Moradores de Qunu não são convidados para funeral de Mandela

Poucos moradores locais acompanharam o funeral na estrutura montada pelo governo

15 dez 2013 - 05h24
(atualizado às 07h42)

Enquanto canhões eram disparados em memória ao ex-presidente Nelson Mandela, no vilarejo de Qunu, onde ele será enterrado neste domingo, poucos moradores locais acompanhavam o funeral na estrutura montada pelo governo sobre uma colina com vista para a fazenda do primeiro presidente negro da África do Sul.

Ao longo da semana, a maioria reclamava, com um certo ar de receio, de que não havia sido convidada para a cerimônia que ocorre sob uma tenda com capacidade para 5 mil pessoas. Ali, segundo o governo, apenas familiares, autoridades e convidados seletos, como a apresentadora norte-americana Oprah Winfrey.

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"Vamos ver daqui mesmo", disse Faniswa Bida, 45 anos, apontando para o fundo do quintal de onde uma brecha entre as árvores permitia ver um pedaço da tenda branca. Questionada se não gostaria de estar junto com os convidados, Faniswa tem a resposta pronta. "Ele era um de nós, mas não pertencia a nós. Madiba pertence ao mundo".

Ncebakazi Cuthalele mora do outro lado da rodovia onde está localizada a fazenda da família Mandela
Ncebakazi Cuthalele mora do outro lado da rodovia onde está localizada a fazenda da família Mandela
Foto: Mauro Pimentel / Terra

Ncebakazi Cuthalele, 25 anos, mora do outro lado da rodovia onde está localizada a fazenda da família Mandela. Na semana passada, ela procurou as lideranças locais para saber como poderia participar da cerimônia de enterro. Como resposta, ouviu que ninguém seria convidado. "É doloroso. Disseram que não poderíamos ir. Somente pessoas importantes. Não somos importantes, entao?", disse.

Na África do Sul, frisou Ncebakazi, é costume que quando alguém morre, as portas da casa são abertas para todos que desejam prestar suas condolências. A tradição é ainda mais forte entre os membros da etnia Xhosa, a qual pertencia Mandela.

A luxuosa estrutura sob a tenda branca contrasta com o esquema montado pelo governo para, supostamente, a população poder ver a cerimônia de despedida de Mandela. Embora a reportagem do Terra tenha conversado com alguns dos locais e eles tivessem garantido que iriam até o alto da colina, nenhum morador apareceu. Apenas funcionários ligados ao Museu Nelson Mandela, que fica em Qunu, e jornalistas.

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Após as últimas homenagens, apenas 450 pessoas ligadas à família participarão do enterro, em uma área localizada atrás da tenda branca.

Fonte: Terra
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