muito orgulhoso" desta votação, Faure enfatizou tratar-se de "uma vitória temporária", diante da possibilidade de revogação da reforma caso a esquerda chegue ao poder.
O Medef (Confederação Empresarial Francesa) condenou a suspensão como um "erro fatal" do governo. A questão também divide os sindicatos: a CFDT (Confederação Democrática Francesa do Trabalho) saudou uma "verdadeira vitória", enquanto a CGT (Confederação Geral do Trabalho) criticou o que considera um "mero adiamento".
Ainda há um longo caminho para ratificar a suspensão da reforma, que será recebida com hostilidade no Senado, onde será analisada a partir de sábado em comissão e em 19 de novembro no plenário.
Com RFI e agências