RJ: após protestos, moradores do Leblon pedem mudança de Cabral

5 jul 2013 - 17h38
(atualizado às 17h46)

Após enfrentar a revolta dos manifestantes na rua onde mora, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), convive agora com a rejeição dos próprios vizinhos, incomodados com os constantes protestos que vêm acabando com a paz no até então pacato bairro do Leblon, na zona sul da capital fluminense.

Moradores das ruas próximas à do governador organizaram um abaixo-assinado pedindo que Cabral se mude do bairro. E tudo indica que os protestos desta quinta-feira vão intensificar ainda mais a mobilização: o documento foi elaborado e distribuído na quarta-feira (3), antes do último confronto que resultou em disparos de bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo que transformaram o bairro mais caro do Rio de Janeiro em uma praça de guerra. 

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O texto pedindo a saída de Cabral foi distribuído a moradores dos prédios da rua Aristides Espínola, onde o governador mora, e de prédios dos quarteirões próximos. 

Reclamação de vizinhos

Nesta quinta-feira, vizinhos de Cabral já classificavam a ação da polícia contra os manifestantes de "irresponsável e desordenada". "Foi um horror. Os policiais usam esse gás lacrimogêneo em qualquer situação", afirmou o engenheiro Pedro Luiz, que mora a duas quadras do prédio de Cabral.

Pedro Luiz reclamou do uso da força pelos policiais. "Não existe critério para o uso dessa substância, que é extremamente perigosa. Isso sem contar a total falta de organização da operação, sem nenhuma estratégia", disse o morador.

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O analista de sistema Juan Perez disse que estava na varanda do seu apartamento quando um cheiro forte de gás rapidamente invadiu sua residência. "Minha esposa começou a passar muito mal. O odor é muito desagradável. Esse tipo de coisa deveria ser proibida. Eu não vi quem começou a bagunça, mas esse tipo de conduta dos policiais prejudica moradores e pedestres.”

De acordo com a nota do governo, a polícia só agiu depois de ter sido atacada pelos manifestantes. "Por volta das 23h40, a tropa da PM foi atacada a pedradas pelo grupo que usava máscaras e tentou romper o cordão de isolamento. Após serem atacados, os policiais usaram spray de pimenta e bombas de efeito moral pra dispersar o grupo. Três promotores de Justiça Estadual acompanharam e consideraram legítima a ação da PM", diz a nota.

A Polícia Militar informou nesta sexta-feira que três policiais militares ficaram feridos e seis pessoas foram presas durante a manifestação. Segundo nota oficial da PM, aproximadamente 200 agentes dos batalhões da capital fizeram a segurança da manifestação, isolando a área, e permaneceram parados em linha durante todo o protesto.

Ainda de acordo com a PM, em nenhum momento houve qualquer tentativa de impedir o direito de manifestação, mesmo diante de provocações e ofensas. O policiamento em torno do prédio onde mora Sérgio Cabral foi reforçado nesta sexta-feira.

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Os manifestantes protestam contra a corrupção, cobram transparência na relação do governo com empreiteiras e empresários, como a Delta e Eike Batista, exigem a anulação da licitação do Maracanã, entre outras pautas.

Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País

Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São PauloRio de JaneiroCuritibaSalvadorFortalezaPorto Alegre e Brasília.

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A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

Jornal do Brasil
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