O cardeal Giovanni Angelo Becciu, condenado por desvio de recursos e fraude, busca participar do conclave para eleger o novo Papa, apesar de banido por Francisco. Ele afirma que mantém o direito por ainda ser cardeal, causando controvérsia entre os membros da Igreja.
O cardeal Giovanni Angelo Becciu, de 76 anos, ficou conhecido por gravar secretamente uma conversa telefônica com o Papa Francisco em julho de 2021.
Na ligação, Becciu tentava obter do Pontífice uma declaração que aprovasse movimentações financeiras.
A conversa foi divulgada em 2022 e ocorreu dias antes do início do julgamento que resultaria em sua condenação por desvio de recursos e fraude em 2023.
O cardeal era, à época, o número três da hierarquia católica e se tornou a autoridade de mais alto escalão da Igreja Católica Romana já julgada por um tribunal criminal do Vaticano, informou a Reuters.
Ele foi banido de participar de conclaves pelo Pontífice, que morreu nesta segunda-feira, 21.
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Caso Angelo Becciu
Na conversa com Francisco, Becciu buscava provar que tinha autorização papal para liberar fundos em uma operação para libertar uma freira colombiana refém no Mali. Francisco, que se recuperava de uma cirurgia no momento do diálogo com o cardeal, respondeu vagamente e pediu que a pergunta fosse enviada por escrito.
Ex-assessor próximo do Papa, Becciu foi condenado a cinco anos e meio de prisão e multado em 8 mil euros por desviar recursos do Óbolo de São Pedro, fundo destinado a obras de caridade. Com acusações que incluem nepotismo, corrupção e propinas, ele as nega e afirma que ainda provará sua inocência.
O escândalo do cardeal envolve ainda a compra de um edifício em Londres com recursos desviados do fundo da Igreja. Segundo ele, os donativos não foram usados na aquisição do imóvel.
Becciu no Conclave
Mesmo com a condenação, Becciu quer exercer o direito de votar no conclave que elegerá o novo Papa, após a morte de Francisco.
Ele argumenta que, como ainda mantém o título de cardeal e não foi formalmente excluído, tem o direito de participar da votação. A participação é considerada controversa entre os demais cardeais.
O cardeal foi inclusive convidado para as Congregações Gerais pré-conclave, quando afirmou ao jornal Unione Sarda que o Papa nunca o excluiu formalmente do processo, tampouco solicitou sua renúncia.
A possibilidade da presença de Becciu no conclave é vista como um fator desestabilizador, especialmente entre os setores mais conservadores do Colégio Cardinalício, que já se opunham à linha reformista de Francisco.