Enviado dos EUA anuncia retorno de reféns em Tel Aviv e reforça papel de Trump em acordo com Hamas

No segundo dia do cessar-fogo entre Israel e o Hamas, o enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, afirmou em Tel Aviv que os reféns israelenses em Gaza "vão voltar para casa". O discurso, feito diante de milhares de pessoas na Praça dos Reféns, neste sábado (11), foi marcado por aplausos e manifestações de apoio ao presidente Donald Trump, principal articulador do acordo que prevê a libertação de 48 reféns em troca de cerca de 2 mil prisioneiros palestinos.

11 out 2025 - 15h21
(atualizado às 15h27)

No segundo dia do cessar-fogo entre Israel e o Hamas, o enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, afirmou em Tel Aviv que os reféns israelenses em Gaza "vão voltar para casa". O discurso, feito diante de milhares de pessoas na Praça dos Reféns, neste sábado (11), foi marcado por aplausos e manifestações de apoio ao presidente Donald Trump, principal articulador do acordo que prevê a libertação de 48 reféns em troca de cerca de 2 mil prisioneiros palestinos.

Pessoas seguram fotos de reféns israelenses enquanto se reúnem na "Praça dos Reféns" em Tel Aviv, para comemorar o acordo assinado entre Israel e o Hamas para uma troca de reféns por prisioneiros, baseada em um plano de 20 pontos proposto pelo presidente norte-americano Donald Trump, em 11 de outubro de 2025.
Pessoas seguram fotos de reféns israelenses enquanto se reúnem na "Praça dos Reféns" em Tel Aviv, para comemorar o acordo assinado entre Israel e o Hamas para uma troca de reféns por prisioneiros, baseada em um plano de 20 pontos proposto pelo presidente norte-americano Donald Trump, em 11 de outubro de 2025.
Foto: AFP - JACK GUEZ / RFI

"Seu sofrimento comoveu o mundo", disse Witkoff às famílias dos sequestrados, em um tom emocional que buscava reforçar o compromisso da Casa Branca com a resolução do impasse. O enviado também afirmou que os EUA responsabilizarão o Hamas por qualquer dano aos reféns e que "fará o que for certo pelo povo de Gaza".

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Apesar da recepção calorosa por parte de parte do público, o discurso de Witkoff foi visto com ceticismo por algumas famílias, que afirmaram à imprensa local que "nada de novo foi dito" e que as promessas soam como retórica política em um momento de fragilidade emocional.

O cessar-fogo, mediado por Trump com apoio do Egito, Catar e Turquia, marca uma pausa em dois anos de guerra devastadora. O plano prevê, além da troca de reféns e prisioneiros, a retirada parcial das tropas israelenses e o aumento da ajuda humanitária à população palestina. No entanto, pontos centrais como o desarmamento do Hamas e a governança futura de Gaza seguem indefinidos.

A presença de bandeiras norte-americanas ao lado das israelenses e os gritos de "Thank you, Trump!" durante o evento evidenciam o esforço da atual administração dos EUA em capitalizar politicamente o acordo. Trump, que já declarou publicamente que "merece o Nobel da Paz", tem usado o episódio para reforçar sua imagem de estadista global, apesar das críticas de que sua atuação anterior no conflito foi marcada por hesitação e alinhamento automático com o governo israelense.

Situação continua delicada

A situação, no entanto, permanece delicada. Dos 251 reféns sequestrados em 7 de outubro de 2023, apenas cerca de 20 são considerados vivos. Vídeos divulgados recentemente por grupos armados palestinos mostram alguns dos cativos em condições alarmantes, o que aumentou a pressão sobre o governo israelense e os mediadores internacionais.

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Enquanto parte da população israelense celebra a possibilidade de reencontro com os entes queridos, outras famílias se preparam para enterrar os corpos de parentes mortos. "Vivemos um momento de euforia e luto ao mesmo tempo", disse Benjy Maor, cidadão israelo-americano que participa das vigílias semanais na Praça dos Reféns. "É um alívio, mas também uma dor profunda."

O acordo atual é o terceiro cessar-fogo desde o início da guerra. Os anteriores, em novembro de 2023 e no início de 2025, fracassaram após breves períodos de trégua. A comunidade internacional observa com cautela os desdobramentos, ciente de que a paz duradoura na região ainda está longe de ser alcançada.

Troca por prisioneiros palestinos

O acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas prevê a libertação de 48 reféns israelenses mantidos na Faixa de Gaza desde o ataque de 7 de outubro de 2023. Desses, 20 estariam vivos e 28 mortos, cujos corpos também devem ser devolvidos. Em contrapartida, Israel se comprometeu a libertar 2.000 prisioneiros palestinos, incluindo 250 condenados à prisão perpétua por envolvimento em atentados, além de 1.700 detidos durante os dois anos de guerra, entre eles mulheres e menores de idade.

A troca será realizada em duas etapas. Na primeira, os 48 reféns israelenses serão entregues em até 72 horas após a retirada parcial das tropas israelenses de Gaza. Os prisioneiros palestinos estão sendo reagrupados em prisões como Ofer (na Cisjordânia) e Ketziot (no sul de Israel), de onde serão transferidos para Gaza, Cisjordânia ou países terceiros, como Egito e Turquia, dependendo de sua origem e grau de periculosidade. A Cruz Vermelha e uma força internacional com cerca de 200 militares norte-americanos e observadores árabes atuarão na supervisão da operação. 

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O acordo também prevê a retirada das tropas israelenses para uma linha pré-definida, reduzindo sua presença de 75% para cerca de 53% do território de Gaza. Essa movimentação visa facilitar o retorno de mais de 500 mil palestinos deslocados para o norte do enclave, embora o Exército de Israel tenha alertado que algumas áreas ainda são consideradas perigosas. A entrada de ajuda humanitária foi autorizada, com a expectativa de que 400 caminhões por dia levem alimentos, medicamentos e combustível para a população civil, que enfrenta uma crise humanitária severa após dois anos de conflito.

Apesar do avanço diplomático, pontos sensíveis permanecem em aberto, como o desarmamento do Hamas — exigência de Israel que o grupo islamista rejeita — e a definição sobre a governança futura da Faixa de Gaza. O Hamas insiste que só aceitará discutir o desarmamento após o reconhecimento de um Estado palestino soberano com capital em Jerusalém Oriental. A comunidade internacional acompanha com cautela a implementação do acordo, ciente de que as fases seguintes serão ainda mais complexas e que o sucesso da trégua dependerá da confiança mútua e da pressão contínua dos mediadores.

Com AFP

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