Governo egípcio ameaça islamitas enquanto EUA procuram reconciliação

3 ago 2013 - 14h37

O Governo do Egito exigiu neste sábado que os islamitas abandonem os acampamentos, coicidindo com as consultas do subsecretário de Estado dos EUA, William Burns, para promover uma reconciliação que permita uma saída ao conflito do país.

Após as grandes manifestações dos islamitas ontem e suas chamadas a novos protestos para domingo, o Ministério do Interior reiterou que garantirá uma "saída segura" aos que abandonem os acampamentos.

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O Governo também ameaçou aqueles que decidam resistir nas praças cairotas de Rabea al Adauiuya e Al-Nahda, dizendo que adotará "medidas legais" contra eles.

O porta-voz do Ministério do Interior, general Hani Abdelatif, acusou os responsáveis de ambas os acampamentos de estarem envolvidos em assassinatos, torturas e sequestros, possuir armas e instigar à violência, entre outros.

Em comunicado lido na televisão oficial, Abdelatif assinalou que muitos manifestantes sofrem um "sequestro mental" por parte dos dirigentes da Irmandade Muçulmana, que querem "usá-los em processos de negociação para obter dividendos políticos".

Esta é a segunda advertência de Abdelatif aos partidários do deposto presidente Mohammed Mursi, depois que o Governo anunciou há três dias que iria adotar "todas as medidas necessárias" para acabar com os acampamentos.

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Quanto às denúncias das autoridades contra os islamitas, a Human Rights Watch (HRW) informou ontem que há provas de que nos acampamentos há gente que foi torturada.

O grupo de direitos humanos citou em um relatório testemunhos de sobreviventes destes atos que afirmam ter sido sequestrados, golpeados e submetidos a descargas elétricas.

A Anistia Internacional (AI) também denunciou estas práticas e pediu uma investigação, mas advertiu que estes atos não justificam que as autoridades dispersem os acampamentos usando força, o que poderia deixar centenas de vítimas.

No marco dos esforços internacionais para ajudar a resolver a crise, Burns se reuniu hoje com o presidente interino Adly Mansou, o chefe da diplomacia Nabil Fahmi, e o vice-presidente para Relações Internacionais, Mohamed ElBaradei.

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Burns também se encontrou com representantes da Irmandade Muçulmana e decidiu estender sua visita por um dia para encontrar com o chefe do Exército Abdel Fatah al Sisi e o primeiro-ministro Hazem el Beblaui.

Na semana passada, a chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Catherine Ashton, prorrogou um dia sua estadia no Cairo e aproveitou para se reunir com Mursi -retido pelos militares-, mas a imprensa egípcia não acredita que Burns fará o mesmo.

Em sua segunda visita ao Egito desde o golpe militar que depôs o Mursi em 3 de julho, Burns disse que quer emprestar qualquer ajuda possível para pôr fim ao atual estado de polarização, de acordo com um comunicado do Ministério egípcio das Relações Exteriores.

O subsecretário de Estado dos EUA também apontou que pretende persuadir às partes implicadas sobre a necessidade de cessar toda forma de violência a fim de conseguir a reconciliação nacional.

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Fahmi expressou o compromisso do Governo egípcio de completar o roteiro do período transitório e seu interesse em conseguir "a reconciliação nacional com a participação de todas as forças políticas, sempre que sejam pacíficas e rejeitem a violência".

Também está de visita no Egito o enviado da União Europeia (UE) para o sul do Mediterrâneo, Bernardino León, que participou dos encontros.

Sobre estas visitas, o porta-voz das Relações Exteriores, Badr Abdel Ati, reiterou que aceita sugestões, mas que "a decisão final sobre os assuntos internos do Egito está só nas mãos do Governo".

Quanto à reunião de Burns com os islamitas, os Irmandade Muçulmana explicaram que nela participaram seus dirigentes, Mohammed Bishr e Amre Darrag, e dois representantes da pró Mursi Coalizão para a defesa da Legitimidade.

A confraria acusou Washington ontem de ser "cúmplice" do golpe militar e de apoiar "a tirania e a ditadura" no Egito, depois que o secretário de Estado americano, John Kerry, afirmou que o Exército egípcio executou uma "restauração da democracia".

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Para agravar a situação, o líder da Al Qaeda, Ayman al-Zawahiri, pediu hoje aos islamitas egípcios que abandonem o caminho democrática e acusou os EUA e os cristãos do Egito de estarem por trás da derrocada de Mursi.

  
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