De liberdade a eixo do mal: conheça história do discurso do Estado da União

Discurso ganhou grandes proporções quando passou a ser televisionado, em 1947

12 fev 2013 - 14h31
(atualizado em 13/2/2013 às 08h26)
Barack Obama fez seu primeiro discurso oficial do Estado da União em 2010, seu segundo ano de mandato
Barack Obama fez seu primeiro discurso oficial do Estado da União em 2010, seu segundo ano de mandato
Foto: AFP

O discurso do Estado da União é uma tradição da política americana. Criado a partir de uma exigência constitucional de que o presidente incumbente deve anualmente se dirigir ao Congresso para falar sobre o seu governo, o evento chega nesta terça-feira à 224º edição com o novo pronunciamento que Barack Obama fará ao Congresso.

O primeiro discurso de um presidente americano destinado ao Parlamento do país foi feito por George Washington em 1790, em Nova York, então capital provisória dos Estados Unidos. A marca de seu primeiro discurso, feito um ano após a ratificação da Constituição, foi a defesa da necessidade dos Estados Unidos estarem preparados para a guerra como a "forma mais eficiente de preservar a paz", lançando as bases para o que seria um dos pilares do jovem país.  

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A prática, no entanto, foi descontinuada por outro dos chamados "pais fundadores". Em 1801, Thomas Jefferson passou a enviar cartas aos legisladores em vez de fazer um pronunciamento de corpo presente por considerar que a última opção era uma prática muito ligada à monarquia.

Em 1913, o democrata Woodrow Wilson recuperou o evento. O termo Estado da União foi cunhado 21 anos mais tarde, em 1934, quando o também democrata Franklin D. Roosevelt usou a frase para se referir ao seu pronunciamento. O termo passaria a ser amplamente adotado em 1947, com o início das transmissões televisivas do evento.

Desde então, os presidentes americanos anualmente, com algumas exceções em que preferem enviar uma carta, comparecem ao plenário do Congresso no início de cada ano de mandato para delinear a sua agenda para o restante do calendário. O democrata Jimmy Carter, em 1981, foi o último a enviar seu discurso por escrito em vez de falar de corpo presente aos parlamentares.

Richard Nixon fala ao Congresso durante pronunciamento de 1973
Foto: AFP

Momentos históricos

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Em seus mais de 200 anos de existência, o discurso do Estado da União já trouxe postulados que mudariam para sempre a política americana e a geopolítica mundial.

Em 2 de dezembro de 1823, o presidente James Monroe - em seu sétimo pronunciamento ao Congresso - delineou os princípios da Doutrina Monroe, pregando a não intervenção dos países europeus no continente americano e a não intervenção dos Estados Unidos em conflitos do outro lado do Atlântico. Esta doutrina ancorou a posição americana na política externa por décadas.

Em 6 de janeiro de 1941, em plena Segunda Guerra Mundial, Franklin D. Roosevelt propôs que os Estados Unidos se erguessem como defensores das "Quatro Liberdades" fundamentais ao redor do mundo. Os direitos a serem defendidos seriam: liberdade de discurso e de expressão, liberdade de credo, liberdade da pobreza e liberdade do medo. O discurso de FDR pavimentou o caminho para a entrada do Exército americano no conflito mundial.

Falando ao Congresso em 8 de janeiro de 1964, Lyndon B. Johnson propôs a "Guerra contra pobreza", em que defendia uma série de programas sociais que viriam a ser conhecidos como a "Grande Sociedade", entre eles: extensão do salário mínimo, seguro saúde para pobres e idosos, proteção do direito de voto aos afro-americanos, ajuda federal à educação, etc.

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Em 2002, George W. Bush acusou Iraque, Irã e Coreia do Norte de fazerem parte do Eixo do Mal
Foto: AFP

Em 29 de janeiro de 2002, o então incumbente George W. Bush também fez um discurso marcante para a política americana. Em plena "Guerra ao Terror" ele identificou a Coreia do Norte, o Irã e o Iraque como parte de um "Eixo do Mal" que representava uma significativa ameaça aos Estados Unidos. Em 2003, o país iniciou uma guerra contra o Iraque e, ainda que não tenho tomado parte em ações militares contras as outras duas partes do eixo, as relações seguem ásperas com os dois países, com um conflito com o Irã no horizonte.

Televisão

Muito da atual importância atual do discurso do Estado da União advém do progresso dos meios de comunicação. Roosevelt, um dos mais sagazes presidentes em termos comunicacionais, soube aproveitar o rádio para fazer suas palavras ao Congresso ecoarem pelo território americano. Contudo, foi a televisão que de fato popularizou o evento. A primeira transmissão televisiva do discurso ocorreu em 1947. De olho em alcançar uma maior audiência, dezoito anos mais tarde, em 1965, Lyndon Johson mudava o horário do pronunciamento para a faixa nobre noturna da programação, posto que ocupa até hoje.

Todas as emissoras de televisão de canal aberto são obrigadas a retransmitir o discurso. Em 1993, 67 milhões de americanos assistiram ao presidente Bill Clinton discursar ao Congresso. Já o atual presidente, Barack Obama, obteve sua melhor resposta da audiência em 2009, em um pronunciamento ao Congresso que não foi considerado o discurso do Estado da União, quando mais de 52 milhões de pessoas acompanharam o evento pela TV. Ano passado, a audiência foi de pouco menos de 38 milhões de espectadores.

Obama e a união

Nesta terça-feira, Obama fará pela quarta vez o discurso do Estado da União.

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Em 2012, Obama fez um discurso permeado pelo tom eleitoral
Foto: AFP

Em 2009, poucas semanas após assumir a presidência dos EUA, ele fez uma espécie de discurso do Congresso e centrou suas palavras em retirar o país da gigantesca crise econômica vivenciada, especialmente, no último ano da gestão de George W. Bush. Ele também frisou que seu governo significava uma mudança de rumo em relação ao seu antecessor.

Em 2010, Obama realizou seu primeiro discurso oficial do Estado da União. Na ocasião, ele optou por tirar o foco de sua então polêmica proposta de reforma no sistema de saúde e concentrar suas palavras na luta nacional pela recuperação do mercado de trabalho. Em fevereiro de 2010, a taxa de desemprego estava na casa dos 9,7%, uma das maiores desde a crise do início dos anos 80.

Em 2011, após seu Partido Democrata sofrer um forte revés nas eleições legislativas, Obama utilizou o púlpito do Congresso para convocar a nação a sair da complacência e sustentar o sonho americano, pedindo inovação e formas orçamentárias que considerava vitais para que os EUA seguissem na liderança de um mundo cada vez mais competitivo.

Em 2012, já em meio à campanha para a reeleição, Obama focou seu discurso na necessidade de se combater a desigualdade social nos Estados Unidos. Em tom confrontador, ele esboçou o plano econômico que lançaria durante o enfrentamento com o republicano Mitt Romney, então considerado pelos americanos como mais apto para lidar com a ainda cambaleante economia do país.

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Fonte: Terra
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