Um grupo de consultores de vacinas descartou na sexta-feira recomendação de longa data para que todas as crianças dos EUA recebam a vacina contra a hepatite B ao nascer, uma importante vitória política para o secretário de Saúde Robert F. Kennedy Jr. que, segundo especialistas em doenças, reverterá décadas de ganhos na saúde pública.
O comitê votou para manter a dose ao nascer apenas para bebês cujas mães tenham resultado positivo para o vírus, substituindo a recomendação universal de 1991 que protegia todas as crianças contra infecções por hepatite B, que podem levar a doenças hepáticas graves.
Para bebês de mães com teste negativo, o painel recomendou que os pais, em consulta com um profissional de saúde, decidam quando ou se seu filho começará a série de vacinas. De acordo com a recomendação descartada, a dose de nascimento é seguida por mais duas vacinas, entre 1 e 2 meses e entre 6 e 18 meses.
O comitê recomendou que os pais ofereçam a primeira dose não antes dos dois meses de idade e que façam o teste de anticorpos contra a hepatite B nas crianças antes de decidir dar as vacinas subsequentes.
Especialistas em saúde pública criticaram a medida, dizendo que a decisão de mudar para a tomada de decisão clínica compartilhada criaria obstáculos ao uso de vacinas e que os pais já têm controle sobre os cuidados com seus filhos.
O dr. William Schaffner, especialista em medicina preventiva e doenças infecciosas do Vanderbilt University Medical Center e ex-membro do comitê, disse que as organizações médicas dos EUA não apoiaram a medida.
"Acho que a Academia Americana de Pediatria, o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas e outras sociedades importantes continuarão a recomendar a vacina no nascimento", declarou ele.
O comitê orienta o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA sobre quais recomendações de saúde pública devem ser adotadas. As recomendações afetam a cobertura do seguro de saúde dos EUA e desempenham um papel fundamental na assistência aos médicos que estão escolhendo as vacinas adequadas para os pacientes.
KENNEDY MUDA POLÍTICA DE VACINAS
Kennedy, que fundou o grupo antivacina Children's Health Defense, demitiu em junho os 17 especialistas independentes anteriores e os substituiu por um grupo que apoia amplamente seus pontos de vista, como parte de um esforço para refazer a política de vacinas dos EUA.
Essa é a mais abrangente das mudanças, que incluem o abandono de recomendações amplas para a vacina contra a Covid, o corte de financiamento para vacinas de mRNA e o aconselhamento de mães grávidas contra o uso de Tylenol, alegando, sem comprovação científica, que estudos sugerem uma ligação com o autismo.
Durante a reunião de dois dias, dois membros do comitê argumentaram veementemente contra a mudança, dizendo que não havia dados para apoiá-la e que havia décadas de informações sobre a segurança e a eficácia da vacina.
"Veremos mais crianças, adolescentes e adultos infectados com hepatite B", disse Joseph Hibbeln, ex-funcionário do National Institutes of Health.
Muitos membros do comitê argumentaram que não havia dados que demonstrassem que a vacina é segura e disseram que os EUA estavam em descompasso com outros países.
"As pessoas deveriam desconfiar muito, muito mesmo, quando alguém lhes diz que algo é seguro, especialmente uma vacina", afirmou o membro do comitê Retsef Levi, matemático do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
A Organização Mundial da Saúde recomenda que todos os bebês recebam a vacina contra a hepatite B assim que possível após o nascimento, seguida de duas ou três doses da vacina com pelo menos quatro semanas de intervalo. Ela afirma que 95% dos recém-nascidos infectados desenvolverão hepatite crônica.