O governo do Haiti e as agências internacionais colocaram nesta segunda-feira em andamento um plano de ação para frear o avanço da cólera, que já causou 369 mortes em uma semana, segundo o ministério de Relações Exteriores da Espanha, e teme-se que a epidemia se propague à vizinha República Dominicana. As autoridades de saúde fizeram um planejamento que inclui a distribuição de cloro à população afetada pela epidemia e a instalação de centros de tratamento de cólera em diferentes regiões do país.
O diretor-geral do ministério da Saúde Pública, Gabriel Timothée, confirmou em entrevista coletiva que finalizou a construção de um desses centros em Lestère, uma região do departamento Artibonite (norte), o mais afetado pela doença, cuja origem ainda é desconhecida. As autoridades identificaram quatro locais em Porto Príncipe, entre estes Tabarre e Bon Repos (periferia norte) para a instalação dos centros.
Timothée detalhou que vai instalar uma série de pias públicas para que a população possa lavar as mãos nas áreas afetadas pela cólera, cuja origem poderia estar relacionada com um rio contaminado que fica muito perto de Artibonite, afirma Unicef. Nesse sentido, o funcionário destacou a "bem-sucedida" experiência realizada em Mirebalais com iniciativas deste tipo, nas quais atuam os médicos da brigada cubana que presta serviços no país.
Enquanto isso, na vizinha República Dominicana, o governo anunciou que reforçou a vigilância na fronteira com o Haiti para evitar a propagação da doença. Nessa região, nesta segunda-feira foram registradas cenas de tensão quando membros da polícia haitiana e da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) reprimiram com gás lacrimogêneo os haitianos que protestaram pela suspensão do mercado binacional pela cólera que afeta o vizinho país.
Além disso, a Organização Pan-americana da Saúde (OPS) advertiu que o número de casos de cólera no Haiti aumentará e a doença se propagará à República Dominicana, e recomendou fazer ênfase na prevenção. O epidemiologista da OPS, Jon Andrus, ressaltou que existe "um risco muito alto" que a cólera se propague à República Dominicana devido à porosidade e ao constante vaivém de pessoas na fronteira comum, por isso que a prioridade é estabelecer uma resposta integral para toda a ilha de Hispaniola.
Andrus indicou que a OPS junto às autoridades no Haiti mobilizam recursos e equipes de analistas para ajudar a mitigar a propagação da cólera nesse país, onde a doença já havia sido erradicada há mais de um século. Por outro lado, o ministério da saúde haitiano expressou sua preocupação pela situação nos acampamentos dos desabrigados pelo terremoto que atingiu ao país em janeiro, devido à situação de insalubridade que poderia favorecer o desenvolvimento da epidemia.
Cerca de 1,3 milhão de pessoas vive nos campos de deslocados em condições muito precárias após o terremoto que matou mais de 300 mil pessoas. "Estamos preocupados pela situação nos acampamentos de deslocados", ressaltou Timothée, por isso que recomendou uma série de medidas nesses locais como o recolhimento e a mudança diária do lixo e os sedimentos fecais.
O funcionário anunciou que o governo está em uma etapa de "mobilização comunitária e das autoridades locais para reforçar a comunicação" e desse modo prevenir a doença. Sobre a existência de material para enfrentar o surto de cólera, Timothée assinalou que "não há nenhum problema em termos de materiais e remédios".
Os remédios disponíveis no país, particularmente soro e outros produtos para hidratação, podem curar 100 mil casos de cólera, acrescentou. Explicou que o conveniente é reforçar as reservas destes materiais, incluindo colchões plásticos e produtos químicos como cloro para desinfecção e água potável. Por outro lado, as organizações humanitárias intensificaram suas tarefas contra a cólera. Por exemplo, em Saint Marc, um dos povoados mais afetados pelo surto, a Unicef informou que trabalha para aumentar sua capacidade de resposta.
"Estamos bem preparados para responder graças ao abastecimento de materiais que já tínhamos realizado na região" garantiu o coordenador do Unicef em Artibonite, Frank Kashando, quem acrescentou que, no entanto, é necessário aumentar os envios. Por sua vez, o batalhão do Exército do Chile, que faz parte da Minustah, anunciou que membros da unidade foram até Artibonite e ao departamento Norte para fazer assessoria médica na construção de um ponto de controle sanitário de emergência e entregar 2 mil litros de água potável.
Com informações de agências internacionais