Bolsonaristas falam de 'traição' e 'decepção' com Trump após retirada de Moraes das sanções da Lei Magnitsky

Aliados do governo celebraram decisão; poucos parlamentares da oposição se manifestaram

12 dez 2025 - 19h36
(atualizado às 22h26)
Sanções ao ministro foram aplicadas em julho pelo governo americano
Sanções ao ministro foram aplicadas em julho pelo governo americano
Foto: AFP via Getty Images / BBC News Brasil

A decisão do governo americano de retirar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e sua esposa, Viviani Barci de Moraes, da lista de sanções da Lei Magnitsky gerou reações entre aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Alguns parlamentares da oposição que se manifestaram nas redes sociais criticaram o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, dizendo que se sentiam traídos e decepcionados.

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"O sentimento, não escondamos, é de traição. Certamente o preço cobrado por Trump não foi baixo, e em breve saberemos se Lula ofereceu as terras brasileiras ou o apoio na queda de Nicolás Maduro", disse o vice-líder da oposição na Câmara, o deputado federal Maurício Marcon (Podemos-RS), em uma publicação no X.

"Trump pensou nos EUA, com seu slogan 'American First'", acrescentou.

O deputado Carlos Jordy (PL-RJ) disse que a Lei Magnitsky foi "banalizada" por Trump e que o presidente americano é uma "grande decepção".

"Não existe 'ex-violador de direitos humanos'. Infelizmente colocamos esperanças em alguém que só queria negociar. Uma grande decepção com o presidente americano e uma enorme lição para nós: não terceirizemos nossa responsabilidade", declarou.

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O deputado Rodrigo Valadares (União-SE), também fez críticas, dizendo que "o sistema se fechou em si e nos seus próprios interesses" apesar do "sacrifício" de Eduardo Bolsonaro.

A retirada das sanções, anunciada nesta sexta-feira (12/12), era defendida pelo governo brasileiro em conversas mantidas com interlocutores da administração norte-americana.

Em uma publicação no X, a ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), atribuiu a decisão a uma vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Foi Lula quem colocou esta revogação na mesa de Donald Trump, num diálogo altivo e soberano", afirmou.

"É uma grande derrota da família de Jair Bolsonaro, traidores que conspiram contra o Brasil e contra a Justiça".

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As sanções contra Alexandre de Moraes foram impostas em julho, em meio às pressões do governo americano para tentar influenciar o julgamento de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.

Em setembro, a esposa de Moraes também foi incluída na lista, assim como a empresa administrada por ela e pelos três filhos do casal.

Na época, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) disse que estava trabalhando para que isso acontecesse, e que a sanção era uma pressão por anistia

Na tarde desta sexta-feira, pouco depois do anúncio do fim das sanções, Eduardo se manifestou sobre o assunto.

Em uma publicação no X, o parlamentar divulgou uma nota conjunta com o influenciador Paulo Figueiredo. Eles disseram receber com "pesar" a notícia, mas que eram "gratos pelo suporte dado pelo presidente Trump demonstrado durante este processo e pela atenção que ele deu a esta séria crise de liberdade afetando o Brasil"

Eduardo e Paulo Figueiredo foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República por articular as sanções para tentar influenciar o julgamento de Jair Bolsonaro. No mês passado, o parlamentar se tornou réu em um processo no STF por coação no curso do processo.

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Seguindo a linha de Eduardo, o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) também agradeceu a Donald Trump pela "ajuda", disse que a aplicação da Lei Magnitsky "abriu janela para o Brasil" e que restava aos brasileiros, agora, fazer sua parte.

"A guerra para tirar a suprema esquerda do poder no Brasil será nossa, dos brasileiros", escreveu.

"Ou o Brasil reage agora, ou normaliza o autoritarismo togado."

O deputado Mario Frias (PL-SP) pediu que as pessoas não buscassem culpados e também "não colocassem mais lenha na fogueira".

"Quem mais sofre ncesse processo são os inocentes que são presos políticos e o próprio presidente Bolsonaro. Como ele já disse certa vez: não é o fim", afirmou.

Em evento, Moraes e Lula comentam decisão do governo americano

Tanto Alexandre de Moraes quanto Lula participaram nesta sexta-feira do evento de lançamento do canal SBT News.

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Ao discursar, Moraes agradeceu a Lula pelo "empenho" em demonstrar a "verdade" relativa à sua situação e à de sua esposa.

"A verdade, com o empenho do presidente Lula e de toda a sua equipe, a verdade prevaleceu", disse Moraes em evento de lançamento do SBT News, onde Lula também estava.

O ministro do STF disse que o anúncio desta sexta-feira foi resultado de uma "tripla vitória" — do Judiciário, que "não se vergou a ameaças"; da soberania nacional; e da democracia brasileira.

"O Brasil chega hoje, no quase final de ano, dando exemplo de democracia e força institucional a todos os países do mundo", disse Moraes.

O magistrado contou ainda que, em julho, pediu a Lula que não tomasse qualquer medida contra a decisão americana, porque a "verdade" prevaleceria quando chegasse ao conhecimento das autoridades norte-americanas.

Trump e Lula durante encontro na Malásia em outubro; decisão sobre Lei Magnitsky marca desescalada na relação entre EUA e Brasil
Foto: Ricardo Stuckert/PR / BBC News Brasil

No mesmo evento, Lula brincou que Moraes ganhou de Trump um presente, já que o ministro fará aniversário neste sábado (13).

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O presidente relatou que conversou na semana passada com Trump, que teria perguntado se a retirada das sanções seria positiva para Lula.

"É bom para você?", perguntou Trump, segundo Lula.

"Não é bom para mim, é bom para o Brasil e é bom para a democracia brasileira. Aqui, você não está tratando de amigo pra amigo. Você está tratando de nação pra nação. E a Suprema Corte para nós é uma coisa muito importante, Trump", respondeu o presidente brasileiro, de acordo com seu relato no evento do SBT News.

Segundo os jornais O Globo e Folha de S. Paulo, Lula enviou uma mensagem direta ao presidente Trump agradecendo pela retirada das sanções.

Reação da base do governo

Parlamentares da base do governo viram a retirada da sanções como uma derrota do bolsonarismo.

"É uma vitória da diplomacia de Lula e uma prova de solidez da nossa democracia. Expõe o fracasso da campanha bolsonarista de tentar deslegitimar o Brasil no exterior e atacar a nossa soberania", afirmou o senador Humberto Costa (PT-PE) nas redes sociais.

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O líder do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias (PT), chamou a medida de uma "derrota histórica dos traidores da pátria que tentaram negociar sanções internacionais, revogação de vistos, tarifas e a chamada 'pena de morte financeira' contra o ministro".

Já o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR) atribuiu a vitória à "química" entre o presidente Lula e Trump, fazendo referência a uma fala do presidente americano, durante a Assembleia Geral da ONU, de que havia uma "química excelente" entre ele e o líder brasileiro.

"Nova vitória da diplomacia do presidente Lula. Química continua produzindo bons resultados", afirmou o parlamentar.

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