O ex-presidente do Governo da Espanha Felipe González afirmou nesta quinta-feira, em São Paulo, que constatou no ano passado uma crise de governança em nível mundial, especialmente visível em países como os Estados Unidos, a Inglaterra, o Brasil, a Espanha e a Colômbia.
"Quem diria que em 2016 daria razão todos os dias à crise de governança", afirmou González durante um evento acadêmico realizado na Universidade de São Paulo (USP).
O ex-presidente assumiu no início de 2016 a cátedra ibero-americana "José Bonifácio", com o tema "Crise de governança na democracia representativa", e hoje a entregou à ex-governadora do estado de Tlaxcala e ex-embaixadora do México no Brasil, Beatriz Paredes Rangel.
González reiterou sua preocupação sobre a "crise de governança" e citou alguns exemplos vividos em 2016, como o referendo de paz na Colômbia, o "Brexit" no Reino Unido ou a reforma constitucional proposta pelo ex-primeiro-ministro Matteo Renzi na Itália.
A eleição de Donald Trump nos EUA, disse González, foi o "fechamento" de 2016.
"Há um determinado personagem, que hoje governa os EUA, que não vai respeitar ninguém que não se faça ser respeitado. E, para isso, é preciso ter a casa em ordem", afirmou González.
O ex-presidente também falou sobre as eleições realizadas na Holanda ontem. O primeiro-ministro Mark Rutte, apesar de ter vencido o pleito contra o ultradireitista Geert Wilders, perdeu apoio no parlamento para o adversário.
"O que ganhou (Rutte) ficou com 33 deputados de 150 (no total do parlamento) e nos sentimos aliviados", ironizou.
"Foi um ano muito difícil para o mundo e para o Brasil, concretamente. Nós, espanhóis, passamos 2016 sem governo", afirmou ex-presidente em entrevista à Agência Efe.
Além de González, que governou a Espanha entre 1982 e 1996, a cátedra também teve como titulares a escritora brasileira Nélida Piño, o ex-presidente chileno Ricardo Lagos e o ex-secretário-geral ibero-americano Enrique Iglesias.
Agora ela será assumida por Paredes, que disse que o presidente americano é "irresponsável".
"Trump não é tolo nem burro. Acredito que é irresponsável, mas que tem uma estratégia absolutamente calculada de intimidação através dos veículos de imprensa contemporâneos", disse.