O Recife caiu 19 posições no Ranking de Competitividade dos Municípios, ocupando agora a 387ª colocação em estabilidade de segurança pública, entre 418 cidades avaliadas. Os dados, divulgados na ultima quarta-feira (27) de agosto pelo Centro de Liderança Pública (CLP), escancaram uma crise crescente na segurança da capital pernambucana — que já foi referência em estratégias urbanas de prevenção à violência.
Indicadores específicos reforçam esse cenário preocupante:
- Mortes violentas intencionais: 388ª posição
- Mortes por causas indeterminadas: 231ª posição
- Mortalidade de jovens por razões de segurança: 393ª posição
- Mortalidade nos transportes: 367ª posição
- Morbidade hospitalar por acidentes nos transportes: 125ª posição
Além da queda nos índices, o déficit de efetivo na Guarda Civil Municipal agrava o quadro. O último concurso público foi realizado em 2014, com a oferta de 1.355 vagas, sob organização do extinto Instituto de Planejamento e Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (IPAD). Desde então, nenhum novo certame foi realizado, e o número de agentes em atividade está defasado frente à demanda atual da cidade.
Atualmente, negociações para um novo edital previsto para 2025 estão em andamento entre o Sindicato dos Guardas Municipais do Recife (SINDGUARDAS) e a Prefeitura. No entanto, a falta de reposição de pessoal nos últimos 11 anos tem comprometido a capacidade operacional da corporação, principalmente em áreas de maior vulnerabilidade social.
Guarda desarmada e debate controverso sobre armamento
O Recife é também a única capital do Nordeste que mantém sua Guarda Municipal desarmada, o que tem gerado intenso debate. Em abril de 2025, o município iniciou formalmente o processo de armamento, com envio de pedido de cooperação técnica à Polícia Federal para treinamento inicial do Grupo Tático de Operações.
Apesar disso, especialistas em segurança pública alertam que o armamento da guarda, por si só, não resolve os problemas estruturais da violência urbana. Estudos mostram que não há evidências consistentes de que a presença de guardas armados reduza índices de homicídios ou crimes patrimoniais.
Segurança pública exige mais que respostas simbólicas
O Recife apresenta avanços em áreas como sustentabilidade fiscal, meio ambiente e inovação, mas o desempenho em segurança pública segue em declínio. Para reverter esse quadro, é preciso investir em políticas estruturantes, que vão além do armamento simbólico e da presença ostensiva.
Entre os caminhos apontados estão:
- Realização urgente de concurso público para recomposição do efetivo da guarda;
- Formação continuada e qualificação técnica dos agentes;
- Integração com forças estaduais e federais;
- Projetos de prevenção à violência voltados à juventude e territórios mais afetados;
- Melhoria na infraestrutura urbana e nos equipamentos públicos.
O atual momento exige uma abordagem que una ordem pública e cidadania, com medidas que resolvam causas profundas da insegurança, como desigualdade social, abandono juvenil e desorganização territorial.