Passado um ano desde o sequestro de centenas de garotas em uma escola de Chibok, no nordeste da Nigéria, ainda não se sabe o paradeiro da maioria delas. Ainda que 50 delas tenham escapado dos extremistas do Boko Haram, mais de 200 continuam desaparecidas.
E, segundo a ONG Anistia Internacional, diversas outras pessoas também estão em poder do grupo. Só mulheres nigerianas, são mais de 2 mil.
A BBC conversou com sete jovens e mulheres que tiveram suas vidas transformadas após serem detidas pelos extremistas islâmicos na região.
Deborah, 18, de Chibok, escapou dos extremistas após dois dias na floresta
Deborah conta que o Boko Haram chegou à sua escola na madrugada de 14 de abril de 2014. "Primeiro pensamos que eles fossem do Exército. Nos colocaram em caminhões e nos levaram à floresta. Disseram que não poderíamos mais ir à escola - 'Se vocês forem, mataremos vocês e suas famílias'."
"Quando chegamos (ao esconderijo), eles nos deram comida e nos disseram que cozinhássemos. Me recusei a comer; achei que preferiria morrer a ficar lá com eles."
"Disse às minhas amigas, 'temos de fugir, ou coisas piores vão acontecer conosco'. Fingimos que estávamos caminhando para fazer nossas necessidades e corrermos. Os homens do Boko Haram vieram atrás de nós, mas corremos até perdê-los de vista."
Abigail John, 17, resgatada pelo Exército
Quando o Boko Haram atacou seu vilarejo, ela conseguiu fugir, mas foi capturada pelo grupo quando este ocupou a cidade de Mubi. Ela ficou ferida em um ataque aéreo do Exército nigeriano, durante um confronto para retomar a cidade.
"O Boko Haram nos tirou da área que foi atingida (pelas bombas) e nos levou a um acampamento. Nos deram alguns ensinamentos islâmicos e trataram nossas feridas", diz ela.
"Daí eles nos levaram a uma outra casa, nos mantiveram lá e continuaram a nos ensinar sobre sua fé. Exigimos que nos devolvessem aos nossos pais, mas eles disseram que não podiam. Pediram que nós disséssemos onde nossos pais estavam, que eles iriam buscá-los."
Abigail conta que ela e os demais reféns foram deixados com uma das esposas dos militantes. "Ela cuidava de nós e cozinhava para nós. Um dia, essa mulher chegou e levou todas as nossas coisas e os utensílios que usava na cozinha. E fugiu. Os militares chegaram pouco depois e nos resgataram."
Helen, 17, viu o Boko Haram degolar sete homens
Helen foi sequestrada pelo Boko Haram quatro vezes, e escapou todas. Ela contou um desses episódios à BBC. "Quando os insurgentes chegaram à nossa aldeia, minha mãe me comprou um véu de noiva. Todos os dias eu ia para a fazenda. Mas em uma segunda-feira eu estava em casa, e os homens do Boko Haram foram à minha casa", relata.
"Eles perguntaram se havia jovens mulheres na casa; eu menti e disse que era casada. Mas eu tinha um vizinho que havia se convertido ao islã e se juntado a eles. Ele contou que eu estava mentindo."
"Eles me prenderam com outras 40 garotas. Um dia, espiando pela janela da casa onde estávamos, vimos eles com sete outros homens. Eles amarraram os homens e cortaram suas gargantas, como se fossem ovelhas."
Rukaya Ibrahim, 20: 'Eles queriam que todos praticassem sua religião'
Rukaya ficou presa em sua cidade durante um ataque do Boko Haram e acabou forçada a viver com os extremistas até que conseguiu fugir para buscar seu marido, que já havia escapado.
"Vivemos sob o Boko Haram durante cinco meses. Quando escutamos o barulho de seus veículos e motos, corremos para a floresta, mas eles nos viram e ordenaram que ficássemos parados. Não importava se você era muçulmano ou cristão - se você se recusasse a se juntar a eles, seria morto."
Ela diz que os extremistas mataram três pessoas na sua frente, degolando-as.
"Eles queriam que todos praticassem essa religião deles. Qualquer mulher cujo marido havia ido embora, eles queriam casar com ela. E queriam que todos carregassem armas, até as mulheres."
Hadiza Ibrahim, 22, 'prisioneira de guerra'
Hadiza também foi impedida de sair da mesma cidade quando esta foi invadida pelo Boko Haram.
"Eles vinham todos os dias e perguntavam onde meu marido estava. Diziam que eu agora era sua prisioneira de guerra e que a lei era: se um marido foge, sua mulher pode ser dada a outro homem."
