Irmão de Celso Daniel diz que PT tentou 'acobertar' crime

10 mai 2012 - 14h34
(atualizado às 16h09)
Hermano Freitas
Marina Novaes
Direto de Itapecerica da Serra

Bruno Daniel, irmão de Celso Daniel, então prefeito de Santo André (ABC Paulista) quando foi morto a tiros em 2002, disse que parte do PT tentou acobertar o assassinato. Segundo ele, a família não tem dúvidas de que o crime teve "motivação política", mesmo argumento usado pela acusação. A declaração foi dada nesta quinta-feira no intervalo do primeiro dia de julgamento de três dos acusados de cometer o crime.

O promotor Marcio Friggi disse que a morte de Celso Daniel foi encomendada após a descoberta de um plano do prefeito de acabar com as fraudes em licitações e outros desvios de verba
O promotor Marcio Friggi disse que a morte de Celso Daniel foi encomendada após a descoberta de um plano do prefeito de acabar com as fraudes em licitações e outros desvios de verba
Foto: Diogo Moreira / Futura Press

Veja 14 assassinatos de políticos que chocaram o País

Publicidade

Veja como funciona o Tribunal do Júri

"A família não tem nenhuma dúvida de que foi um crime com implicações políticas, ligada (...) à existência de esquemas de financiamento de campanha irregular. Aliás, como admitiu o (ex-) presidente Lula, de que todos os partidos fazem caixa-dois, inclusive o dele. Infelizmente é a maneira pela qual se faz política aqui no País", afirmou Bruno Daniel, para quem não tem "fundamento" a tese de que Celso Daniel foi vítima de um crime comum.

O julgamento acontece no Fórum de Itapecirica da Serra e, hoje, estão sendo julgados Ivan Rodrigues da Silva, o Monstro; Rodolfo Rodrigo dos Santos Oliveira, o Bozinho; e José Edison da Silva - todos negaram participação no crime. Na avaliação de Bruno Daniel, os depoimentos dos réus - acusados de terem sido contratatos para matá-lo - foi uma "encenação", e as provas do Ministério Público são "irrefutáveis".

O irmão de Celso Daniel também criticou o PT, e disse que "alguns companheiros" tentaram "acobertar" os reais motivos da morte do então prefeito de Santo André. De acordo com a promotoria, o político foi morto após descobrir o enriquecimento ilícito por pivôs de um esquema de corrupção que operava na administração municipal da cidade para financiar as campanhas políticas do Partido dos Trabalhadores.

Publicidade

"Nós tínhamos amigos no PT, e tivemos na verdade que fazer dois lutos: o luto do assassinato do meu irmão e o luto de um conjunto de companheiros que agiram o tempo inteiro no sentido de acobertar o crime", afirmou, citando o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. "Todas as ações do PT no sentido de defender a tese de crime comum, sem nenhuma consistência, é lamentável.(...) Esperamos que o caso sirva como elemento de reflexão para alterar a realidade da qual nós vivemos", concluiu. "O José Dirceu, por exemplo, compara o Ministério Público cavalo a cavalo à Gestapo. É lamentável", afirmou.

Hoje também seriam julgados os réus Itamar Messias dos Santos Filho e Elcyd Oliveira Brito, o John, mas os advogados deles abandonaram o plenário e os dois serão julgados apenas no dia 16 de agosto. As 13 testemunhas convocadas foram dispensadas, e a expectativa é que o julgamento seja concluído ainda hoje, após o debate entre os advogados de defesa e a promotoria.

A morte de Celso Daniel

Então prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel (PT) foi sequestrado em 18 de janeiro de 2002, quando saía de um jantar. O empresário e amigo Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, estava no carro com ele quando foi rendido. O político foi levado para um cativeiro na favela Pantanal, em Diadema (Grande ABC), e, depois, para uma chácara em Juquitiba, a 78 km de São Paulo, sendo assassinado a tiros dois dias depois. Na época, o inquérito policial concluiu que Celso Daniel teria sido sequestrado por engano e acabou morto por uma confusão nas ordens do chefe da quadrilha. Mas a família solicitou a reabertura das investigações ao Ministério Público.

As novas averiguações apontaram que a morte de Celso Daniel foi premeditada. As contradições entre as declarações de Sombra e as perícias feitas pela polícia lançaram suspeitas sobre o amigo do então prefeito. Ele havia dito que houve problemas nas travas elétricas do carro em que os dois estavam, que houve tiroteio com os bandidos e que o carro morreu. Mas a perícia da polícia desmentiu todas as alegações.

Publicidade

O MP denunciou sete pessoas como executoras do crime, sendo que Sombra foi apontado como o mandante do assassinato. Ele foi denunciado por homicídio triplamente qualificado - por ter contratado os assassinos, pela abordagem ter impedido a defesa da vítima e porque o crime garantiria a execução de outros. De acordo com o MP, o empresário fazia parte de um esquema de corrupção na prefeitura de Santo André que recebia propina de empresas de transporte, mas Celso Daniel teria tomado providências para acabar com a fraude, o que motivou a morte. Ele nega a acusação.

A Justiça decidiu levar todos os acusados a júri popular. Além de Sombra, José Edson da Silva, Elcy Oliveira Brito, Ivan Rodrigues da Silva, Itamar Messias Silva dos Santos e Rodolfo Rodrigo dos Santos Oliveira serão julgados pela prática de homicídio qualificado (por motivo torpe, mediante paga ou promessa de recompensa e por impossibilitar a defesa da vítima), cuja pena máxima é de 30 anos de reclusão. Em novembro de 2010 aconteceu a primeira condenação do caso: Marcos Roberto Bispo dos Santos pegou 18 anos de prisão em regime fechado.

Fonte: Terra
Fique por dentro das principais notícias
Ativar notificações