Em depoimento ao Ministério Público do Trabalho da Paraíba e à Polícia Civil, ex-funcionários revelaram detalhes da rotina dos menores que viviam na casa do influenciador Hytalo Santos e do marido, Israel Nata Vicente, em João Pessoa (PB). O casal, preso na última sexta-feira, 15, é investigado por tráfico de pessoas e exploração sexual de adolescentes.
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
Nos relatos divulgados pelo Fantástico, da TV Globo, os ex-funcionários --que tiveram as identidades preservadas-- citaram um controle total do influenciador sobre os menores por trás das câmeras. Na casa, além do casal, moravam outras 10 pessoas, sendo 4 delas menor de idade.
-1ien6bxia98bo.jpg)
"Ele é uma pessoa soberba e tudo tem que andar conforme ele quer”, disse uma testemunha ao descrever Hytalo. “E se não fosse conforme ele queria, ele dispensava”, completou outra.
O acesso ao celular era vetado, como contou um terceiro ex-funcionário. "Os celulares, às vezes, eram guardados dentro de uma caixa, e outras vezes era guardado dentro do quarto dele com uma chave, com chave. Ele tinha muito medo de que as pessoas filmassem como ele era por trás das câmaras."
A comida também era controlada. “[Os adolescentes só podiam comer] quando ele queria", disse a testemunha. “Só poderia comer quando ele acordasse. Ela só quando ele realmente deixava”, acrescentou outra.
Segundo os relados, os menores faltavam constantemente na escola. "Inclusive já teve filmagens que ele fez para postar na rede social, que as crianças estavam indo para a escola e, após desligar as câmeras, elas não iam para escola. Ou, se acontecesse de eles irem para a escola e surgir alguma agenda ou algo que precisasse de um deles, eles iriam lá simplesmente para pegar a criança."
O Ministério Público diz que duas escolas foram procuradas e informaram que os adolescentes chegaram a ficar cerca de 40 a 50 dias afastados do ambiente escolar. Em depoimento, a coordenadora de uma das escolas afirmou que os menores diziam que se atrasavam por causa das gravações. Em 2020, o Ministério Público Estadual abriu uma ação civil para apurar a frequência escolar de um deles. Mas, depois que Hytalo cumpriu algumas medidas de proteção ao adolescente, o caso foi arquivado.
Segundo a reportagem do Fantástico, em depoimento ao MP, uma outra ex-funcionária disse que Hytalo era negligente com a saúde dos adolescentes, que eles viviam em regime de cárcere privado, não saiam de casa sozinhos, não tinham vida social e viviam como propriedade dele.
As denúncias apontam ainda que festas eram frequentes na mansão, com consumo de bebidas alcoólicas liberado. "Eu presenciei muita festa, bebida, e a bebida era vontade pra todo mundo. Todos bebiam, sem restrição", disse uma testemunha. As investigações revelaram até que uma das adolescentes engravidou enquanto vivia na casa e perdeu o bebê.
Segundo o Ministério Público do Trabalho da Paraíba, os pais dos adolescentes recebiam entre R$ 2.000 e R$ 3.000 mensais para permitir que os filhos morassem com Hytalo e nunca fizeram qualquer denúncia formal contra o influenciador. Mas o órgão garante que há provas suficientes de exploração de menores.
Segundo os procuradores, os adolescentes foram aliciados em outras cidades, levados para João Pessoa e submetidos a um regime de trabalho forçado. Depois da prisão do casal, os jovens foram devolvidos às famílias, vive em Cajazeiras, no interior da Paraíba, cidade natal do influenciador.
As investigações foram motivadas a partir de uma denúncia feita em dezembro de 2024, mas ganharam ainda mais destaque após o influenciador Felca publicar um vídeo denunciando a exploração de menores de idade nas redes sociais, usando Hytalo Santos como exemplo do que chamou de "Adultização".
