Último capítulo da CPI teve recuo e seguiu script esperado

A divergência - a inclusão do governador do Amazonas no texto final - foi solucionada ainda na madrugada e, com isso, o placar de 7 votos a 4 estava dado

26 out 2021 - 22h51
(atualizado em 31/10/2021 às 10h21)

Quem comeu o bacalhau servido na véspera pelo presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AL), reclamou que o prato estava mais salgado do que de costume. Mas o sal que sobrou no jantar oferecido ao G-7, grupo majoritário da CPI - durante o encontro que serviu para alinhavar os derradeiros ajustes no relatório -, acabou faltando no último capítulo da comissão, nesta terça-feira, 26.

Randolfe Rodrigues, Omar Aziz e Renan Calheiros durante sessão da CPI
Randolfe Rodrigues, Omar Aziz e Renan Calheiros durante sessão da CPI
Foto: Edilson Rodrigues / Agência Senado

A única reviravolta foi a tentativa de inclusão de um pedido de indiciamento contra o senador Luiz Carlos Heinze (Progressistas-RS). Provocado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), reagiu à insistência de Heinze com informações enviesadas sobre remédios sem eficácia contra o coronavírus, somadas a críticas ao G-7. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco - que se filia nesta quarta-feira, 27, ao PSD - e outros senadores reclamaram da medida. Vieira voltou atrás, pediu para retirar Heinze da lista de indiciados e Renan acolheu o pedido.

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A sessão da CPI que aprovou o relatório com as conclusões de seis meses de trabalho foi longa e monótona. Titulares, suplentes e até não integrantes da comissão se revezavam ao microfone para resumir o que vinham defendendo. Era a última oportunidade de engrossar críticas ou de fincar os pés na defesa do governo Jair Bolsonaro para a grande audiência atraída pela TV Senado.

A baixa expectativa por surpresas deixou o plenário da CPI esvaziado. Os senadores compareciam conforme o avanço da ordem de inscritos para discursar. Nos corredores, uma movimentação tímida, bem menor do que a registrada nos dias de alguns dos interrogatórios mais esperados.

"Hoje é só o relatório final. O que tinha que ser feito já foi feito antes. Esse é o momento em que quem tem voto vota", afirmou o senador Marcos Rogério (DEM-RO), principal defensor do governo na comissão.

Impasse. A última sessão da CPI, a de número 69, teve apenas um impasse. A divergência, porém, foi solucionada ainda na madrugada e, com isso, o placar de 7 votos a 4 estava dado. A dúvida dizia respeito à posição do senador Eduardo Braga (MDB-AM). Titular da CPI, o amazonense exigia a inclusão do governador de seu Estado, Wilson Lima (PSC), na lista de sugestões de indiciamentos. Braga já foi governador do Amazonas e será novamente candidato ao cargo, em 2022.

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O caos na saúde do Amazonas durante a pandemia estava citado no requerimento que criou a CPI, mas a investigação e o indiciamento de governadores não entraram no foco dos senadores. O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que o inquérito parlamentar não poderia avançar sobre gestões estaduais. "Havia um impeditivo técnico", disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI.

Além disso, Wilson Lima é aliado político de Aziz, que resistia à inclusão. O presidente da comissão recuou após várias subidas e descidas do elevador do prédio funcional onde mora, na Asa Sul, em Brasília. Ao lado do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), Otto Alencar (PSD-BA) saía do quarto andar, onde mora, subia para o apartamento de Aziz, no sexto, e descia ao de Braga, no segundo.

O grupo de WhatsApp dos membros da CPI carrega uma homenagem aos decanos da comissão: "Filhos de Otto e Tasso". A articulação dos dois manteve a unidade política do grupo principal. Eles convenceram o relator a incluir o governador e, com isso, garantiram os sete votos. Sem Eduardo Braga, o texto também seria aprovado, mas por um placar mais apertado, de seis a cinco.

Embora seja um dos alvos da CPI, Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) compareceu somente na hora de se manifestar. Em sessões anteriores, o filho "01" do presidente surgia esporadicamente para confrontar depoentes e defender o governo. Não repetiu o tom da live em que se defendeu do pedido de indiciamento chamando Renan de "vagabundo". Criticou o político alagoano com moderação. Enquanto Flávio discursava, o relator respondia a mensagens no celular.

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"Essa CPI não investigou fatos para chegar aos acusados. Escolheu os acusados. Vimos alguns senadores subindo nos caixões das mais de 600 mil vítimas para fazer politicagem barata", disse o primogênito de Bolsonaro.

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