O Brasil recebeu mais um voo com brasileiros deportados dos Estados Unidos nesta sexta-feira, 7. Ao todo 111 repatriados chegaram ao País, com pousos em Fortaleza (CE) e Belo Horizonte (MG). Alguns deles se mostraram gratos por ter voltado, e esperam reconstruir a vida no Brasil.
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O Governo Federal proporcionou a acolhida com a presença da secretária-executiva do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), Janine Mello, em Fortaleza, e da ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, em Belo Horizonte. A aeronave contratada pelo governo norte-americano pousou em Fortaleza, e o governo brasileiro acionou a FAB para terminar a viagem, com destino final em Belo Horizonte.
O motoboy de Governador Valadares (MG) João Victor Batista Alves, de 26 anos, afirmou, durante uma coletiva de imprensa, que agora irá “dar mais valor ao Brasil”, após a repatriação. Ele foi um dos brasileiros que desembarcou no país de origem no segundo voo de deportação sob o governo Trump.
“A recepção foi muito boa, a gente foi bem tratado, a gente até estranhou, porque estava há um tempinho sem ser bem tratado”, afirmou. “Os planos são dar mais valor ao Brasil, né? Por mais que as coisas não estejam muito fáceis, é nosso Brasil, aqui a gente está em casa”, acrescentou.
João Victor atravessou a fronteira dos Estados Unidos pelo México, em busca de uma vida melhor, mas viu seu sonho se transformar em um longo período de incertezas. Ele deixou o Brasil no início de janeiro na tentativa de construir uma vida no exterior, e dar “uma velhice digna” para a mãe. No entanto, acabou sendo detido e deportado. De volta ao Brasil, ele reflete que a experiência trouxe sabedoria.
No México, João se entregou às autoridades na fronteira com os EUA, com a intenção de solicitar asilo no país. No entanto, acabou sendo preso e levado para um centro de imigração, onde enfrentou condições precárias.
"Fomos tratados como presos. Não havia privacidade, os banheiros eram lado a lado, e a alimentação era muito ruim. Se quisesse comer algo melhor, tinha que trabalhar para isso", relembra.
O momento mais humilhante, segundo ele, foi a deportação. "Ficamos 24 horas amarrados, comendo apenas pão e água. Por mais que tenhamos entrado ilegalmente, não somos criminosos perigosos para merecer esse tratamento."
Para o brasileiro, depois que Donald Trump assumiu a presidência, a situação dos imigrantes detidos piorou. "No dia 21, um dia depois da posse, tudo mudou. Não ficávamos mais de dois dias no mesmo lugar, perdemos direitos básicos, como o de falar com agentes sobre problemas que enfrentávamos. A gente já não tinha mais direito nenhum de fala”. A comunicação com a família também foi perdida.
João Victor partiu com um objetivo claro: "Queria dar uma velhice digna para minha mãe, juntar dinheiro e realizar o sonho de ter uma formação acadêmica". Mas a experiência fez com que ele enxergasse o Brasil de outra forma.
"Parece que minha mente abriu muito nessa viagem. Vi que há oportunidades aqui também, apesar das dificuldades. E tem algo que só o Brasil tem: o calor humano. A forma como fui recebido na volta foi surpreendente. Depois de tanto tempo sendo maltratado, foi estranho ser bem tratado", desabafa.
Agora, João acredita que pode construir um futuro no Brasil. "Dá para ser feliz aqui, com certeza dá", afirma.