"Eles levaram uma mulher da casa onde eu morava. Quando trouxeram ela de volta, sua mãe perguntou: 'Vocês estão devolvendo ela para mim depois de a terem manchado?' A mãe disse a eles que levassem (a filha) embora, e alguns dias depois o homem (extremista) trouxe US$ 15 para a família."
Segundo Hadiza, "eles também ameaçaram matar a minha mãe se ela não entregasse minha irmã mais jovem, mas minha mãe se recusou."
Hadiza Usman, 25: 'Meu marido escapou, mas eu não'
O Boko Haram chegou a Gwoza, a cidade de Hadiza, em agosto passado. "Sabíamos que eles matavam os homens, então meu marido se escondeu em casa. Eu não podia sair (de casa) porque tinha medo que ele fosse achado. Eventualmente (meu marido) escapou, mas eu não."
"Havia muitas mulheres deixadas na cidade e muitos boatos de grupos de mais mulheres chegando. As pessoas diziam que as garotas (sequestradas em) Chibok estavam lá, que elas estavam morando na casa de um senador", diz.
"Os boatos eram de que as meninas estavam trabalhando no hospital distribuindo medicamentos. Eu fui ao hospital diversas vezes porque meus filhos estavam doentes e vi umas mulheres, mas não sei se elas eram as meninas de Chibok."
Martha Jehova, 27: 'Batiam em nós quando não conseguíamos guardar seus ensinamentos'
"Fomos levadas de nossa aldeia a um acampamento por combatentes do Boko Haram", diz Martha, de Kamamza. "Fomos mantidas em uma casa em frente à onde moravam as garotas de Chibok. Podíamos vê-las e elas nos viam, mas não podíamos nos encontrar."
Segundo Martha, as garotas de Chibok eram tratadas "de forma diferente".
"Comíamos comida de pobre, mas elas comiam comida melhor. Às vezes eles matavam pessoas perto da água que bebíamos, mas as meninas de Chibok tinham água de torneira onde moravam."
"Eles batiam em nós quando não conseguíamos guardar seus ensinamentos. Tenho cicatrizes nas minhas costas."
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A ex-ministra da Educação da Nigéria e a vice- presidente da divisão da África do Banco Mundial participam de marcha organizada pelas mães das adolescentes sequestradas, em Abuja, em 30 de abril
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Homem pede a libertação das estudantes sequestradass pelo Boko Haram, em Lagos, em 1º de maio
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Sul-africanos protestam contra o rapto de centenas de estudantes na Nigéria pelo grupo extremista islâmico Boko Haram, durante uma marcha ao Consulado da Nigéria em Joanesburgo, na África do Sul, em 8 de maio
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Mulher participa de protesto exigindo a libertação das adolescentes sequestradas na aldeia de Chibok, em 14 de abril. No cartaz é possível ler a mensagem: "Já chega. Os sequestros precisam parar"
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Pessoas participam de protesto exigindo a libertação de meninas sequestradas na aldeia de Chibok, em Lagos, em 5 maio
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Manifestantes marcham em apoio às meninas sequestradas por membros do Boko Haram em frente à Embaixada da Nigéria, em Washington, em 6 de maio
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Ativista segura um cartaz com a frase: "E se isso acontecesse nos Estados Unidos?" durante uma manifestação em frente à embaixada da Nigéria em Washington, EUA, em 6 de maio
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Foto mostra quatro alunas da escola secundária de Chibok que conseguiram fugir do grupo Boko Haram
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Vídeo mostra o líder do grupo extremista islâmico Boko Haram Abubakar Shekau. Ele ameaçou vender as centenas de estudantes sequestradas no norte da Nigéria por cerca de R$ 26 cada
Foto: AFP
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Mulheres e crianças que sobreviveram a ataques do Boko Haram se abrigam em uma Igreja Católica em Wada Chakawa, na Nigéria, em 31 de janeiro de 2013
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Armas, munições e equipamentos do grupo Boko Haram apreendidos pela polícia são colocados em exposição em um quartel da Nigéria, em 1º de março de 2012
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Boko Haram exibe cadáveres de vítimas na cidade de Damaturu, na Nigéria, após uma série de ataques que deixaram ao menos 69 mortos, em novembro de 2011
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Menina muçulmana passa por uma casa queimada após ataque dos extremistas islâmicos do Boko Haram em Maiduguri, em 28 de janeiro
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Nigerianos se reúnem em torno de um carro queimado fora da Igreja Batista da Vitória em Maiduguri, em 25 de dezembro de 2010. Membros do grupo Boko Haram atacaram a igreja na véspera de Natal, matando o pastor, dois membros do coro e duas pessoas que passavam pelo local
