Cúpula UE-União Africana em Luanda busca redefinir parceria entre continentes

Luanda recebe de segunda-feira (24) até terça-feira cerca de 80 chefes de Estado e de governo que participam da cúpula conjunta da União Africana e da União Europeia. Em sua 7ª edição, o encontro tem como tema "Promover a paz e a prosperidade por meio de um multilateralismo efetivo".

24 nov 2025 - 13h48

Paulina Zidi, enviada especial da RFI a Luanda

Chefes de Estado são esperados para os dois dias de encontros, realizados em Luanda, capital de Angola.
Chefes de Estado são esperados para os dois dias de encontros, realizados em Luanda, capital de Angola.
Foto: © RFI FULFULDE / RFI

Na agenda dos chefes de Estado da União Africana e da União Europeia em Angola estão duas sessões temáticas, onde serão discutidos temas de paz, segurança, governança e multilateralismo. Esta será a ocasião para abordar as crises e conflitos nos dois continentes, como na Ucrânia, Sudão, leste da República Democrática do Congo (RDC) e também no Sahel. Em seguida, os líderes africanos e europeus se reunirão em torno de questões de cidadania, migrações e mobilidade.

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A sétima cúpula UE-UA é a terceira edição realizada no continente africano, depois do Cairo em 2000 e de Abidjan em 2017. O encontro busca "uma parceria robusta, equilibrada e voltada para o futuro", como afirmou o presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa.

Futuro em questão

Mas esse futuro comum levanta dúvidas. "A relação entre a África e a Europa precisa ser revisitada", avalia Pascal Saint-Amans, professor da Universidade de Lausanne, na Suíça, presente em Luanda. "Os intercâmbios econômicos estiveram por muito tempo em uma relação colonial, mas acredito que, com a revisão global da geopolítica mundial, temos agora uma relação mais em pé de igualdade, menos paternalista, e isso é algo muito positivo", avalia. 

É justamente nesse sentido que a União Europeia lançou o Global Gateway, uma estratégia anunciada em 2021, que visa mobilizar mais de € 300 bilhões em investimentos até 2027, dos quais €150 bilhões destinados à África. Esse tema foi especialmente abordado na manhã desta segunda-feira (24), durante o fórum empresarial que precedeu a cúpula dos chefes de Estado e de governo.

"Atenção, porém", avalia um membro da delegação europeia encontrado em um dos hotéis da capital angolana, "para não cairmos no business acima de tudo", questionando: "A União Europeia representa valores; se os abandonarmos, quem seremos nós?"

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Para muitos presentes, é preciso continuar falando sobre governança e direitos humanos. "Não devemos ter a mesma oferta que outros parceiros", insiste um dos participantes, mirando a China e a Rússia, sem citá-las diretamente.

Urgência humanitária

Outro parâmetro importante na redefinição dessa relação é o papel da União Europeia nas respostas humanitárias no continente. Hoje, a UE se tornou, em alguns casos, como na RDC, o principal financiador do setor, consequência da redução das ajudas vindas dos Estados Unidos. Trata-se, portanto, de encontrar um novo equilíbrio entre ajuda e investimento.

A UE também coloca mais ênfase nas questões econômicas e de segurança, em detrimento da democracia e dos direitos humanos, como destaca o membro do quadro de concertação nacional da sociedade civil congolesa, Danny Singoma.

"Quando interpelamos a UE, nos dizem: 'não, eu não me envolvo nos assuntos internos, apenas ajudo no plano econômico e humanitário'. E isso, nós queremos que mude."

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