O ambiente político já reage à movimentação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em direção à próxima indicação para o Supremo Tribunal Federal (STF). A aposentadoria antecipada de Luís Roberto Barroso abriu uma nova rodada de articulações em Brasília e o nome do advogado-geral da União, Jorge Messias, o “Bessias”, voltou ao centro das conversas entre governo, magistrados e senadores.
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O presidente recebeu, no início da semana, um grupo de ministros do STF para um jantar reservado no Palácio da Alvorada. O encontro, que não constava na agenda oficial, teve como principal tema a escolha do sucessor de Barroso.
Todos os ministros da Corte foram convidados, mas apenas Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Flávio Dino e Cristiano Zanin compareceram. Da equipe do governo, marcaram presença o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, e o chefe da Casa Civil, Rui Costa.
Integrantes do Judiciário reverberam o que foi discutido na ocasião. Durante o jantar, Lula manteve o tom discreto e evitou sinalizar sua decisão. Disse apenas que está “definindo o nome”. O presidente não pediu sugestões nem demonstrou intenção de consultar formalmente o grupo.
Os bastidores em torno de Messias
Nos bastidores, o advogado-geral da União, Jorge Messias, é tratado como um dos favorito para a vaga. Ainda assim, há quem aposte em Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ex-presidente do Senado, como alternativa viável. Lula, no entanto, tem outros planos para o senador: gostaria de vê-lo disputando o governo de Minas Gerais em 2026. No Planalto, o presidente costuma definir Messias como um aliado leal, preparado e de total confiança.
O nome indicado passará pela sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado antes da votação no plenário.
O fantasma do "Bessias"
Nos corredores do Congresso, contudo, o clima é de dúvida e cautela. Senadores afirmam que ainda não há uma movimentação aberta dos cotados ao Supremo, mas já se nota o início de uma disputa silenciosa. Entre conversas reservadas, o nome de Jorge Messias provoca reações distintas.
“Lembra do passado como Bessias? Pois é... isso deve gerar dificuldades”, disse um senador, sob caráter reservado. Outro acrescentou: “Vai ter dificuldade. Muita! Lembra da Dilma orientando o ‘Bessias’?”. Um terceiro completou, em tom irônico: “Estão em campanha por ele. Mas isso não quer dizer muita coisa, não.”
A menção remete ao episódio de 2016, quando um grampo telefônico revelou o teor da conversa entre a então presidente Dilma Rousseff PT) com Lula citando o “Bessias” --apelido de Messias-- como emissário do termo de posse do petista na Casa Civil. Na época, o advogado era subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil e servidor de carreira da AGU. A nomeação de Lula foi suspensa, por meio de decisão liminar, por Gilmar Mendes.
No Senado, o apelido virou piada recorrente. E aliados do Planalto admitem que o “fantasma do Bessias” pode, sim, atrapalhar Messias --ainda que Lula insista em manter a convicção de que a fidelidade pesa mais do que a memória.