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A ativista paquistanesa Malala segura um cartaz com a mensagem: "Tragam de volta as nossas meninas". Hashtag foi usada quase duas milhões de vezes durante 1 mês após o sequestro
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A primeira-dama americana Michelle Obama se manifestou na campanha "Bring back our girls". "Tal como milhões de pessoas em todo o planeta, meu marido (Barack Obama) e eu estamos indignados e arrasados em razão do sequestro de duzentas meninas nigerianas, retiradas de seus aposentos escolares, no meio da noite", afirmou a primeira-dama americana
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Mulheres francesas levantam cartazes onde se lê: "Traga de volta as nossas meninas", durante uma manifestação perto da Torre Eiffel, em Paris, na terça-feira, 13 de maio
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As ex-primeiras-damas francesas Carla Bruni-Sarkozy e Valerie Trierweiler se uniram a políticas e artistas durante uma manifestação perto da Torre Eiffel, em Paris, para pedir ajuda política do governo francês pela busca das meninas sequestradas na Nigéria no mês passado
Foto: AP
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A ex-primeira-dama francesa Valerie Trierweiler segura um cartaz onde se lê: "Traga de volta as nossas meninas", durante manifestação em Paris, na terça-feira, 13 de maio
Foto: AP
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As ex-primeiras-damas francesas Carla Bruni-Sarkozy (esquerda) e Valerie Trierweiler (direita) acompanhadas de políticas e artistas em Paris pedem ajuda do governo na busca das jovens sequestradas na Nigéria
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As ex-primeiras-damas francesas Carla Bruni-Sarkozy (esquerda) e Valerie Trierweiler (direita) acompanhadas de políticas e artistas de seguram uma bandeira onde se lê: "Líderes, tragam de volta as nossas meninas", durante uma manifestação perto da Torre Eiffel, em Paris, nesta terça-feira, 13 de maio. As mulheres se reuniram para pedir os líderes do governo na ajuda da busca das mais de 200 estudantes que foram sequestradas por militantes do Boko Haram em uma escola secundária em Chibok, nordeste da Nigéria em abril
Foto: AP
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A ex-primeira-dama francesa Valerie Trierweiler segura um cartaz onde se lê: "Traga de volta as nossas meninas", durante manifestação em Paris, na terça-feira, 13 de maio
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A ex-primeira-dama francesa, Carla Bruni-Sarkozy (centro), entre as políticas Nathalie Kosciusko-Morizet e Valerie Pécresse, durante a manifestação "Bring Back our girls", em Paris, nesta terça-feira, 13 de maio. Mulheres francesas se reuniram para pedir aos líderes do governo francês ajuda na busca das mais de 200 estudantes que foram sequestrados por militantes do Boko Haram em uma escola secundária em Chibok, nordeste da Nigéria em 14 de abril
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A atriz Julie Gayet (direita) e a diretora Lisa Azuelos seguram um cartaz onde se lê "Tragam de volta as nossas meninas" no tapete vermelho no 67 º Festival de Cannes em Cannes neste sábado
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A atriz Julie Gayet (direita) e a diretora Lisa Azuelos seguram um cartaz onde se lê "Tragam de volta as nossas meninas" no tapete vermelho no 67 º Festival de Cannes neste sábado; as meninas foram sequestradas no dia 14 de abril em uma escola da Nigéria pelo grupo Boko Haram
Foto: Reuters
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Celebridades posam ao lado da atriz Selma Hayek Pinault para a exibição de Saint-Laurent no 67º Festival Internacional de Cinema de Cannes, no sul da França, neste sábado, 17 de maio
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A atriz e produtora Salma Hayek segura um cartaz no Festival de Cannes onde se lê "Tragam de volta as nossas meninas"; ela posa no tapete vermelho do evento neste sábado
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A atriz Salma Hayek, centro, segura um cartaz com o pedido "tragam de volta as nossas meninas", uma campanha que tem sido realizada por diversas celebridades ao redor do mundo, em que pedem a libertação de cerca de 300 estudantes nigerianas sequestradas pelo grupo extremista islâmico nigeriano Boko Haram; a atriz participa do Festival Internacional de Cinema em Cannes, sul da França, neste sábado; da esquerda para a direita os diretores Paul Brizzi, Roger Allers, Joan C. Gratz e Gaetan Brizzi
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