Atentado em Bondi, na Austrália, deixou 15 mortos em festa judaica, com suspeitos ligados ao Estado Islâmico; governo reavalia leis de armas após o incidente.
Os dois suspeitos do ataque terrorista a uma festa judaica na praia australiana de Bondi, em Sydney, teriam se inspirado na organização islamista "Estado Islâmico2 (EI), afirmou nesta terça-feira (16/12) a comissária da Polícia Federal da Austrália, Krissy Barrett.
O pior atentado na Austrália em quase 30 anos, no qual 15 pessoas foram assassinadas e um dos atiradores foi morto pela polícia, está sendo investigado como um ato de terrorismo contra a comunidade judaica.
"Os primeiros indícios apontam para um ataque terrorista inspirado pelo 'Estado Islâmico', supostamente cometido por um pai e um filho", disse Barrett em coletiva de imprensa. "Essas são as supostas ações daqueles que se alinharam a uma organização terrorista, não a uma religião", sublinhou.
As autoridades disseram que os suspeitos do ataque eram pai e filho, de 50 e 24 anos. O homem mais velho, identificado pelas autoridades estaduais como Sajid Akram, foi morto a tiros. Seu filho, Naveed Akram, está em estado crítico em um hospital.
Pela primeira vez desde o atentado, as autoridades comentaram em uma coletiva de imprensa a possível associação dos suspeitos com um grupo terrorista. O primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese , disse que as conclusões foram baseadas nas evidências obtidas, incluindo "a presença de bandeiras do 'Estado Islâmico' no veículo apreendido" dos suspeitos.
Segundo a polícia, um veículo encontrado próximo ao local do ataque, registrado em nome do suspeito mais jovem, continha artefatos explosivos improvisados e duas bandeiras associadas ao EI, grupo designado como organização terrorista pela Austrália e vários outros países.
Viagem às Filipinas sob suspeita
Os dois suspeitos viajaram para as Filipinas semanas antes do ataque, o que também está sob investigação. As autoridades de imigração filipinas disseram que ambos viajaram para Manila e depois para Davao em 1º de novembro e deixaram o país em 28 do mesmo mês, apenas algumas semanas antes do tiroteio em Bondi. O pai viajou com passaporte indiano, enquanto o filho estava com passaporte australiano.
Sabe-se que redes ligadas ao "Estado Islâmico" atuam nas Filipinas e exercem alguma influência no sul do país. Nos últimos anos, essas redes foram reduzidas a células enfraquecidas que operam na ilha de Mindanao, muito aquém da escala de influência que exerciam há até poucos anos.
Grupos de militantes separatistas muçulmanos, incluindo o Abu Sayyaf no sul das Filipinas, já declararam apoio ao "Estado Islâmico" e abrigaram no passado pequenos grupos de terroristas estrangeiros da Ásia, do Oriente Médio e da Europa.
Contudo, décadas de ofensivas militares, enfraqueceram consideravelmente o Abu Sayyaf e outros grupos armados semelhantes. Autoridades militares e policiais filipinas afirmam que não há indícios recentes da presença de combatentes estrangeiros no sul do país.
Polícia investiga antecedentes dos suspeitos
Vídeos surgiram mostrando o suspeito mais jovem pregando o Islã em frente a estações de trem nos subúrbios de Sydney. As autoridades ainda tentam entender o que o levou a se radicalizar e optar pelo caminho da violência.
A polícia revistou duas casas em Sydney onde os suspeitos teriam vivido. De acordo com a polícia, o pai possuía seis armas de fogo de cano longo legalmente registradas, entre fuzis de caça e pelo menos uma escopeta. Todas teriam sido utilizadas no ataque. Ele obteve sua licença para portar armas em 2023. Além disso, comissário de polícia de Nova Gales do Sul, Mal Lanyon, afirmou que o pai era membro de um clube de caça.
Há seis anos, os serviços secretos australianos já haviam investigado possíveis ligações de um dos suspeitos com o "Estado Islâmico". A imprensa local informou que o pai imigrou para a Austrália em 1998 com um visto de estudante e que o filho nasceu posteriormente no país. Os dois disseram aos familiares que iriam pescar no fim de semana. Não há informações sobre qual era a nacionalidade do pai.
Após o massacre deste domingo, 25 pessoas ainda estão sendo tratadas em hospitais, sendo que dez estão em estado grave. Outras três estão internadas em um hospital infantil. Entre as pessoas hospitalizadas está Ahmed al Ahmed, que foi filmado imobilizando e desarmando um dos agressores.
As vítimas tinham entre 10 e 87 anos. Elas estavam celebravam o feriado judaico de Chanucá na praia mais famosa da Austrália. Entre os mortos estão uma criança de dez anos e um sobrevivente do Holocausto.
Série de incidentes antissemitas na Austrália
O embaixador israelense na Austrália, Amir Maimon, visitou Bondi nesta terça-feira e instou o governo australiano a tomar todas as medidas necessárias para garantir a segurança dos judeus no país.
"Somente os australianos de fé judaica são forçados a adorar seus deuses atrás de portas fechadas, câmeras de segurança e guardas", disse Maimon a repórteres em Bondi, após depositar flores em um memorial improvisado e prestar suas homenagens às vítimas. "Meu coração está despedaçado. Isso é insano."
Uma série de incidentes antissemitas ocorreu na Austrália nos últimos 16 meses, levando o chefe da principal agência de inteligência do país a declarar que o antissemitismo era sua principal prioridade.
Austrália reavalia leis de armas
As leis de armas de fogo da Austrália estão sendo reexaminadas pelo governo federal. Albanese e lideranças de alguns estados australianos prometeram endurecer a já rigorosa legislação do país, no que deverão ser as reformas mais abrangentes desde que um atirador matou 35 pessoas em Port Arthur, na Tasmânia, em 1996. Desde então, tiroteios em massa na Austrália têm sido raros.
Estão sendo avaliadas formas de aprimorar as checagens de antecedentes de proprietários de armas e uma restrição de acesso a certos modelos. Além disso, quem não tiver cidadania australiana não poderá adquirir uma licença para o porte de armamentos - um dos atiradores de Sydney era estrangeiro e vivia no país como residente legal.
A Austrália já possui uma rígida legislação de acesso a armas, que entrou em vigor há três décadas, após um homem matar 35 pessoas a tiros em 1996, em Port Arthur, no estado da Tasmânia.
Nas décadas seguintes, como resultado da legislação, o país passou a contar com uma das taxas de homicídios por arma de fogo mais baixas do mundo.
Entre julho de 2023 e junho de 2024, por exemplo, a Austrália registrou apenas 31 assassinatos relacionados a armas de fogo, uma taxa de homicídios de 0,09 por 100 mil habitantes, de acordo com dados do Instituto Australiano de Criminologia.
No entanto, alguns especialistas apontam que a legislação ainda deixou lacunas. "As características das pessoas podem mudar, elas podem se radicalizar ao longo do tempo. As licenças não devem ser eternas", disse o Albanese nesta segunda-feira.
rc/cn (Reuters, AP)