RS: prefeito classifica inquérito da polícia como 'absurdo jurídico'

Cezar Schirmer (PMDB) foi responsabilizado pela tragédia na Boate Kiss e será investigado pelo Tribunal de Justiça (TJ)

22 mar 2013 - 21h02
(atualizado às 21h03)
Policiais civis concederam entrevista coletiva na tarde desta sexta-feira em Santa Maria (RS) sobre o indiciamento criminal de 16 pessoas pela tragédia na boate Kiss
Policiais civis concederam entrevista coletiva na tarde desta sexta-feira em Santa Maria (RS) sobre o indiciamento criminal de 16 pessoas pela tragédia na boate Kiss
Foto: Rafael Happke / Futura Press

O prefeito de Santa Maria (RS), Cezar Schirmer (PMDB) disse nesta sexta-feira que o inquérito da Polícia Civil sobre o incêndio na Boate Kiss, que matou 241 pessoas na madrugada do dia 27 de janeiro, é um "absurdo jurídico". O mandatário foi responsabilizado pela tragédia e será investigado pelo Tribunal de Justiça (TJ) pela prática de homicídio culposo e improbidade administrativa.

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"Estamos diante de um absurdo jurídico, estamos diante de um processo de natureza política, e como tal será respondido", disse Schirmer em coletiva. Como possui foro privilegiado, o prefeito não pode ser indiciado criminalmente pela Polícia Civil.

Na tarde de hoje, o delegado que comandou as investigações, Marcelo Arigony, apresentou para a imprensa um resumo da conclusão do inquérito. Dezesseis pessoas foram indiciadas criminalmente pela morte das vítimas.

Schirmer criticou diretamente Arigony. "Fez juízo de valor político e administrativo sobre a qualidade do nosso governo. Não lhe cabe opinar politicamente sobre a administração municipal", disse.

O prefeito também sugeriu que a polícia foi parcial em seu inquérito, não imputando ao Estado responsabilidades pela tragédia. "O delegado imputa a mim eventuais responsabilidades por nomear assessores, mas não utiliza o mesmo raciocínio na esfera estadual. Como pode um órgão estual investigar outro órgão estadual?", questionou.

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Para Schirmer, o inquérito foi manipulado politicamente. "Ouvi manifestações (de Arigony) sobre indícios. Eu também posso falar em indícios: desde o começo deste inquérito nós percebemos indícios de tentativa de manipulação política. Já no segundo dia, houve manifestações públicas de altas autoridades estaduais incriminando a prefeitura."

O prefeito disse que não há indícios de sua participação e que o inquérito não deveria ser levado ao TJ. "Me resta acreditar na justiça dos homens e na ustiça de Deus. Me resta acreditar na justiça de bem, em uma justiça séria, como quer o município, o Estado, o País e a humanidade", afirmou. 

'Vou dormir tranquilo hoje', diz Arigony

Após as críticas de Schirmer, o delegado Marcelo Arigony se manifestou em seu perfil no Facebook. "'Aberração' é brincar com o sentimento de 241 famílias. Eu (!) vou dormir tranquilo hoje. Isso pela primeira vez depois de ter trabalhado incessantemente por 55 dias para apresentar respostas à sociedade que me paga", escreveu o delegado.

Arigony afirmou ainda que já esperava críticas das autoridades que foram responsabilizadas no inquérito. "Novamente a previsão do tempo para os próximos dias é chuvas e trovoadas para mim. Acho que vem até granizo!", brincou.

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Incêndio na Boate Kiss

Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 241 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

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Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas. 

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A intenção é oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

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Fonte: Terra
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