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Lojas vazias e comércio fechado: coronavírus muda a cara do Rio

Nesta terça-feira entraram em vigor novas medidas impostas pela prefeitura para tentar frear o avanço da covid-19

24 mar 2020 - 19h53

RIO - Uma pequena e solitária sapataria na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, na zona sul da capital fluminense, resistia, nesta terça-feira (24), à determinação do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) para não funcionar por causa do novo coronavírus. Na porta, o proprietário do negócio, Rafael Tavares, de 33 anos, olhava de manhã, com ar de desolação, a principal via comercial do bairro, vazia e com lojas fechadas. Ele dispensou os três empregados e foi trabalhar sozinho. Queria argumento para convencer os fiscais a deixá-lo funcionar. Mas não havia clientes.

"Moro aqui perto, então não preciso pegar transporte aglomerado. Tem menos risco. A polícia veio aqui de manhã, mas expliquei isso, e eles entenderam", contou Tavares. Apesar de estar aberta, a loja nos últimos dias, tem estado vazia, para desespero do pequeno empresário. "A cidade está parando, mas as contas não param de chegar", disse.

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Esta terça-feira marcou a entrada em vigor de novas medidas impostas pela prefeitura para tentar frear o avanço da covid-19 na cidade. Somadas àquelas já adotadas pelo governo do Estado, elas colocam o Rio num novo nível de combate ao coronavírus. O comércio teve seu primeiro dia fechado. A exceção são supermercados, farmácias, padarias, pet shops e postos de gasolina - sem lojas de conveniência. Bares e restaurantes só funcionam com entregas em domicílio. Tudo para evitar aglomerações - e contaminações.

Neste cenário, a Prefeitura do Rio, ao longo do dia, agiu com dureza contra quem não acatava a ordem para baixar as portas. A Coordenadoria de Controle Urbano anunciou que fechou uma loja de aluguel de carros na Barra da Tijuca, na zona oeste. O negócio estava aberto ao público. Empregados trabalhavam normalmente. Segundo o órgão, o comércio também foi multado. Caso continue a descumprir as determinações, será denunciado por desobediência.

Em toda a cidade, o comércio fechado gerou reclamações. O morador de rua Marcos Rogério, que trabalha com artesanato de plantas em Copacabana, na zona sul, também perdeu dinheiro. Na rua semideserta em plena terça-feira dia útil, ele contou que há três dias não vende - nem come - nada. É que, mesmo antes da ordem para fechar, já não vinha aparecendo gente nos bares e restaurantes, seus principais locais de exposição, por causa do medo da doença. De máscara cirúrgica, ele explicou que não quer ir para um local de acolhimento. "Lá tem muita gente doente", afirmou. Ele foi acordado e retirado, por policiais militares, da porta de uma agência bancária onde dormia.

Além do fechamento do comércio e de agências bancárias, a terça-feira também marcou o início de outras ações da Prefeitura contra o coronavírus. Entre elas, estavam a lavagem de estações de transporte público e entradas de hospitais. Profissionais da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) passaram por esses locais em caminhões-pipa e os limparam com detergente.

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Para os moradores de rua, Crivella anunciou nos últimos dias que trabalha na montagem de três grandes abrigos para tirá-los de locais suscetíveis à contaminação. São eles o Sambódromo e um galpão no Santo Cristo, ambos no Centro da cidade do Rio de Janeiro, e outro em Honório Gurgel, na zona norte.

O transporte vem sendo esvaziado aos poucos. Depois de uma segunda-feira de enormes filas e aglomerações nas estações de trem, metrô e barca, a terça-feira foi mais tranquila. Houve, porém, algumas filas no início da manhã. No caso dos trens urbanos, a concessionária SuperVia estimou em 70% a queda no número de passageiros nas manhãs de segunda e terça, em comparação com os mesmos dias em outras semanas.

Apesar do comércio fechado, os idosos, predominantes em Copacabana, continuavam saindo às ruas do bairro, mesmo sendo grupo de risco para a covid-19. Policiais patrulhavam as avenidas principais e pela praia. Retiravam os moradores que, mesmo com a proibição, ainda tentavam dar a sua corridinha à beira-mar, na praia símbolo do Rio. Quando a reportagem do Estado tentou cruzar a longa faixa de areia para acompanhar a abordagem de três policiais a uma corredora, um deles, a cerca de 50 metros, gritou: "Cidadão! Por favor, se retire!"

Moradores de rua, porém, continuavam por lá. Um deles era Alessandro Freire, de 47 anos, que constrói esculturas de areia na orla. Nesta terça, ele e sua arte estavam lá, na altura do Posto 5 - mas o tradicional cenário de turistas fazendo fila, não. "Não tem uma pessoa para dar uma comida, um dinheiro, nada", reclamou. Para tentar adaptar a escultura ao tempo que vive, o solitário Alessandro ornamentou sua réplica do Cristo Redentor com uma máscara cirúrgica. "Até Ele pode pegar (a doença), tá todo mundo pegando", brincou.

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