Câmara cassa mandatos de Eduardo Bolsonaro e Alexandre Ramagem

18 dez 2025 - 20h11
(atualizado em 19/12/2025 às 05h11)

Mesa Diretora determinou a perda de mandato de Bolsonaro por excesso de faltas e Ramagem em cumprimento de decisão judicial. Líder do PL diz que procurá formas de recorrer.A Mesa Diretora da Câmara dos Deputados cassou os mandatos dos deputados federais Eduardo Bolsonaro (PL-SP), por acúmulo de faltas, e Alexandre Ramagem (PL-RJ), por cumprimento de determinação judicial. Os atos foram publicados nesta quinta-feira (18/12) em edição extra do Diário da Câmara dos Deputados.

Eduardo Bolsonaro está nos EUA e acumula faltas na Câmara
Eduardo Bolsonaro está nos EUA e acumula faltas na Câmara
Foto: DW / Deutsche Welle

Além do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), assinam as cassações o primeiro e segundo vice-presidentes, Altineu Côrtes (PL-RJ) e Elmar Nascimento (União-BA); e os primeiro, segundo, terceiro e quarto secretários: Carlos Veras (PT-PE), Lula da Fonte (PP-PE), Delegada Katarina (PSD-SE) e Sergio Souza (MDB-PR).

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Acúmulo de faltas

A Mesa cassou o mandato de Eduardo Bolsonaro por excesso de faltas. O parlamentar não cumpriu a presença mínima de um terço das sessões deliberativas da Câmara dos Deputados, conforme prevê a Constituição.

Eduardo Bolsonaro foi para os Estados Unidos em março, onde fez lobby pela imposição de sanções em prol do ex-presidente Jair Bolsonaro. Na ocasião, pediu licença do mandato parlamentar. O período terminou em 21 de julho, mas ele não retornou ao Brasil e já acumulava um número expressivo de faltas não justificadas nas sessões plenárias.

Em setembro, Motta rejeitou a indicação do deputado para exercer a liderança da minoria na Casa, com o argumento de não haver possibilidade do exercício de mandato parlamentar estando ausente do território nacional. A tentativa do PL era ceder o cargo a Eduardo, já que líderes não precisam justificar ausência.

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Eduardo Bolsonaro também é réu em processo no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta tentativa de obstrução da Justiça ao articular sanções contra magistrados da Corte.

Condenação e perda de direitos políticos

No caso de Ramagem, a cassação foi aplicada após o STF ter definido a perda de mandato no julgamento da tentativa de golpe de estado. Ele foi condenado a 16 anos de prisão e perdeu seus direitos políticos.

Ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo de Jair Bolsonaro, Ramagem está foragido em Miami, nos Estados Unidos. Desde setembro, ele apresentava atestados médicos para justificar sua ausência na Câmara.

Após a descoberta da fuga, a Câmara informou que a Casa não foi comunicada sobre o afastamento do parlamentar do território nacional nem autorizou nenhuma missão oficial de Ramagem no exterior.

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No caso de Ramagem, Motta adotou estratégia diferente do que fez em relação ao mandato de Carla Zambelli, também condenada pela Justiça à cassação. Na ocasião, o presidente da Câmara decidiu submeter a decisão ao plenário, que obteve maioria para manter a parlamentar no cargo.

O resultado gerou um embate com o Supremo, que voltou a determinar o cumprimento da decisão judicial. A argumentação é que em condenações em última instância é determinação da Casa apenas homologar a sentença.

PL diz que irá recorrer

O líder do PL, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), disse que recebeu uma ligação de Hugo Motta relatando a cassação e que buscará formas de recorrer da decisão.

"Trata-se de uma decisão grave, que lamentamos profundamente e que representa mais um passo no esvaziamento da soberania do Parlamento. Não se trata de um ato administrativo rotineiro. É uma decisão política que retira do plenário o direito de deliberar e transforma a Mesa em instrumento de validação automática de pressões externas. Quando mandatos são cassados sem o voto dos deputados, o Parlamento deixa de ser Poder e passa a ser tutelado", escreveu na rede social X.

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A argumentação de bolsonaristas no caso de Eduardo Bolsonaro é que o percentual de faltas costuma ser avaliado apenas uma vez por ano, em março. É o que aconteceu no caso da cassação de Chiquinho Brazão (sem partido), preso acusado de ser o mandante da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ).

Já o líder da federação PT, PCdoB e PV, Lindbergh Farias (PT-RJ), comemorou a decisão afirmando que a cassação extingue a "bancada dos foragidos".

"Somados, os dois casos deixam um recado institucional inequívoco no sentido de que ou o mandato é exercido nos limites da Constituição e da lei, ou ele se perde, seja pela condenação criminal definitiva, seja pela ausência reiterada e pela renúncia de fato às funções parlamentares", afirmou.

Segundo Lindbergh, o mandato parlamentar não deve ser escudo contra a justiça e nem salvo-conduto para o abandono das funções públicas.

"A perda do mandato, em ambos os casos, constitui efeito constitucional objetivo que independe de julgamento discricionário ou político. Como sempre defendemos, à Mesa coube apenas declarar a vacância, sob pena de usurpação da competência do Judiciário e violação frontal à separação dos Poderes, pois o mandato parlamentar não é escudo contra a Justiça e nem salvo-conduto para o abandono das funções públicas", finalizou.

gq (Agência Brasil, OTS)

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