Mensagens de criminosos ligados ao PCC mostram como combustíveis eram fraudados e fiscalizações eram antecipadas

Investigações mostraram ligação entre o PCC e fintechs da Faria Lima; esquema funcionava em sete etapas

1 set 2025 - 08h26
(atualizado às 09h22)
Resumo
Investigações revelaram mensagens de envolvidos do PCC sobre um esquema bilionário de adulteração de combustíveis, lavagem de dinheiro em fintechs e antecipação de fiscalizações, envolvendo usinas, distribuidoras, postos, transportadoras e fundos na Faria Lima.
Foto:

Os integrantes de uma quadrilha ligada à organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) envolvidos em um esquema bilionário de adulteração de combustíveis e lavagem de dinheiro em fintechs da Faria Lima trocavam mensagens sobre os crimes, se preparavam com armas e sabiam com antecedência sobre fiscalizações. É o que apontam as mensagens obtidas pela Polícia Federal exibidas pelo Fantástico, da TV Globo.

Os investigadores afirmam que os criminosos conseguiam se preparar e até suspender as atividades nos postos para evitar flagrantes, em dias de fiscalização.

Publicidade

Uma das conversas mostra que um dos suspeitos, que foi preso, Thiago Augusto de Carvalho Gomes, disse: “Já tudo parado, né? Que a gente sabia que ia começar”. Em outro trecho, Thiago demonstrava estar pronto para reagir caso houvesse problemas durante a operação. “Pistola na cintura e diesel, pai!”, escreveu.

Em outras mensagens, eles falavam sobre quais químicos podiam ser incluir nos combustíveis para obter mais lucro com o crime, e se referem ao metanol como “M”.

Como funcionava o esquema

O esquema funcionava em sete etapas. A primeira acontecia no Porto de Paranaguá, no

Paraná, onde a quadrilha importava clandestinamente produtos químicos como o metanol e a nafta. As substâncias, que deveriam ser destinadas à indústria química, eram desviadas para adulterar a gasolina, vendida em postos pelo País.

Publicidade

Um dos empresários presos, Rafael Renard Gineste, teve o celular apreendido. No aparelho, a Polícia Federal encontrou mensagens trocadas com Thiago. Em uma delas, Thiago pergunta: “Não dá para fazer algo nessa gasolina pra render mais? E baixar o custo dela? Etanol, sei que podemos jogar um 'm' [metanol]".

A segunda etapa envolvia a compra de usinas de etanol em São Paulo. Algumas delas estavam endividadas e, mesmo assim, foram compradas com alto investimento. Além de produzir combustível para a organização criminosa, também serviam para lavar dinheiro, e pagavam até 43% acima da média pela cana-de-açúcar.

PCC cooptou fazendas de cana, distribuidoras, refinarias e postos de combustível no esquema
Foto: Alf Ribeiro/IMAGO

A terceira etapa do esquema tinha como objetivo estruturar as distribuidoras próprias, como a Duvale, em Jardinópolis (SP). Ela não tinha faturamento até 2019, que saltou para quase R$ 2,8 bilhões em 2021 e se tornou o maior destino do etanol das usinas controladas pelo PCC. Uma parcela desse dinheiro foi repassada diretamente para Rafael Gineste.

A quarta etapa envolvia as transportadoras, como a G8Log, ligada a Mohamad Hussein Mourad, conhecido como Primo, que usava caminhões para levar combustível adulterado até os postos.

Publicidade

A quinta era quando, finalmente, os combustíveis adulterados chegavam aos postos. A rede criminosa tinha cerca de 1,2 mil postos em várias cidades brasileiras. Os fiscais da ANP identificaram neles misturas ilegais de metanol na gasolina, chegando a quase 50% em alguns casos, e até 90% no etanol.

Operação contra o PCC: entenda como funciona esquema bilionário de lavagem de dinheiro
Video Player

A sexta etapa do esquema usava as fintechs, sendo a principal delas a BK Instituição de Pagamento, com sede em Barueri (SP). A empresa movimentou R$ 46 bilhões em cinco anos por meio de contas chamadas “bolsão”, que dificultavam o rastreamento da origem e do destino do dinheiro.

A sétima e última etapa contava com os fundos de investimento. Os recursos chegavam ao centro financeiro de São Paulo, a Avenida Faria Lima, onde a quadrilha usava administradoras de fundos de investimento para transformar o dinheiro sujo em patrimônio legalizado. A força-tarefa entre a Receita Federal e a PF apontou 42 fundos controlados pelo PCC, que somam R$ 30 bilhões. Eles foram bloqueados pela Justiça durante a operação.

Fonte: Redação Terra
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se